Soraia Costa
Primeiro homossexual assumido a ser eleito para o Congresso, Clodovil Hernandes (PTC-SP), 70 anos, causou polêmica antes mesmo de ser diplomado. Em entrevista ao jornal argentino Perfil, insinuou que poderia vender seu voto, dependendo do tamanho da oferta. O comentário suscitou declarações iradas, incluindo a ameaça de abertura de processo de cassação por quebra do decoro parlamentar (leia mais). Um sinal de que seu mote de campanha – "Brasília nunca mais será a mesma" – talvez seja menos exagerado do que parecia. O episódio também lhe rendeu o cruel apelido de "Clodô Vil", dado por um indignado leitor da Folha de S. Paulo.
Zen, ele ri da confusão que costuma provocar. Em entrevista exclusiva que deu na última segunda-feira ao Congresso em Foco, disse: "Todo mundo tem um preço. Por exemplo, se você tem um filho e o PCC rapta seu filho, você não se vende? Você se vende. Essa coisa heróica de Isabel de Espanha, a rainha que se sacrificou, já não existe mais", filosofa. Mas garante: "Não vou fazer nenhuma falcatrua para ter dinheiro, eu não preciso disso".
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Brindado com a terceira maior votação de São Paulo para a Câmara dos Deputados, 493.951 votos, Clodovil fez a campanha dizendo não saber que propostas iria defender. Eleito, prometeu apenas aparecer "chiquérrimo" na solenidade de posse. Para este site, ele resumiu em uma frase seu compromisso com quem o elegeu. "Minha intenção exata é ser divertido", afirmou, pouco depois de teorizar que "o sério não é nada, não é uma roupa de tergal cinza, é a atitude que você tem na sua vida, que é uma coisa baseada numa educação de antes".
Como acha "pequeno" o salário de deputado, de R$ 12,8 mil, Clodovil manterá o trabalho como artista teatral e continuará fazendo seus desenhos. Ainda não sabe se conciliará essas atividades com a de apresentador de TV. Certo mesmo é que não pretende retomar a carreira de costureiro e estilista. Declarando-se fã da senadora Heloísa Helena (Psol-AL), também anuncia que manterá em segredo seu voto no segundo turno das eleições presidenciais.
Clodovil entre aspas
Ao visitar ontem o Congresso Nacional pela primeira vez, Clodovil deu nova prova de que sua maior arma é o deboche. Dentro de um impecável terno bege, ofereceu com prazer ao batalhão de jornalistas que o cercaram mais uma frase de efeito. Perguntado como se vestiria para a posse, respondeu: "Estou vendo se é melhor vir com uma bolsa, uma mala, uma Louis Vuitton ou uma sacola das Casas da Banha, que não quero me atritar com ninguém".
Pela sua constante disposição para disparar afirmações controvertidas, no entanto, é pouco provável que Clodovil não se veja envolvido em polêmica. Na entrevista ao Congresso em Foco, condenou as paradas gays e os "direitos bobos" nelas reivindicados, como a união civil entre pessoas do mesmo sexo: "Reivindicar o casamento, que já é uma instituição falida até para um homem e uma mulher, imagina entre dois homens ou duas mulheres!".
Ele prosseguiu: "Isso é uma bobagem, não leva a nada. Isso agora é uma mídia tonta da qual precisam o George Michel e o Elton John, porque são pessoas que precisam de um público muito grande, mas não têm estrutura, então qualquer coisa vale como publicidade".
Muitas vezes adotando um tom algo filosófico, Clodovil falou ainda de povo, promessas eleitorais, mulher, Lula, família, preconceitos e até futebol e Carnaval. Em tom de confidência, também revelou: "Eu soube, por exemplo, que alguns parlamentares teriam dito que não freqüentariam o mesmo toalete que eu. É tão agressivo isso, tão agressivo. Mas seria verdade? Em compensação, eu soube de um deputado que não foi reeleito e me ofereceu o gabinete dele. Então tem todo o tipo de gente".
Tem, e tem todo tipo de parlamentar. Mas, como você verá na íntegra da entrevista reproduzida a seguir, Clodovil Hernandes é o único exemplar de uma espécie de congressista que parece de fato ter vindo para divertir, não para explicar.
Por que o senhor resolveu se candidatar? O senhor já tem propostas?
