“Se neste momento solene não lhes proponho um feriado comemorativo para a sacrossanta glória da burrice nacional, é porque todos os dias, graças a Deus, do Oiapoque ao Chuí, dos pampas aos seringais, ela já é gloriosamente festejada, gloriosamente festejada.”
A música “Sabor de Burrice”, de Tom Zé, que contém o discurso que uso como epígrafe neste artigo me veio à mente quando tomei conhecimento de que o vereador Thiago Ferro (Curitiba), marcou uma reunião com a Secretária Municipal de Educação de Curitiba para denunciar uma professora por estar ensinando “ideologia de gênero”, e em cuja turma haveria “um histórico de meninos usando saias”.
O inteligente bispo (não é de igreja católica) e vereador, inclusive, informa no seu Facebook que apresentou um projeto de lei da “escola sem partido”.
Se perguntar para o vereador, ou indivíduos que pensam como ele, o que é uma escola sem partido, a maioria vai se enroscar nas palavras e na incapacidade de elaboração e vai sair coisa do gênero “sou contra o bolivarianismo e contra ensinar menino a ser gay”.
Por maior que seja a incapacidade de elaboração que tenha para dar uma resposta inteligente, esse tipo de gente pode não saber, mas é um nazifascista como milhares de outros por esse Brasil afora, que pregam a perseguição a professores e professoras que ensinam crianças e adolescentes a pensar.
Leia também
Nazifascistas não toleram quem pensa, não toleram a liberdade de pensamento.
Esse tipo de vereador é daqueles conservadores e, uma parte deles nazifascistas, que decoram frases e/ou palavras sem saber muito bem o significado – como, por exemplo, dizer que profissionais da educação são agentes de partidos de esquerda que querem implantar a “ideologia de gênero”.
Sabe ele o conceito de ideologia? Talvez não saiba, mas o comportamento dele é ideológico e sua ideologia é a do nazifascismo.Impedir o debate sobre a questão de gênero significa diretamente defender a continuidade da educação machista e, consequentemente, a persistência da violência contra a mulher. Também é contribuir para a não superação do feminicídio, quando não do aumento do assassinato de mulheres.
A escola tem a obrigação de oferecer a meninos e meninas a informação e a oportunidade do debate sobre a diversidade cultural e comportamental de gênero, além de de ensinar que perante a lei todos (homens) e todas (mulheres) temos os mesmos direitos. Ensinar as crianças a ver que somos diferentes, mas que ninguém é melhor ou pior que o outro ou a outra.
Por mais preparo que tenha uma família para educar seus filhos e filhas, deve-se também ser ensinado na escola, pois este é o local onde a diversidade de pensamento, de informação e de cultura se faz mais presente.
O que os nazifascistas querem, pois se consideram os donos da verdade, é que ninguém pense diferente do que eles pensam.
Estamos em pleno século XXI, no qual a informação, num simples apertar de botão de um celular, entra nas casas e nas cabeças das pessoas. E querem alguns vereadores e deputados que professores e professoras não falem de gênero, de orientação sexual e de política.
Aliás, de politica eles querem que se fale. Querem que fale que o fascismo, o capitalismo e o machismo vão redimir a sociedade e que o mercado é que vai distribuir renda. Não querem que professores e professoras ensinem a pensar, pois as pessoas que pensam, por si só, se libertam do jugo dos dominadores.
Comecei com o epigrafe da música do Tom Zé para dizer que os políticos que pensam como esse vereador, ao contrário do que muitos podem pensar, não são burros, são fascistas. Portanto, precisam ser olhados e combatidos. Sabemos o que o nazifascismo construiu no mundo: Hitler e o holocausto.
Termino citando mais um trecho de “Sabor de Burrice”. Cito-o porque neste início de século XXI, além do crescimento do nazifascismo há também o crescimento da burrice. E parece que ela tem um sabor especial:
“Veja que beleza / em diversas cores / veja que beleza / em vários sabores / a burrice está na mesa / refinada, poliglota / ela é transmitida por jornais e rádios / mas a consagração / chegou com o advento da televisão.”
Leia mais sobre o assunto no texto do autor intitulado “Construtores do fascismo”, publicado aqui em 26 de maio de 2016