Na convenção do PT, que começa neste sábado (21) em Brasília para escolher Dilma Rousseff como candidata à reeleição presidencial, o comandante do partido, Rui Falcão vai afirmar que o partido representa a “mudança” para o “futuro”. Juntas, as duas palavras serão usadas 15 vezes no discurso preparado para hoje, que anuncia “a eleição mais dura, a mais difícil de todas” a ser disputa.
Em consonância com a campanha presidencial, a intenção de Falcão é unir-se às propostas vindas das jornadas de junho passado e evitar a armadilha de apenas comparar o que foi feito nos governos Lula e Dilma, a partir de 2003, com a gestão do PSDB de Fernando Henrique (1994-2002), aliado do candidato tucano, o senador Aécio Neves (MG). Além disso, ataca os ex-aliados Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva, que defendem ajustes e correções no país apesar do reconhecimento das conquistas petistas.
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No discurso, Falcão ainda diz que os xingamentos que Dilma recebeu no estádio Itaquerão, em São Paulo, na abertura da Copa do Mundo, partiram da “classe dominante”. A avaliação, idêntica à do ex-presidente Lula, diverge do secretário geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, para quem esse sentimento oposicionista também está permeado em parte das classes menos favorecidas. Para Falcão, o importante é que as vaias e palavrões tiveram efeito contrário. “O tiro saiu pela culatra. Nossa presidenta foi cercada, sim, pela solidariedade unânime dos que condenam a violência, a vilania, as proclamações de ódio”.
Falcão afirmará em seu discurso que a comparação entre a gestão petista, marcada pelo aumento do emprego e da renda e diminuição da pobreza, e os anos de PSDB “incomoda nossos adversários”. Ele criticou o senador Aécio Neves que disse ser preciso um “tsunami” para tirar o PT do poder. “Um dos nossos adversários invocou um tsunami para nos varrer do mapa, como se no roldão levasse junto o legado dos governos petistas”, dirá o presidente nacional do PT.
“Debilitar o Bolsa Família”
Segundo Falcão, há perigo de “retrocesso” porque os oposicionistas “deixam entender” que vão “mudar a política do salário mínimo, promover desemprego, provocar choques, cancelar direitos, debilitar o Bolsa Família, cortar subsídios do BNDES e do Minha Casa Minha Vida”. Proposta da oposição, criticada pelo governo, pretende estender o Bolsa Família durante mais seis meses para famílias que tiveram sua renda elevada – o que, pelas regras atuais, faria essas pessoas perderem o benefício imediatamente.
PublicidadeNovamente, o discurso da mudança virá com força contra Aécio. “A sociedade brasileira quer mudar, mas pensando no futuro e não em um passado que ela repudiou de forma reiterada e contundente nas três últimas eleições presidenciais.”
E sobrará artilharia para Eduardo Campos e Marina também, que precisam ser “desmascarados”. “A proposta de um novo ciclo de mudanças […] constitui, também, a melhor forma de desmascarar quem tenta se apresentar como ‘terceira via’, mas concilia com os interesses neoliberais”, afirmará Rui Falcão em sua fala. Ele Dilma têm dito que a proposta de Campos de reduzir a inflação para 3% ao ano vai causar desemprego.
Mesmo com a reeleição, Falcão diz que, a partir de 2015, os inimigos a serem batidos continuarão a ser os tucanos e a ditadura miltar. “Continuam postas as tarefas de superar a herança maldita proveniente da ditadura, da devastação neoliberal, da ditadura do capital financeiro e monopolista sobre a economia, da lógica do Estado mínimo.”
Quebrar oligopólios da mídia
O discurso de Rui Falcão ainda defenderá a reforma política que acabe com o financiamento de campanha por parte de empresas. Em setembro, um “plebiscito popular” fará uma consulta simbólica à população, de maneira paralela ao que defendeu Dilma no ano passado, mas sem o aval dos congressistas.
O presidente do PT vai defender ainda a regulação da mídia, ou seja, reduzir a possibilidade de uma mesma empresa ter vários canais de radiodifusão e, assim, retirar seu poder de fogo econômico. Sem dar o nome, ele mencionará as organizações Globo. “Uma emissora controla 40% da TV aberta e quase 70% das verbas de publicidade!”. De acordo com Falcão, “não é o PT que pretende censurar ou controlar a mídia”, mas a Constituição proíbe a concentração empresarial no setor.
A defesa da reforma atende ainda a interesses pontuais do partido. Dirigentes do PT, como o Lula, consideram a imprensa “um partido de oposição”. Para o ministro Gilberto Carvalho, esse é o motivo das críticas o governo que recebe da classe média e de parte das classes C e D.
Ódio e fundamentalismo
Na mesma linha do que vem afirmando o presidente Lula, Falcão afirma que é hora de “renovar as esperanças” com o objetivo de “vencer o ódio, o rancor, o preconceito, o racismo, a violência, o machismo, a homofobia, o fundamentalismo”.
Para Falcão, os “pessimistas” é que “jogam na torcida do contra”, ao contrário do que se vê no futebol. “A Copa entusiasma e contagia o mundo.”.
Falcão defenderá o decreto presidencial para que os órgãos do governo ouçam conselhos sociais antes de tomar decisões em suas políticas públicas. Para ele, as críticas ao mecanismo são uma “aversão” da elite “aos não conhecem o seu lugar, ao povo propriamente dito”.