Não há como não ficar abismado com o que está ocorrendo no Brasil. É difícil chegar a uma conclusão, mas é fácil se indignar. Dá-se a impressão de que nas redes sociais impera a cretinice, a mediocridade, a idiotice, a imbecilidade, a hipocrisia, o preconceito, a violência verbal, o ódio e toda e qualquer tipo de intolerância. Poderia colocar outros adjetivos, mas paro por aqui.
Para os burgueses brancos e os idiotizados que se consideram burgueses, os únicos humanos que merecem ter direitos e vida dignas são eles próprios. O resto é o resto, chegando inclusive a serem considerados seres que devem ser repelidos ou colocados nas suas insignificâncias. Gente que não faz falta. Gente que pode rastejar ou morrer aos seus pés que não fazem nada mais do que merecer a humilhante morte. É assim que pensam, e este tipo de pensamento está impregnando a mente de muita gente desavisada. Mal sabem que poderão ser vitimas do pensamento que pregam.
Para o burguês e para muitos brancos, que pensam como os burgueses, os únicos civilizados são eles ou ideologicamente semelhantes a eles. Só eles são os homens educados e de bem. O resto são criaturas a serem repelidas. Gente que não faz falta, aliás, chegam a dizer e a escrever, que sem elas o mundo seria melhor.
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Quando pessoas com consciência clamam pelos direitos (humanos) de uma vida digna, são considerados defensores de bandidos. E bandidos, para eles, são todos aqueles que não pensam como eles. E, como não pensam como eles (fascistas), também merecem morrer.
Em nome de Cristo, sempre citando a bíblia, constroem o ódio, a violência e a intolerância. Em nome da defesa da família, apesar de alguns terem amantes e outros espancarem as esposas, destroem famílias e vidas. Em nome da moral (mesmo sendo imorais) discursam contra a cultura e a arte, muitos sem saber o que é cultura. E não conhecem ou não sabem o que é arte. Mas basta o discurso fácil contra a pedofilia, zoofilia e outras filias para ganharem apoio de ignorantes e imbecis.
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Para estes, mais vale o patrimônio que a vida. Que o diga os que lutam pela terra, como os índios, os quilombolas e os sem-terra. Não passa mês no Brasil que não tem, na média, meia dúzia de assassinatos no campo, por conflitos agrários.
O que está ocorrendo no Brasil é a deterioração total. É a negação da história. É a negação da vida. É a deterioração moral, ética e legal.
A deterioração chegou em um nível tal que policiais (como ocorreu no Rio de Janeiro) fazem selfies com traficante, como se estivessem numa festa.
Policiais tietando traficante. Policial tiete de traficante.
Enquanto alguns fazem selfies, outros abusam da memória e da história, como foi o caso da Polícia Federal, ao invadir o campus da Universidade Federal de Minas Gerais.
Irônicos com a história e com os que têm consciência, chamaram a operação de “Esperança equilibrista”. O título desta operação foi uma alusão à canção que Aldir Blanc e João Bosco fizeram em “honra a todos que lutaram contra a ditadura brasileira”, conforme nota publicada por João Bosco.
Foi mais um ataque à universidade e, neste caso, a Memória e a Verdade. Este é o país pós-golpe. O país que aprofunda o golpe e caminha a passos largos nos empurrando para o abismo. O país governado por ladrões.
Para alguns, como Fernando Segóvia, diretor da Polícia Federal, só uma mala com 500 mil reais “talvez” seja insuficiente para provar crime. Quantas malas precisarão levar para provar que é roubo?
Como cantam Aldir Blanc e João Bosco: “Caía a tarde feito um viaduto / E um bêbado trajando luto / Me lembrou Carlitos.
… E nuvens lá no mata-borrão do céu / Chupavam manchas torturadas / Que sufoco! / Louco, o bêbado com chapéu coco / Fazia irreverências mil / Pra noite do Brasil, meu Brasil.
… Chora a nossa pátria, mãe gentil”.
Chora: a noite voltou pro meu Brasil. A vida aqui nada vale: abertamente prega-se a morte e se mata.
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