O deputado federal e presidente licenciado do PT, Ricardo Berzoini (PT-SP), deve ser ouvido pela Polícia Federal na próxima terça-feira no inquérito que investiga o escândalo do dossiê contra políticos tucanos. Além de Berzoini, a PF quer ouvir o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), candidato do PT derrotado ao governo de São Paulo, e o empresário Abel Pereira.
Por ser parlamentar, Berzoini tem direito ao foro privilegiado e pode agendar, de acordo com suas preferências, a data e local do depoimento. Investigações da PF apontam indícios de que o petista tinha conhecimento da compra do dossiê que envolveria políticos do PSDB com a máfia das ambulâncias. Contudo, ainda não existem provas de que Berzoini tenha sido o mandante da compra do dossiê.
Ontem, Berzoini disse que esperava a convocação desde o início do escândalo. “É natural. Desde o começo eu já contava com essa providência da PF”. Ele não confirmou, no entanto, a data em que falará à PF e preferiu não antecipar o conteúdo da conversa que terá com a polícia. “Depoimento a gente guarda para o depoimento”.
Segundo da lista?
Se for confirmado o depoimento, Mercadante pode ser o segundo integrante da cúpula petista que terá de dar explicações sobre a origem dos R$ 1,7 milhão (em notas de dólar e real) que seriam usados na compra do dossiê montado pelos empresários Darci e Luiz Antonio Vedoin. Os papéis seriam entregues a Hamilton Lacerda, ex-coordenador-geral da campanha de Mercadante para o governo de São Paulo. Mercadante desligou Lacerda ao saber da trama.
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Ontem à noite, o senador divulgou nota afirmando que desde o início das denúncias tem manifestado seu interesse em esclarecer este episódio do dossiê. “Se a PF entender que tenho alguma informação importante a contribuir, estou à disposição. Ninguém mais do que eu tem interesse em que isso se esclareça o mais rápido possível, para ficar demonstrado que eu jamais me associaria a um fato como esse’, afirmou. ‘Estamos num momento eleitoral, acho que esse tipo de procedimento tem que ser muito cuidadoso para que não haja instrumentalização política”, diz a nota.
Já o depoimento do empresário Abel Pereira, ligado ao ex-ministro da Saúde e atual prefeito de Piracicaba, Barjas Negri (PSDB), deve ser prestado na sexta-feira. Abel Pereira é acusado pela família Vedoin, em entrevista à revista Istoé, de atuar como intermediário para liberação de emendas de interesse da máfia dos sanguessugas no governo FHC.
São investigadas denúncias de que Abel teria recebido propina de Luiz Antonio em troca do tráfico de influência, por meio de depósitos bancários feitas pela Klass, ligada à Planam, a contas indicadas por ele
Dossiê: deputado revela detalhes da investigação
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG), integrante da CPI dos Sanguessugas, revelou ao jornal Correio Braziliense que o delegado da Polícia Federal (PF) do Mato Grosso Diógenes Curado, responsável pelas investigações do dossiê contra o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), já tem uma história montada sobre o caso.
De acordo com o parlamentar, o esquema não representou uma tentativa de reverter a disputa pelo governo paulista, pois teve início antes de agosto (quando começou a propaganda eleitoral gratuita e a eleição passou a pender para a vitória de Serra).
Além disso, segundo o deputado, a operação contou com a participação ativa da cúpula da campanha do presidente Lula, incluindo o deputado Ricardo Berzoini, que se licenciou do cargo de presidente nacional do PT em razão da repercussão do episódio.
Novela do dossiê
Conforme a versão apresentada à comissão, o ex-diretor de gestão de risco do Banco do Brasil Expedito Antônio Veloso foi a primeira pessoa a se movimentar, reunindo informações sobre a relação dos acusados de participarem da máfia das ambulâncias com o empresário paulista Abel Pereira.