Eu não tenho propostas e nem poderia ter. Nunca fui deputado, é a primeira vez. Não me candidatei por vontade própria, fui induzido a ser candidato, mas sei que, uma vez eleito, tenho que trabalhar para o povo. É isso que um funcionário público deve pensar em primeiro plano. Quem nos coloca no emprego é o povo e quem vai nos pagar também é o povo. Isso é difícil de realizar na cabeça de muitos porque todos nós temos manias e achamos que foi por nós que fomos eleitos, mas na verdade não foi. Foi o todo. Tanto é que tenho para mim que as razões vão se manifestar um dia, mas de que forma eu não sei. Eu sou uma pessoa que acredito muito no transcendental, eu não sou religioso de igreja nenhuma, mas acredito em Deus como protetor do universo. Foi ele que fez essa maravilha que é esse universo que aí está e o presente da vida é a gente encontrar a beleza. A beleza eterna e maior de Deus. A beleza está em tudo, inclusive nas atitudes. Eu acho que seria isso a minha proposta. O que eu quero fazer é aprender e depois colocar meu aprendizado a serviço do povo. Porque eu não sou nada sozinho no mundo, nenhum de nós é. Agora eu sei muito bem de todas as coisas que a gente ouve falar, mas até que ponto poderíamos provar que isso é verdade nem me interessa. Notícias são notícias, comprovações são outra história. Então o que eu vou fazer? Eu vou chegar como quem nada sabe, até porque na verdade eu nada sei, e vou prestar atenção. Porque "em curral alheio, boi é vaca". Agora ignorante eu não sou, não sou analfabeto. Tenho um temperamento explosivo e acho que foi isso que me trouxe até aqui e me fez ter 500 mil votos espontâneos. O meu currículo é limpo e não precisei gastar dinheiro para ser eleito. Portanto, o que fica comprovado é que não precisa usar dinheiro para chegar à política. Até porque se você pega dinheiro antes para conseguir um emprego, vai ficar endividado e terá que pagar depois.
Quanto o senhor gastou na sua campanha?
Na primeira etapa, foram R$ 26,60.
Só?
Só. Pelo menos foi o que o partido me disse. Então tudo que estiver para acontecer, de bom ou de ruim, porque não posso prever o que me aguarda pela frente, tudo o que possa acontecer será de responsabilidade do meu partido porque foram eles que me elegeram. Mas da mesma maneira que eles me ajudaram a colocar em ordem todas as coisas, depois eles cobram. Até porque é um partido pequeno, a gente não tem dinheiro e nem sei bem como funciona. Mas na verdade eu tenho muito mais responsabilidade hoje em dia do que tinha antes. Porque antes eu podia simplesmente largar os meus empregos e ir embora e tava tudo certo, mas agora eu não posso. Fui contratado por quatro anos e por 500 mil patrões.
Por que o senhor decidiu se candidatar?
Todo mundo gosta muito de falar mal de todo mundo, mas porque as pessoas não se propõem a ir lá para ver como é que é? Claro que muita gente boa se candidatou e não conseguiu se eleger e muita gente que supostamente não é tão boa e que tem passado confuso, misturado com essa desonestidade que pairou no ar aí, essas pessoas voltaram. É por isso que eu digo, o povo é muito estranho. Por isso eu não prometi nada, porque, se você promete, depois fazem tudo para que não consiga cumprir seu destino. Então não prometo nada e vou fazer tudo que achar conveniente. Como não sou idiota, nessa primeira etapa vou me ocupar de projetos em que eu não dependa de ninguém, dependa exclusivamente do meu trabalho e depois vou aprendendo. Estou indo a Brasília dia 10 [ontem] para aprender, dar uma volta e conhecer algumas coisas. O aprendizado vem do convívio, não adianta. Você pode estudar na faculdade que quiser, mas apenas com a prática vai se tornar um bom profissional.
O senhor já conhecia Brasília?
Tinha uma grande amiga em Brasília, então fui à cidade visitá-la.
O senhor chegou a visitar o Congresso?
Não, eu nunca fui ao Congresso. Estou indo agora.
Então vai conhecer o Congresso como deputado eleito…
Não sei se eleito, porque não tenho o diploma. A eleição vem da vontade do povo que representa aquilo que a gente chama de Deus, mas aí a gente esbarra naquilo que o homem inventou para o mundo, as leis, e a gente nunca sabe o que se passa na cabeça das pessoas. Tanto que quando eu tenho um problema para resolver, digo: "Para a pessoa a Justiça, e para os inimigos a lei".
O que o senhor acha dos parlamentares atuais?
