Maior bancada da Câmara, com 85 deputados, o PT vai entrar na primeira semana do semestre legislativo sem a definição de quem será seu novo líder. As articulações para a escolha, que começaram no fim do ano passado, foram adiadas para 7 de fevereiro. Até lá, uma comissão formada por petistas terá a missão de conseguir unir os deputados em torno de um dos dois nomes que permanecem na disputa: Jilmar Tatto (PT-SP) e José Guimarães (PT-CE).
Reunião ocorrida ontem (24) em Brasília definiu o adiamento da escolha para 7 de fevereiro. “Tivemos um papo com os deputados da nossa bancada para equacionar o tema da transição. Refletimos que o principal ativo da bancada é a sua unidade”, afirmou o atual líder da legenda na Câmara, Paulo Teixeira (SP). Ele coordena um grupo de deputados encarregado de decidir quem vai comandar a bancada nos próximos anos. A conversa entre os petistas aconteceu antes da cerimônia no Palácio do Planalto, quando o governo liberava o ministro petista Fernando Haddad para disputar a eleição municipal em São Paulo.
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Deputados ouvidos pelo Congresso em Foco repetem a palavra “unidade” à exaustão. Dentro da bancada, virou o mantra predileto. Em ano eleitoral, quando o Congresso deve ter uma pauta movimentada somente até julho, parlamentares ressaltam que, por ter o maior número de integrantes, a união será “fundamental para o sucesso” do governo de Dilma Rousseff.
Temas sensíveis para o Palácio do Planalto, como a criação da Fundação de Previdência Complementar dos Servidores Públicos Federais (Funpresp), a Lei Geral da Copa, a divisão dos lucros do petróleo na camada pré-sal e o novo Código Florestal, devem ser votados até o meio do ano. Depois, boa parte do Congresso vai se concentrar nas eleições municipais de outubro. Somente com a votação da Lei Orçamentária Anual de 2013 é que o Congresso voltará a ter movimento.
Comissões
Por conta desse hiato na programação da Câmara, a intenção dos petistas é dividir entre os principais grupos da bancada o poder para o próximo dois anos. Além de já definir o líder para 2012 e 2013, o PT pretende também já dividir o comando das comissões. No ano passado, o partido teve direito a quatro presidências. Entre elas, a da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante da Casa.
PublicidadePor ser a maior bancada, o PT tem a prioridade na escolha e a maior quantidade de comissões permanentes da Câmara. Além da presidência, também são divididas proporcionalmente as vice-presidências e as secretarias de cada colegiado. O número de deputados também influi na quantidade de cargos comissionados no Legislativo.
“A conversa envolve os dois anos. Vamos tratar no plano da política. Nós vamos fazer um desenho para compor as forças do PT”, afirmou o atual líder, Paulo Teixeira. Antes da cerimônia de posse dos dois novos ministros do governo Dilma Rousseff – Aloizio Mercadante na Edução e Marco Antônio Raupp na Ciência e Tecnologia –, Guimarães e Tatto se encontraram com Teixeira e outros integrantes da bancada.
Um acordo não foi possível. O atual líder apresentou a proposta de dividir os próximos dois anos entre os dois. “Os dois mandatos são bons. Um é bom, mas é pequeno, o outro é maior, mas é depois”, resumiu Teixeira. Além da presidência de comissões permanentes na Casa, também está em jogo o comando da Comissão Mista de Orçamento. No ano passado, o cargo coube ao Senado, ficando com Vital do Rego (PMDB-PB).
“Vamos trabalhar na construção de uma unidade acerca da nossa liderança, evitando disputas e processos de votação. Estamos fortalecendo os debates e esse processo é muito rico e importante. Também já começamos a discutir a nossa distribuição dentro das comissões permanentes dentro da Câmara”, disse Valmir Assunção (PT-BA), que participou do encontro na tarde de ontem. A intenção é evitar que a disputa chegue ao ponto de ser decidida no voto.
A tentativa de acomodar o desejo de Tatto e de Guimarães em assumir a liderança é para cicatrizar as feridas deixadas pela disputa da presidência da Câmara, em 2010. Na oportunidade, o grupo comandado por Marco Maia (PT-RS) e por Arlindo Chinaglia (PT-SP) teve mais força do que os apoiadores de Cândido Vaccarezza (PT-SP). Enquanto o gaúcho acabou eleito para presidir a Casa, o paulista permaneceu na liderança do governo.
“Não tem divisão”
Jilmar Tatto, que em São Paulo foi secretário de quatro pastas diferentes durante a prefeitura de Marta Suplicy, entre 2001 e 2004, tem o apoio do atual presidente da Câmara, Marco Maia. Já Guimarães, um dos vice-líderes do governo, irmão do ex-deputado José Genoino (PT-SP), é apoiado pelo grupo de Vaccarezza. O petista do Ceará ficou conhecido nacionalmente após um dos seus assessores ser preso com US$ 100 mil dólares na cueca no aeroporto de Congonhas (SP), em 2005, ano da eclosão do escândalo do mensalão.
“Não tem divisão, mas esse período é para chegar a uma unidade do que os grupos querem”, afirmou Guimarães ao Congresso em Foco. Para ele, a decisão não passa de 7 de fevereiro. “Não pode passar”, completou. Até lá, petistas admitem que muitas conversas vão acontecer, apesar de nenhuma nova reunião estar marcada. “Isso mostra que eu ganhei mais uma semana na liderança”, brincou Teixeira, que comanda o grupo de transição do seu cargo.