A política está sendo virada do avesso no mundo contemporâneo. As bases do sistema representativo clássico estão sendo erodidas. Os paradigmas ideológicos do passado vivem crise terminal. O mundo das ideias precisa ser reinventado.
A sociedade do Século XXI é diametralmente diferente do universo que envolvia a democracia em tempos passados. A estrutura social era mais nítida em sua clivagem. Os conceitos de esquerda e direita eram mais nítidos. Hoje a sociedade é diversa, fragmentada, plural. Sindicatos se esvaziam. Partidos políticos perdem a capacidade de vocalizar o interesse dos cidadãos.
Múltiplos movimentos autônomos e independentes se organizam. Ambientalistas, gays, católicos, evangélicos, mulheres, coletivos culturais, moradores de bairro se organizam a margem dos partidos e das instâncias formais. Sem falar na participação direta e isolada das pessoas nas redes sociais.
Os sintomas do esgotamento do sistema e dos partidos tradicionais se manifestaram em múltiplos momentos e países. Mas, talvez, o exemplo mais claro e representativo desse novo momento da democracia mundo afora seja a recente eleição francesa.
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O recém-eleito presidente Emmanuel Macron foi funcionário público, banqueiro, secretário-geral adjunto do presidente Hollande e ministro da Economia do primeiro-ministro Manuel Valls. Ao ver o esgotamento do socialismo francês, fundou o partido “En Marche!” (“Em Marcha!”) em 2016 para abrigar sua candidatura presidencial.
PublicidadeDe olhos postos no futuro, desenhou um programa ousado e inovador. Enfrentou o populismo de extrema-direita e de extrema-esquerda e também os decadentes e tradicionais socialistas e republicanos. Estabeleceu uma relação direta e afirmativa de comunicação com os eleitores. Ganhou as eleições de maio de 2017 sem apoio de nenhuma estrutura parlamentar ou partidária consolidada, com 66% dos votos.
E agora, em junho, obteve uma inacreditável vitória nas eleições parlamentares. Apesar de uma abstenção altíssima, o novíssimo “Em Marcha!” elegeu 361 dos 567 deputados. As forças tradicionais, republicanos e socialistas, despencaram para 126 e 46 cadeiras, respectivamente. E mais, a renovação fica patente em outros números: 424 eleitos nunca foram deputados e 233 mulheres venceram as eleições. A média de idade caiu de 54 para 48 anos.
Aqui, no Brasil, os traços universais de esgotamento da tradicional democracia representativa se agravam com a crise econômica e as revelações da Lava Jato. Que os grandes partidos brasileiros ponham as barbas de molho. Quem não mudar, inovar e ousar perderá o bonde da história. Quem será o nosso Macron?