Eu não acho nada, absolutamente nada. Não tenho esse direito. Eles é que acham. Como tenho vida pública há muitos anos, já escutei coisas desagradabilíssimas, mas… fazer o quê?
Como o senhor imagina que será sua convivência com os demais deputados?
Eu não sei. Não os conheço, não tenho como saber.
Falando um pouco de sua área, o senhor acha que os parlamentares se vestem bem?
Eu tenho impressão que não, mas isso é outra história. Não sou eu que vou influenciar em nada. A roupa faz a pessoa, de uma certa forma ela coloca a pessoa no lugar em que está realmente no mundo. Às vezes uma pessoa luminosa é elegante, porque ela é elegante de nascimento, mas ela não é chique porque não tem envolvimento com essa coisa produzida, que é o moderno, o último grito da moda. Mas isso tudo é uma bobagem. Um homem que tem como obrigação cuidar da vida alheia não pode se preocupar com isso. É a última preocupação que ele tem. Eu me ocupava muito com isso quando era minha profissão primeira, mas agora eu não posso me ocupar disso. Isso tudo é uma bobagem.
Mas, logo que foi eleito, o senhor disse que sua preocupação seria chegar a Brasília "chiquérrimo"…
Isso é deboche. As pessoas não entendem. Quando falei no jornal que não há políticos em Brasília, as pessoas acharam que eu era um alienado, como se eu fosse mal-informado. Não entenderam o subtexto. E perguntaram: "Ah, mas o que você vai fazer?" Vou chegar em Brasília chiquérrimo, só isso. Eu não tenho a vivência. Estou indo para uma universidade, se é que é uma universidade. Estou indo para uma escola nova. Vou ter que aprender inclusive o caminho. Tem um caminho por aí e eu não sei, eu não posso. Claro que entro super conhecido, mas não conheço nada. Então não me meto à besta em nada. Talvez, quem sabe, um dia possa dizer: "Olha, eu sei um pouco". Porque na verdade por mais que a gente estude e tenha experiência de vida, todo ser humano morre analfabeto, porque o universo é muito grande. E como bem disse Shakespeare, existem mais mistérios entre o céu e a terra do que pode sonhar a nossa vã filosofia, e isso é uma grande verdade. Não posso desvendar certos mistérios. Aliás, não tenho nem esse direito. Agora, se uma coisa for desonesta e passar por mim e eu analisar e chegar à conclusão de que é desonesta, serei a primeira pessoa a dizer e tornar público esse fato.
O senhor disse em entrevista publicada no jornal argentino Perfil que todo mundo tem um preço. O senhor aceitaria dinheiro para aprovar propostas?
Eu disse assim que todo ser humano tem um preço e que seria uma coisa horrorosa vender o país por R$ 30 mil. Com US$ 30 milhões, se você quer ser útil para alguém, você ajuda muita gente. Por que o que significa vender o país? Votar a favor disso ou daquilo? Foi isso que eu disse. Todo mundo tem um preço. Por exemplo, se você tem um filho e o PCC rapta seu filho, você não se vende? Você se vende. Porque não tem jeito. Existem envolvimentos que você não pode evitá-los. Essa coisa heróica de Isabel de Espanha, a rainha que se sacrificou, já não existe mais. O maior sacrifício que poderia fazer estou fazendo agora, indo para um lugar tentar ser para as pessoas exatamente o que queria que elas fossem para mim. A solidariedade é uma coisa muito bonita. Essa autoridade boba nossa que pensa que manda em alguma coisa não conhece a palavra piedade, não conhece o amor ao semelhante, a fraternidade. Coisas que as pessoas poderosas esquecem para serem poderosas. Mas ninguém é poderoso. Isso é uma passagem. É uma bobagem. A gente nasce por outras razões.
O que vai mudar em sua vida com essa nova missão?
Vai mudar não, já está mudando. Eu soube, por exemplo, que alguns parlamentares teriam dito que não freqüentariam o mesmo toalete que eu. É tão agressivo isso, tão agressivo. Mas seria verdade? Em compensação, eu soube de um deputado que não foi reeleito e me ofereceu o gabinete dele. Então tem todo o tipo de gente, mas aonde eu conheci esse senhor? Na casa de pessoas que foram muito importantes para a formação da vida dele. Então a gente tem que analisar, pôr na balança, porque se a gente for gritar para tudo o que ouve falar, a gente vai enlouquecer.
O senhor acha que sofrerá preconceito dentro do Congresso, principalmente após saber dessas declarações?
