O coordenador de campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo, Hamilton Lacerda, foi afastado ontem do cargo por envolvimento no caso do dossiê contra políticos tucanos. O assessor admitiu que articulou a publicação de uma entrevista na revista Istoé em que os donos da Planam acusam o ex-ministro José Serra de envolvimento com a máfia das ambulâncias.
"Para mim, a questão básica é a seguinte: qualquer que tenha sido o nível de participação, sem a minha autorização, sem o meu conhecimento, sabendo que eu sou contra, era contra e serei contra, é uma quebra de confiança que eu não posso aceitar", afirmou Mercadante.
O candidato petista ao governo de São Paulo confirmou que tomou a decisão com a direção de sua campanha, incluindo o coordenador geral Paulo Frateschi, que também é presidente do PT paulista.
No fim da noite, Lacerda afirmou em nota que, no início de setembro, foi procurado por Jorge Lorenzetti para que entrasse em contato com "algum órgão de imprensa" para oferecer informações "sobre a máfia dos sanguessugas envolvendo políticos do PSDB".
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Hamilton Lacerda deixou o cargo após ser citado pela Istoé como intermediador da entrevista em que os Vedoins acusam José Serra de envolvimento na máfia dos sanguessugas.
Segundo a revista, outros dois petistas, Expedito Afonso Veloso, diretor da área de Gestão de Riscos do BB, e Oswaldo Bargas, ex-secretário de Berzoini, acompanharam a entrevista em Cuiabá. Em depoimento, Valdebran Padilha, preso com Gedimar Passos com R$ 1,7 milhão, confirma a participação de Expedito e relata dois encontros com ele. Gedimar também disse que o diretor do BB lhe entregou dinheiro.
O assessor fez questão de isentar Mercadante. "Por livre e espontânea vontade, procurei a revista Istoé para falar sobre o assunto. O candidato Aloizio Mercadante, que sempre condenou essa prática, não soube e nunca foi informado dessa minha iniciativa", diz Lacerda, no texto.
Confira a íntegra da nota:
"Sobre as informações divulgadas nesta quarta-feira, 20 de agosto, envolvendo meu nome, tenho os seguintes pontos a esclarecer:
1 – No início do mês de setembro fui procurado pelo sr. Jorge Lorenzetti. Ele me pediu para entrar em contato com algum órgão de imprensa porque dizia ter informações sobre a máfia dos sanguessugas envolvendo políticos do PSDB. Não me foi informado o nome das personalidades citadas.
2 – Por livre e espontânea vontade, procurei a revista IstoÉ para falar sobre o assunto. O candidato Aloizio Mercadante, que sempre condenou essa prática, não soube e nunca foi informado dessa minha iniciativa. Lamento ter cometido esse erro e aproveito essa nota para apresentar meus pedidos de desculpas.
3 – Indiquei, conforme o sr. Lorenzetti havia me falado, que os repórteres que foram investigar as denúncias seriam procurados quando chegassem ao Mato Grosso.
4 – É importante informar que, em nenhum momento, houve qualquer oferta de dinheiro, que nunca tive qualquer encontro e que sequer conheço qualquer membro da Vedoin.
5 – Por conta das inúmeras tentativas existentes para prejudicar as candidaturas do PT e para evitar qualquer ilação envolvendo o candidato a governador do partido, comuniquei hoje o meu afastamento de qualquer atividade da campanha estadual".
Berzoini deixa coordenação da campanha de Lula
O presidente do PT, Ricardo Berzoini, não é mais o coordenador da campanha do presidente Lula (PT) à reeleição. Ele deixou o cargo ontem após uma reunião de emergência no Palácio do Planalto. O novo ocupante do posto é Marco Aurélio Garcia, assessor de assuntos internacionais da Presidência da República e primeiro vice-presidente do partido.
A cúpula da campanha convocou Berzoini no fim da tarde. O petista teve o nome envolvido no escândalo da compra de dossiês. A situação dele se complicou na última terça-feira, quando a revista Época divulgou nota para esclarecer que Oswaldo Bargas e Jorge Lorenzetti, ambos da campanha de Lula, se reuniram com um repórter da revista para oferecer um dossiê contra o tucano José Serra. Bargas, ligado a Berzoini, do qual foi secretário no Ministério do Trabalho, disse que o petista sabia do encontro, mas desconhecia a existência dos dossiês.
Pouco antes da reunião, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, havia dito que a decisão de afastar Berzoini ficaria a cargo do partido. "Se o Berzoini vai continuar ou não, isso diz respeito a uma atitude do partido", afirmou. O presidente do PT declarou, porém, que a palavra final seria de Lula. Segundo assessores, o presidente está irritado com todo o escândalo e teria dito a Berzoini que "se ele sabia de tudo", deveria ter informado à campanha antes de tudo vir à tona.
