Renata Camargo, Lúcio Lambranho e Eduardo Militão
A menos de quatro meses da sucessão na Câmara e no Senado, o PMDB, dono das maiores bancadas nas duas Casas, mostra mais uma vez sua histórica divisão e a ganância pelo controle político no Congresso. Enquanto líderes do PT e o pré-candidato à presidência do Senado do partido, senador Tião Viana (PT-AC), dão como certo o apoio do PMDB, nos bastidores, um novo nome ganha força para disputar o cargo com a oposição: o ministro das Comunicações, Hélio Costa.
O novo nome na disputa também pode botar água nos planos do presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), que oficializa hoje (8) sua candidatura à presidência da Câmara, durante reunião da bancada peemedebista. Alheio ao novo cenário, Temer desconversa ao ser questionado pelo site sobre o nome do ministro: “O Senado está harmônico. A vida começa amanhã. Está tudo combinado”.
Mas com a entrada do ministro na sucessão, o acordo entre PT e PMDB para alternância das presidências nas duas Casas, com Temer no lugar de Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Tião Viana na vaga de Garibaldi Alves (PMDB-RN), pode estar com os dias contados.
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E se a idéia ganhar corpo, líderes da base aliada temem um racha entre os dois partidos, principalmente considerando o natural desgaste que PT e PMDB terão nas disputas de segundo turno em três capitais: Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre.
Essa não é a primeira vez que o nome do ministro aparece como opção do PMDB para presidir o Senado. No dia 17 de outubro de 2007, logo após o afastamento de Renan da presidência do Senado por conta do episódio Mônica Velloso, Hélio Costa se colocou à disposição para suceder o alagoano. “Eu, onde puder ajudar o governo do meu presidente Lula, que já me honrou muitíssimo me convidando para ser ministro, estou inteiramente às ordens”, disse na época.
A articulação em favor de Hélio Costa começou a ser costurada na semana passada, segundo apurou o Congresso em Foco, entre Renan e o senador José Sarney (PMDB-AP).
Mas o ex-presidente do Senado não quer conversar sobre a sucessão nas Mesas do Congresso. Ele também diz ignorar a possibilidade de o ministro das Comunicações entrar na disputa pela presidência do Senado. “Estou completamente fora desse assunto. Estou chegando das eleições”, afirmou ele, ontem à tarde. Renan não assume que partiu dele a indicação de Hélio Costa. “Já creditaram tantas coisas a mim, né?”, retrucou.
“Abro mão na hora”
Embora, publicamente, os dois evitem comentar o assunto, um sinal claro de que há uma articulação ou, pelo menos, uma pressão em favor da canditadura de Hélio Costa é a posição do suplente do ministro no Senado.
Sem que o nome de Hélio Costa fosse citado pela reportagem, Wellington Salgado (PMDB-MG) colocou o titular de seu mandato como candidato à presidência da Casa, revelando que a idéia está nos planos de parte do PMDB e que ele está avisado da possibilidade de ter de deixar o gabinete a qualquer momento.
“O PMDB não tem que ceder a presidência do Senado por conta de acordo na Câmara. Espaço de poder não se cede jamais. E se um nome forte do partido for o ministro Hélio Costa, e para ele entrar, isso depender de eu sair, abro mão na hora”, confirma Salgado.
Wellington Salgado também nega qualquer acordo entre PT e PMDB para a presidência do Senado, fato dado como consumado entre petistas da Câmara e do Senado. “O PMDB no Senado e o PT na Câmara estão dando certo. Por que não continua assim? Estamos vivendo um momento difícil para ficar experimentando”, disse o suplente.
Além disso, o senador mineiro usa os votos de sua bancada para pressionar o governo e rejeitar a candidatura de Tião Viana. “O PMDB é um partido de governabilidade. Se colocar no Senado alguém do partido do presidente, pode dar problema. Você pode ter alguém sem possibilidade de conversar. E o presidente Lula quer chegar ao final de seu mandato com os 80%, não é? Então é melhor ele não mexer”, ameaça Salgado.
Calouro no Senado
Mas no reduto petista no Senado, o nome de Tião Viana já é dado como certo. A líder do PT na Casa, senadora Ideli Salvati (SC), afirma que as articulações para emplacar Viana na presidência têm sido feitas “com boa harmonia nas duas Casas”.
Para eleger Chinaglia nas eleições de 2007, o PMDB abriu mão de qualquer candidatura na Câmara e foi decisivo na vitória do atual presidente. Em troca, a bancada petista descarregou votos em Renan, garantindo sua tranqüila reeleição.
“Já está certo o nome de Tião Viana. A bancada do PMDB está passando por um momento delicado. São poucas as alternativas de nomes para a candidatura do partido. O próprio Sarney já sinalizou que não precisa disso a essa altura da sua vida. O partido vem sempre com certa dificuldade e isso ajuda a candidatura de Tião Viana”, confia a senadora.