Mas seria verdade isso? Eu acho que sofrerei preconceitos da mesma maneira que eles sofrerão o meu. Porque eu tenho preconceitos também, assim como falei da roupa e tudo. Mas não vou usar isso, porque não me interessa. Infelizmente, o ser humano revida, e, se tem uma possibilidade, responde até muito pior do que a ofensa que recebeu.
Seus votos ajudaram a eleger o coronel Paes de Lira (PTC) que é conhecido por ter idéias conservadoras. O que o senhor achou disso?
Eu também devo ser conservador de alguma forma. Ele é que tem que agradecer por ter entrado sem ter despendido nada. Mas ele nunca me telefonou, até porque acho que o chefe do partido não deixaria. O presidente do partido, por mais que ele diga que não, manipula algumas coisas para defender os interesses do partido. Esse senhor [o coronel] nunca me agradeceu, mas também não fui eu o responsável. Fui só um meio para que ele chegasse, mas não posso pedir a ninguém para ser delicado. Cada um é como quer.
O senhor pretende tentar algum programa na TV Câmara?
Não, não… já tenho acertado um programa na TV aberta. Mas nem sei se posso aceitar porque tenho vínculos que não me permitem que me desfaça tão facilmente. Vou conversar agora para saber se posso aceitar o convite para o programa.
O senhor não está mais trabalhando como estilista…
Mas vou continuar trabalhando paralelamente com o teatro, com os desenhos, com as coisas que eu faço, porque eu não posso viver única e exclusivamente com o dinheiro de salário de deputado porque ele é pequeno para mim. Mas eu já digo isso antes porque não vou fazer nenhuma falcatrua para ter dinheiro. Eu não preciso disso.
Vai trabalhar mais então?
Mas isso não tem importância, porque enquanto eu tiver força, saúde e essa vontade de agradecer a Deus por essa vida e estar aqui apreciando essa beleza que é o universo, dentro das limitações que nós temos, é evidente, para que eu preciso me preocupar com uma coisa que é só uma essência? Um sujeito que não sabe ter dinheiro não saberá nunca. A pobreza nunca foi uma desonra. Não é ter que resolve nada, é ser que resolve.
O senhor pretende levantar a bandeira da homossexualidade no Congresso, já que será o primeiro deputado federal a assumir essa opção sexual?
Isso não precisa de bandeira, eles não entendem. Não é uma doença, um preconceito de raça e cor e credo. Isso precisa unicamente de dignidade no sentido da vida, porque qualquer pessoa que tem um problema qualquer é filho de um casal. Ninguém é um tumor. Agora reivindicar esses direitos bobos por meio dessas paradas gays, que nada são, direito de casamento… Agora, por exemplo, reivindicar a união de duas pessoas no sentido da divisão dos bens materiais conquistados juntos, isso está certíssimo e tem que acontecer. Temos que batalhar por isso porque é um direito humano. Mas reivindicar o casamento, que já é uma instituição falida até para um homem e uma mulher, imagina entre dois homens ou duas mulheres! Isso é uma bobagem, não leva a nada. Leonardo da Vinci não questionou isso, Garcia Lorca, Santos Dummont, Michelangelo e tanta gente maravilhosa… nunca questionaram isso porque não há necessidade. Isso agora é uma mídia tonta da qual precisam o George Michel e o Elton John, porque são pessoas que precisam de um público muito grande, mas não têm estrutura, então qualquer coisa vale como publicidade. As pessoas hoje em dia fazem qualquer coisa para estar na mídia. Isso não vai dar categoria a eles de jeito algum. O que precisa ter reestruturado é a formação da família, porque é a tal história. Esses meninos são postos para fora de casa de uma maneira cruel e, quando eles enriquecem, a família quer o dinheiro deles. Mas não é pelo fato de ser homossexual que precisa fazer alguma coisa. Não. É o direito do ser vivo. Mas tudo no ser humano vira algazarra. Cadê o nosso futebol maravilhoso que era humilde, que era do povo? Já não é mais. Cadê o nosso Carnaval, que era uma coisa profana e onde as pessoas exercitavam a beleza, sacrificavam-se o ano inteiro por uma fantasia? Hoje em dia, é tudo diferente. E por quê? Porque o ser humano estraga tudo que ele tem de bonito e de puro e em nome de algumas vontades, de algumas bobagens que não são absolutamente nem progresso, nem liberdade, nem coisa nenhuma.
