Essas são duas das conclusões extraídas de levantamento publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo neste domingo (3). Segundo a reportagem, 12 estados representados por investigados do petrolão reúnem só um terço dos eleitores do Brasil, mas foram destinatários de R$ 2 em cada R$ 3 (66%) do montante doado a campanhas majoritárias do PMDB nas últimas disputas para governador e senador.
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Candidatos, comitês e diretórios do PT e do PSDB receberam nesse redutos eleitorais, respectivamente, apenas 25% e 22% do valor global doado para campanhas estaduais – dado a revelar que as prioridades eleitorais de petistas e tucanos tiveram natureza diferente daquelas demonstradas por pleiteantes do PMDB. Mas a fonte é a mesma: ainda segundo a reportagem, fração significativa da verba arrecadada pelos três partidos teve origem em empreiteiras investigadas na Lava Jato.
Há inclusive a suspeita de que as doações eleitorais foram uma maneira de “lavar” propinas originadas do desvio de dinheiro público. No caso do PMDB, o ex-senador e ex-presidente da Transpetro Sergio Machado declarou, quando negociava delação premiada, que as propinas pagas ao ex-presidente da República José Sarney e ao senador Romero Jucá (PMDB-RR) – este, com inquérito aberto na Lava Jato, já foi alvo até de pedido de prisão, negado pelo STF – por vezes eram forjadas como doações oficiais de campanha para diretórios peemedebistas no Maranhão e em Roraima, respectivamente.
“No ranking dos valores per capita, o primeiro colocado, disparado, é justamente o estado de Jucá. Na média das duas eleições, o PMDB de Roraima recebeu cerca de R$ 96 por eleitor – mais que o quádruplo do segundo colocado, Tocantins, e nove vezes o valor registrado no Rio de Janeiro”.
Agente Jucá
PublicidadeNas eleições majoritárias de 2010 e de 2014, o PMDB roraimense recebeu cerca de R$ 47,6 milhões em doações. Trata-se do sexto mais elevado montante, em números absolutos, arrecadado pelo partido em todo o país, apesar do fato de que Roraima é o colégio eleitoral brasileiro menos numeroso. Apenas 262 mil pessoas foram às urnas nas eleições de 2014, por exemplo.
O montante acima foi basicamente destinado à máquina controlada em Roraima por Jucá, que transpõe as fronteiras do PMDB. Em 2010, continua a reportagem do Estadão, o maior gastos do comitê de campanha do então candidato ao Senado foi o item “doações financeiras a outros candidatos”. Com o dinheiro em caixa, Jucá financiou correligionários e ainda distribuiu recursos a candidatos aos postos de deputado federal e estadual de PSDB, PV, PR, PRTB, PTN, PPS, DEM, PDT, PSB, PP, PSL, PCdoB e PSDC. Isso equivale a dizer que o cacique peemedebista elegeu uma bancada particular na Câmara e na Assembleia Legislativa, desembolsando R$ 4,5 milhões, em valores atualizados.
Jucá foi ainda mais “generoso” em 2014, acrescenta a reportagem. Nesse pleito, marcado pela disputa ferrenha entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, o diretório estadual do PMDB de Rondônia recebeu R$ 30 milhões em doações, em valores atualizados, mesmo sem ter lançado candidato ao governo ou ao Senado. Parte desse dinheiro bancou a campanha de Chico Rodrigues (PSB) ao governo rondoniense. O que sobrou foi repartido entre candidatos a deputado de várias legendas.
As doações a Jucá e ao PMDB em 2010 não têm como ser mapeados, porque na época ainda eram permitidas as chamadas doações ocultas. O vínculo entre financiador e financiado era ocultado da seguinte forma: não havia transferência direta de verba de um para outro – antes disso, o dinheiro passava por uma conta intermediária, de comitê ou de partido. Com o fim da doação oculta em 2014, por determinação da Justiça Eleitoral, pode-se conhecer os principais doadores: as empreiteiras Queiroz Galvão, UTC e Odebrecht; o banco BTG-Pactual; e o frigorífico JBS – grupos também sob a mira da Lava Jato.
Clã Sarney
O Maranhão também é destaque no ranking do financiamento eleitoral do PMDB. Terra de José Sarney, de sua herdeira política, a ex-governadora Roseana Sarney, e do aliado Edison Lobão, ex-ministro de Minas e Energia e também investigado na Lava Jato, o estado é reduto eleitoral capitaneado há décadas pelos Sarney até 2014, quando o clã perdeu o comando do estado para Flávio Dino (PCdoB). No ranking dos estados, o PMDB maranhense foi o terceiro grupo que mais recebeu doações, considerando-se a média dos montantes em 2010 e 2014. O detalhe é que o estado é o 13º do país em número de eleitores.
Na disputa ao governo maranhense, em 2014, Lobão foi financiado por empreiteiras como Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão, mas seus principais doadores vieram do setor de energia. Ao todo, o PMDB movimentou pouco mais de R$ 1 bilhão nas duas últimas eleições ao governo e ao Senado, superando tucanos (R$ 863 milhões) e petistas (R$ 665 milhões).