Abel, na época, era muito próximo do ex-ministro da Saúde e atual prefeito de Piracicaba (SP), Barjas Negri (PSDB). Graças a essa relação, o empresário funcionava como laranja no pagamento de propinas a Negri.
Essa descoberta era exatamente o que o PT procurava para culpar o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) pelo esquema dos sanguessugas. A partir da confirmação, Expedito teria alertado o ex-analista de risco e mídia da campanha do presidente Lula, Jorge Lorenzetti, sobre as informações.
Depois disso, Expedito foi três vezes a Cuiabá e negociou pessoalmente com Luiz Antônio Trevisan Vedoin, um dos donos da Planam, o conteúdo do dossiê, assim como uma entrevista dele atestando a autenticidade da documentação a algum veículo de amplitude nacional.
Segundo concluiu o delegado da PF, Lorenzetti acompanhou Expedito em pelo menos duas dessas viagens. Inclusive o amigo pessoal de Lula teria sido quem negociou o preço da armação com Vedoin.
Com a autorização de Berzoini, Lorenzetti teria encarregado o ex-coordenador da campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo paulista, Hamilton Lacerda, de arrecadar o dinheiro necessário para executar o esquema.
"O que eles levantaram não era dinheiro lícito, era dinheiro ilícito, de caixa dois, vindo de várias fontes diferentes", afirmou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), durante a explicação.
Por fim, na hora da entrevista e da troca dos documentos pelo dinheiro, outro membro do comitê de Lula, Oswaldo Bargas, foi acionado. Ele teria de arranjar a publicação da entrevista em alguma grande revista. A entrevista foi oferecida à revista Época, que não se interessou. Depois a negociação passou a ocorrer com a IstoÉ, que aceitou a proposta.
Paralelamente, Hamilton reunia o dinheiro pedido pelo chefe da máfia das ambulâncias. De acordo com o deputado, nesse ponto a PF se encontra em uma espécie de zona escura, pois ainda falta encaixar algumas peças à história.
Em nota, Berzoini critica reportagens de jornais
O deputado federal e presidente licenciado do PT, Ricardo Berzoini, divulgou ontem (11), no site do PT, uma nota pública na qual critica reportagens dos jornais Correio Braziliense e Estado de Minas.
De acordo com a nota de Berzoini as reportagens, que afirmam que o petista seria o mandante da compra do dossiê contra candidatos do PSDB, são "absolutamente inverídicas, não guardando relação sequer com o conteúdo das próprias reportagens publicadas internamente".Berzoini ainda afirma que vai "recorrer ao Poder Judiciário para ver restabelecida a honra violada".
Nota Pública
"Em relação às reportagens publicadas nos jornais Correio Brasiliense e Estado de Minas, com destaques principais de capa, tenho a informar:
1) As manchetes de 1ª página CPI: Berzoini mandou comprar o dossiê (Correio Braziliense) e Berzoini autorizou dossiê (Estado de Minas) são absolutamente inverídicas, não guardando relação sequer com o conteúdo das próprias reportagens publicadas internamente.
2) A CPI, a Polícia Federal e outras autoridades, que têm competência para investigar os fatos, em nenhum momento exararam as conclusões que as manchetes e as reportagens tentam infirmar.
3) O conteúdo das reportagens, escudado em supostas fontes, também não corresponde à verdade dos fatos, avançando para conclusões que não respeitam os critérios legais de um processo de investigação.
4) Diante da violência e da irresponsabilidade de tais publicações, o singelo desmentido não basta, só restando ao cidadão de bem recorrer ao Poder Judiciário para ver restabelecida a honra violada.
5) Quanto aos fatos investigados, reitero o conteúdo de minha nota da última sexta-feira: Reafirmo que jamais incentivei, determinei ou concordei com nenhuma forma de ilegalidade ou irregularidade nos assuntos que estiveram sob a minha responsabilidade, razão pela qual tenho total interesse no aprofundamento e conclusão das investigações".
Brasília, 11 de outubro de 2006.
RICARDO BERZOINI"