O senhor já pensou em como irá decorar seu gabinete? Pensou em algum motivo em especial? A senadora Heloísa Helena, por exemplo, usou motivos religiosos. E o seu? Como será?
Adoro a Heloísa Helena como pessoa. Ela é extremamente idealista, mas ao mesmo tempo extremamente feminina. Ela não mistura essas coisas e isso é uma qualidade que eu adoro, porque mulher que se vulgariza eu não gosto. Porque as mulheres têm o órgão sagrado e não podem fazer disso uma carne urinada. E a gravidez, essa maravilha, essa coisa mágica que ninguém nunca vai entender. Porque o homem tem inveja da mulher, o homem é o predador da mulher. A mulher é um ser que em essência é muito mais próximo de Deus por razões óbvias. Veja que o predador da mulher é o próprio homem, porque ela é mais bonita no universo do que ele. Nos animais irracionais, a fêmea é sempre mais feia do que o macho, porque ela tem que ser protegida dos predadores. Gosto de pensar sobre a vida, pensar não custa nada, não paga imposto. Aliás, pensamento é o único caminho que se tem para Deus.
Mas agora me conte do seu gabinete, começamos a falar da Heloísa Helena e o senhor não me contou como será a decoração do gabinete.
Será bonito, mas será discreto. Porque na verdade minha casa é muito recherché, ou seja, é muito enfeitada. Eu já tenho a natureza que é exuberante lá em casa e eu coloco coisas na natureza e eu brinco com essas coisas. Por exemplo, minha privada é atrás de uma moita, mas tem uma coisa de bom gosto. Mas não vou para Brasília para fazer figuração, eu já sou uma figura, mas sou uma figura devido às profissões que eu tive. Agradeço a Deus pelo meu talento e sei que nunca vou passar necessidade porque trabalho muito e não tenho vergonha de trabalhar. A nobreza do trabalho, essa invenção chamada trabalho é para que você não seja louco, porque a cabeça desocupada é o sótão do demônio. O trabalho é uma honra e a gente tem que procurar trabalhar naquilo que tem prazer. As pessoas que não têm prazer com o trabalho estão sempre revoltadas. Se você promete, as pessoas induzem você a não cumprir o que você falou. O universo já fez certo. Tem idiomas distintos, diferentes cores de raças, religiões diferentes e isso já faz a separação por si, porque se tivéssemos o inconsciente coletivo como um todo, nós desvendaríamos o universo. Porque o inconsciente coletivo é a maior força de Deus. Tem que pensar no transcendental, de uma maneira meio filosófica para poder levar a vida para sempre, porque a gente tem que nascer e morrer.
Podemos concluir que Brasília conhecerá uma versão mais séria do Clodovil?
Não. Eu usarei sempre a diversão porque o sério não é nada, não é uma roupa de tergal cinza. É a atitude que você tem na sua vida, que é uma coisa baseada numa educação de antes. É a honra que vem desde os familiares, para ficar de pé. É a honra que tem pela vida. E não há nada que me obrigue a ficar desonrado, porque a minha opção sexual é uma coisa para ser conversada com Deus, com outro ser humano de jeito algum, porque isso eu não admito. Me perguntaram se quando eu chegar em Brasília vou soltar a franga e eu respondi: "Querido, eu não tenho franga, tenho uma galinha velha e que já está no poleiro". Não sei quem foram e nem por que essas 500 mil pessoas votaram em mim, mas não vou decepcioná-las. A intenção exata é ser divertido. Gosto de rir com os outros, mas não gosto que riam de mim. Mas isso é uma coisa que a gente aprende a manipular de uma forma que a gente não se incomode. Mas tem uma diferença muito grande entre ouvir e escutar. Ouvir é mecânico e faz parte da natureza humana. Escutar você faz com o coração.
Quem o senhor apoiará para o segundo turno?
Não posso contar porque o voto é segredo. Ninguém me pediu para fazer campanha, então estou quietinho. Acho que eles têm um certo receio de mim, porque não consigo ficar calado.
Mas o senhor já disse, em entrevistas anteriores, que não gosta do presidente Lula…
Um homem que faz nascer criança para ter mais votos no Nordeste e depois dá R$ 80 para ela se sustentar, sem melhorar as condições para que tenha uma vida melhor! Isso é um absurdo! Sem contar que ele não tem nem bom português. Fala tudo errado. Como poderia apoiar um homem desses? Mas isso também não quer dizer que darei meu apoio a Alckmin. Meu voto é secreto. No primeiro turno não estive nem perto de fazer campanha.