O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Lacerda, negou há pouco, na CPI dos Grampos, que agentes da entidade tenham realizado escutas telefônicas ilegais no Planalto e no Supremo Tribunal Federal (STF). A denúncia foi feita pela Revista Veja em matéria publicada no dia 13 de agosto.
“Não aconteceu monitoramento de maneira nenhuma em tribunais ou no Palácio do Planalto. Eu desafio os repórteres que fizeram essa matéria que apresentem a essa CPI algum elemento concreto”, disparou.
Durante o depoimento, Lacerda também negou ter recebido “qualquer” contato telefônico realizado pelo chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Trechos do relatório da Operação Satiagraha revelam conversa realizada entre Carvalho e o ex-deputado Eduardo Greenhalgh (PT-SP), consultor de Daniel Dantas.
Na ocasião, Greenhalgh questiona Carvalho a respeito de uma possível investigação da Abin sobre um de seus clientes. Diante da pergunta, Carvalho diz que entraria em contato com o diretor-geral da Abin para saber dessa questão. “Em momento nenhum conversei com o secretário Gilberto Carvalho. Ele não me ligou”, afirmou.
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Mudança de foco
Lacerda também desqualificou a acusação de Daniel Dantas, feita na última quarta-feira (13), de que teria articulado a Operação Satiagraha como represália à divulgação de um suposto dossiê na época em que comandou a Polícia Federal (PF). O documento conteria informações sobre contas de Lacerdas no exterior
“Conheço pouco do Daniel Dantas. Acho que é uma tese de brilhantes advogados que ele tem. Ninguém mais está aqui discutindo questões de mérito sobre essas investigações. Estamos discutindo os investigadores", avaliou. "Parabéns para os advogados que lhe orientaram nesse sentido", acrescentou.
O diretor da Abin comentou ainda sobre a relação com o delegado federal Protógenes Queiroz, que coordenou a Operação Satiagraha. “É a mesma que tenho com centenas de delegados federais. Eu tenho uma relação com muita gente”, disse.
Além de Paulo Lacerda, também devem ser ouvidos hoje na comissão os delegado federais Alessandro Moretti e Marcílio Zocrato a respeito da Operação Ferreiro, deflagrada em junho deste ano em São Paulo e Minas Gerais. Na ocasião, a PF prendeu uma quadrilha acusada de quebrar o segredo de Justiça em processos de interceptação telefônica, de acessar dados cadastrais de clientes das operadoras de telefonia e de executar grampo clandestino.
Jogo de forças
No final da sessão está previsto a votação de 25 requerimentos, entre eles o que convoca o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh e o investidor Naji Nahas. Os governistas, no entanto, querem impor outra agenda para comissão. Na nova lista de convocação não se encontram, por exemplo, nenhum dos três nomes. O roteiro da CPI defendido pelos governistas prevê a convocação para a próxima quarta-feira (27) do detetive da PF Eloy Lacerda, que participou da Operação Ferreiro. Se esse roteiro prevalecer, a discussão e votação do relatório final da CPI deve ficar para os dias 25 e 26 de novembro (Erich Decat)