O PT divulgou nota para comentar o afastamento de Berzoini. O comunicado menciona os motivos que levaram ao afastamento do petista.
Veja íntegra da nota do PT:
"Nota à imprensa
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu hoje indicar o professor Marco Aurélio Garcia como coordenador de sua campanha, em substituição ao deputado federal Ricardo Berzoini, presidente do PT. Ao enviar esta indicação aos presidentes dos partidos que compõem a Coligação "A Força do Povo", o presidente destacou o importante trabalho que Berzoini desempenhou nos últimos meses, de fundamental importância para a consolidação da liderança de sua candidatura.
José Ramos Filho
Assessor de Imprensa
Coligação "A Força do Povo" (PT-PC do B-PRB)"
Diretor do Banco do Brasil pede afastamento do cargo
O diretor de Gestão de Riscos do Banco do Brasil, Expedito Afonso Veloso, comunicou ontem, por meio de uma carta, que pediu afastamento do cargo após seu nome surgir no caso da tentativa de venda de um dossiê contra políticos do PSDB.
Os documentos trariam provas do envolvimento dos candidatos tucanos ao governo de São Paulo e à Presidência da República, José Serra e Geraldo Alckmin, com a máfia dos sanguessugas.
Na carta, Expedito Afonso Veloso afirma que está "em gozo de licença anual remunerada desde agosto último", e que, nesse período, atendeu a "questões estritamente particulares". Segundo a assessoria do banco, o Conselho de Administração já aceitou o afastamento de Afonso Veloso e determinou a "apuração dos fatos". "Gostaria de registrar que essas atividades não tiveram e não têm qualquer relação com o Banco do Brasil", afirma.
Confira a íntegra da carta
"Como V.Sa. tem conhecimento, estou em gozo de licença anual remunerada (férias), desde agosto último. Nesse período, atendi, por minha livre e espontânea vontade, a questões estritamente particulares, não tendo levado ao conhecimento de meus superiores no Banco a natureza dessas atividades.
Gostaria de registrar que essas atividades não tiveram e não têm qualquer relação com o Banco do Brasil, instituição que admiro, preservo e a quem tenho dedicado vários anos de minha vida.
Ao isentar o Banco do Brasil de qualquer relação com os fatos divulgados na imprensa, sobre minha atuação, solicito afastamento do cargo de Diretor do Banco do Brasil e informo que prestarei todas as informações necessárias nos fóruns adequados.
O Conselho de Administração aceitou o pedido de afastamento e determinou a apuração dos fatos."
PF já sabe origem do dinheiro que compraria dossiê
A Polícia Federal (PF) já descobriu de quais bancos saiu o dinheiro para a compra de documentos que comprovariam a participação de políticos tucanos no esquema de venda superfaturada de ambulâncias. A maior parte do dinheiro foi sacada em agências dos Bancos Safra, Bradesco e Bank Boston.
Na sexta-feira passada (15), a PF prendeu Gedimar Passos e Valdebran Padilha num quarto de hotel em São Paulo com US$ 248,8 mil e R$ 1,168 milhão. De acordo com a PF, o dinheiro seria usado para adquirir uma fita de vídeo, fotografias e uma agenda que demonstrariam a ligação dos tucanos José Serra e Geraldo Alckmin com a máfia das ambulâncias.
A PF espera agora receber as fitas de vídeo do circuito interno de segurança do hotel para dar prosseguimento à investigação.
CPI dos Sanguessugas enviará Gabeira a Cuiabá
A CPI dos Sanguessugas enviará o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) a Cuiabá (MT) para obter informações sobre o dossiê que ligaria o PSDB à máfia das sanguessugas.
Os documentos, apreendidos pela Polícia Federal na sexta-feira (15) em um quarto de hotel em São Paulo com Gedimar Passos e Valdebran Padilha, estariam sendo negociados por Luiz Antonio Vedoin, dono da Planam e principal acusado de liderar o esquema de fraude na compra de ambulâncias, com integrantes do PT.
Antes de definir a data da viagem, Gabeira entrará em contato com o procurador da República Mário Lúcio e com o juiz responsável pelo caso. A CPI quer ter acesso a documentos que auxiliem a elaboração de requerimentos para a convocação de testemunhas.
Na reunião administrativa marcada para o dia 4 de outubro, a CPI dos Sanguessugas decidirá se convoca o ex-assessor especial da Presidência da República Freud Godoy, acusado de ser um dos responsáveis pela compra do dossiê, além de Gedimar Passos e Valdebran Padilha.
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