A Polícia Federal encontrou ontem as pessoas usadas como laranjas na compra dos dólares que seriam usados na compra do dossiê Vedoin. Extensa reportagem do jornal O Estado de S. Paulo revela que se trata de uma família da Baixada Fluminense, no Rio, com ramificações em Ouro Preto (MG). De acordo com a Polícia Federal, relata o repórter Alexandre Rodrigues, uma das envolvidas admitiu ter recebido comissão para emprestar nomes e dados pessoais de familiares para a compra dos dólares na corretora Vicatur, de Nova Iguaçu (RJ). Ontem, a PF apreendeu documentos na empresa. Os policiais apuram se há parentesco entre uma das sócias da corretora, Sirley da Silva Chaves, com a família usada como laranja.
O delegado federal Diógenes Curado, de Cuiabá, esteve ontem na Baixada Fluminense, onde ouviu integrantes da família de Levy Luiz da Silva Filho, funcionário licenciado dos Correios que vive num bairro pobre de Magé. Os nomes de pelo menos sete integrantes da família constam da lista de suspeitos obtida pelo Estadão com pessoas ligadas à investigação. O delegado ouviu Levy por uma hora e meia em sua casa. Na saída, afirmou apenas que, provavelmente, os familiares não sabiam que seus nomes estavam sendo utilizados pelos verdadeiros sacadores. Curado também não quis informar como os CPFs da família foram parar na casa de câmbio.
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Em entrevista por telefone, Levy Filho se disse surpreso com o envolvimento de seu nome no caso. "Não comprei e não sei nada sobre dólares." Ele disse que não sabe como os documentos da família podem ter chegado à Vicatur nem se lembrar de ter dado informações a ninguém. Afirmou ainda que não tem contato com políticos e nunca esteve na Vicatur ou com representantes dela. "Só vimos esse caso na televisão."
Procurado pela reportagem, o pai do funcionário dos Correios, Levy Luiz da Silva, de 72 anos, chorou ao falar sobre o fato de o seu nome e os de seu filho, de sua mulher e de outros parentes aparecerem na lista de sacadores de dólares da Vicatur. "Sempre tive muito capricho com meu nome. Sempre prezei minha honestidade", disse.
Levy contou que tem acompanhado pela TV as notícias sobre a investigação da origem do dinheiro do dossiê Vedoin. Ouviu que uma família poderia ter sido usada como laranja, mas disse nunca ter imaginado que pudesse ser a sua. Sem conter as lágrimas, afirmou temer que seus parentes paguem por crimes de poderosos. "Vi na TV que estão procurando laranjas, mas não sou eu que estou por trás daquilo. A corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Eu sou o lado mais fraco. Não tenho nada com isso, mas estou preocupado. Neste país, sempre o pequeno paga tudo. E eu sou um pequeno."
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