Apesar de ter entregue ontem uma lista de reivindicações aos dois candidatos à presidência do Senado, recebendo a resposta de um deles inclusive (leia aqui), o PSDB permanece indefinido. Grupos dentro do partido possuem restrições a apoiarem tanto José Sarney (PMDB-AP) quanto Tião Viana (PT-AC).
Segundo o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), o grupo aliado ao governador de São Paulo, o tucano José Serra, permanece reticente a apoiar Sarney por conta da eleição presidencial de 2002. Em março daquele ano, a Polícia Federal apreendeu R$ 1,5 milhão em dinheiro vivo em um escritório de Jorge Murad, marido da então pré-candidata à presidência da República, Roseana Sarney, filiada ao PFL na época.
Roseana liderava as pesquisas de opinião, à frente inclusive do hoje presidente Lula, enquanto José Serra vinha atrás nos levantamentos. Pessoas próximas à filha de Sarney acreditam que o tucano teria sido responsável pela ação da Polícia Federal, com a intenção de acabar com a sua pré-candidatura. A então pré-candidata foi obrigada a abandonar a campanha por conta das denúncias contra o marido. "Essa questão continua ainda muito presente entre os grupos políticos", afirmou Fleischer.
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Outro fator que atrasa a escolha é a disputa entre PSDB e PT nas últimas eleições municipais. O caso mais claro é o de Manaus. Os petistas não apoiaram o candidato à prefeitura Serafim Corrêa (PSB), que estava junto com os tucanos e tentava a reeleição. No primeiro turno, inclusive, lançaram candidato próprio. Corrêa foi para o segundo turno contra Amazonino Mendes (PTB), mas acabou perdendo a disputa. No novo pleito, O PT se declarou neutro. "O senador Arthur Virgílio até hoje não se conformou com essa situação", lembra o cientista político da UnB.
Entretanto, a indefinição persiste não somente por conta de disputas partidárias. Os tucanos sabem que Sarney é o grande favorito para ganhar a eleição. E, se a bancada do PSDB apoiar Tião – caso ele não desista do pleito -, corre o risco de ficar fora da Mesa Diretora e de ter problemas para conquistar espaços dentro das comissões. "Esses dilemas levam o partido a demorar na definição de apoio", ressaltou Fleischer.
Por conta disso, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), que conduz o processo de negociação junto com o presidente nacional do partido, senador Sérgio Guerra (PE), disse ontem (28) que a decisão poderia ficar para o próximo domingo, véspera da eleição. Porém, a definição pode sair antes. O tucano passou a manhã fazendo ligações para os membros da bancada.
A intenção é conciliar a agenda de todos os senadores e marcar a data para o encontro que vai ratificar o apoio a um candidato. Por enquanto, Virgílio não conseguiu ainda encontrar um consenso para fechar a reunião. Dos 13 senadores que formam a bancada tucana, três estão viajando fora do Brasil: Tasso Jereissati (CE), Cícero Lucena (PB) e Mário Couto (PA). (Mário Coelho)
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