Ideli também minimiza o prestígio de Hélio Costa entre os demais senadores. Para ela, por ter ficado apenas dois anos no Senado, o ministro das Comunicações não representa ameaça à candidatura de Tião. “Ele ficou muito pouco tempo no Senado, não seria visto com bons olhos alguém que vem para Casa e opta em ficar no ministério”, desdenha.
“Reciprocidade”
Na Câmara, o PMDB e o PT já dão como certo o cumprimento do “acordo”. Para o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), o compromisso será selado, sem resistência. “Esse é um compromisso do PT, que elegeu o seu candidato [Arlindo] Chinaglia [PT-SP] nas eleições passadas, à base de acordo. Naquele momento, o PMDB não tinha unidade para eleger alguém na Câmara, mas agora o partido está unificado e esse acordo está sendo cumprido”, acredita.
A tranqüilidade de Alves, talvez, tenha alicerce na garantia do líder do PT na Casa, deputado Maurício Rands (PE). Ele confirma o apoio à candidatura de Temer, mas cobra que haja “reciprocidade” no Senado. “A inclinação da bancada do PT é apoiar Temer, lembrando a reciprocidade de apoiar Tião Viana. Temos o acordo e queremos honrá-lo. Espero que não venham com surpresa no Senado. Senão, embola tudo”, avisa o líder petista.
Henrique Alves, no entanto, admite que nenhum acordo foi feito no Senado. “O que há é um bom senso de saber que o PMDB não pode ter a pretensão de presidir as duas Casas. A candidatura de Temer na Câmara é suprapartidária. Ele surge como referência para presidir um cargo dessa importância no Legislativo”.
Serraglio e Rita na Câmara
Além de testar sua força e convencer seu partido a abrir mão do comando no Senado, Temer enfrenta, logo na partida para a presidência da Câmara, a resistência de dois nomes dentro do PMDB: os deputados Osmar Serraglio (PR) e Rita Camara (ES).
A deputada tem mais apoio fora do PMDB do que dentro por enquanto. “Estou sendo estimulada a isso. Mas o partido também tem que debater”, disse Rita.
Ela considera que é necessário reafirmar a postura do Legislativo, que, segundo a parlamentar, está subjugado pelo Executivo e pelo Judiciário. “É uma agenda importante nesse sentido. Precisamos reforçar a representação do Legislativo, dar mais autonomia, independência, altivez”, prega Rita.
Serraglio não conversa abertamente sobre o tema. Mas, por meio de sua assessoria, dá o recado: é candidato de qualquer forma. Se não for escolhido hoje (8) pelo PMDB, vai disputar como concorrente avulso.
“Ovos na mesma cesta”
À margem da disputa entre os grandes da base, a bancada do PTB no Senado, representada por sete senadores, ainda não tem uma decisão de partido. Nos bastidores, no entanto, parlamentares petebistas avaliam que o não cumprimento do “acordo” e a indicação do nome do ministro Hélio Costa, apesar de politicamente forte, pode causar uma fissura entre “os partidos” de Lula.
“O ministro é um grande colega, um excelente ministro e é reconhecido em todos os estados. Mas temos que entender que são duas bases e que isso poderia provocar uma fissura, um constrangimento entre as bancadas”, observa o vice-líder do PTB, senador Sérgio Zambiasi (RS).
“Por enquanto, são algumas escaramuças de um lado e do outro, o que é absolutamente normal. Afinal, tanto a presidência do Senado quanto a da Câmara são locais estrategicamente importantes”, afirma Zambiasi.
“Não tenho nada contra Tião Viana ou Hélio Costa, mas o PMDB vai ter que optar por uma das Casas para manter o equilíbrio. Não podemos colocar todos os ovos na mesma cesta”, avalia o líder do PSB no Senado, senador Renato Casagrande (ES).
O senador capixaba diz que o fato de Hélio Costa ser um dos principais apoiadores da candidatura de Leonardo Quintão (PMDB) à prefeitura de Belo Horizonte não é impeditivo para que o ministro receba apoio do PSB, que aposta suas fichas na eleição de Márcio Lacerda (PSB) na capital mineira.
O maior desafio de Hélio, acredita Casagrande, será pacificar o PMDB em torno de seu nome. “É natural que o ministro apóie o candidato do seu partido na capital do seu estado. Mas se esse for o nome do PMDB no Senado, outra negociação deverá ser conduzida na Câmara”, pondera. “O PMDB tem vários partidos, mas terá que buscar um entendimento”, completa o senador. O Congresso em Foco procurou o ministro Hélio Costa para ouvi-lo sobre o tema, mas não recebeu retorno até o fechamento desta edição.