Segundo manchete principal do jornal O Globo desta sexta-feira (13), a procuração dava ao peemedebista amplos poderes para, por meio de recursos depositados em conta aberta no banco Merril Lynch, fazer aplicações financeiras em fundos e no mercado futuro. Mesmo com a restrição de não poder sacar o dinheiro dessa conta, Cunha podia também fazer investimentos de curto prazo e negociar títulos, moedas e até metais preciosos.
Leia também
Em entrevistas à imprensa, Cunha tem negado ser o titular das contas, insistido em que não podia movimentar os recursos nelas depositados e afirmado que o banco não o reconhecia como beneficiário dos ativos à disposição. Essa versão se sustentava no fato de que as contas eram oficialmente operadas pelos chamados trusts – empresas formalmente constituídas para administrar ativos em nome de pessoas físicas e jurídicas.
Segundo a reportagem assinada por Francisco Leali e Eduardo Bresciani, a procuração, com data de 10 de junho de 2008, é assinada por um representante legal da trust Orion SP, detentora da conta no Merrill Lynch da Suíça. O documento dá a Cunha poderes legais para fazer os investimentos e demais movimentações comerciais e financeiras, desmontando a estratégia de defesa do deputado.
“O procurador é/está autorizado a comprar e vender todos os tipos de valores mobiliários, títulos de crédito, moedas, metais preciosos, veículos de investimento (fundos), em dinheiro ou outra modalidade, para fazer investimentos de curto prazo em caráter fiduciário, sob risco exclusivo do Principal, em qualquer país e em qualquer moeda, para realizar quaisquer transações abrangidas nos mercado de opções e futuro (quaisquer outros tipos de transações nos mercados de opções e futuro só podem ser realizadas se uma autorização específica é assinada)”, diz trecho do documento, que a Procuradoria-Geral da República (PGR) já encaminhou à denúncia formalizada no Supremo Tribunal Federal (STF) acusando Cunha por crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Complicação
PublicidadeCunha é um dos principais personagens da Operação Lava Jato no âmbito do STF, suspeito de ter recebido propinas milionárias do esquema de corrupção descoberto pela Polícia Federal na Petrobras. O dinheiro movimentado pelo peemedebista no exterior, segundo as investigações, são justamente fruto desse dinheiro desviado de contratos de empreiteiras com a estatal.
Em 12 março, menos de uma semana depois do início das investigações contra si no STF, o deputado foi espontaneamente à CPI da Petrobras e, diante de um colegiado repleto de aliados, disse jamais ter aberto contas no exterior e negou ter recebido “qualquer vantagem, de qualquer natureza” das fraudes na petrolífera. Diante dos desdobramentos da Lava Jato, Rede e Psol acusaram Cunha de ter mentido ao colegiado e, por isso, deram início no Conselho de Ética a um processo por quebra de decoro parlamentar contra o peemedebista, que perdeu significativo apoio entre seus pares e corre o risco de perder o mandato.
Leia mais na reportagem de O Globo
Leia também:
Extratos contrariam versão de Cunha sobre contas na Suíça