"Amanhã, quero amanhecer como cidadão que prestou contas à Câmara dos Deputados. Não quero clemência, nem misericórdia. Quero justiça. Espero que cada deputado vote com a sua consciência". Foi com essas palavras que o deputado José Dirceu (PT-SP) encerrou o discurso de quase 50 minutos, por meio do qual sustentou a sua inocência quanto à acusação de chefiar o mensalão. Ao longo desse trecho final, foi efusivamente aplaudido por duas vezes.
"Não posso ser cassado porque era o ‘todo-poderoso’ do governo; não posso ser cassado porque não atendia telefonemas, ou porque não marcava audiências", pediu Dirceu, referindo-se reiteradamente às acusações de sua postura arrogante, que teria sido agravada durante a permanência na chefia da Casa Civil.
Ele frisou que a cassação do seu mandato implica na suspensão de seus direitos políticos até o ano de 2016, quando ele estará com 70 anos de idade. "É uma violência contra os meus 40 anos de vida pública, uma violência contra a minha história, contra a minha biografia", reclamou.
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O ex-ministro reconheceu ser um dos que contribuíram para a construção da base aliada do governo Lula, formada pelo PTB, PMDB, PL – "que nos deu a vice-presidência da República". Vice-presidência esta que, de acordo com o ex-deputado e presidente do PL, Valdemar Costa Neto, em entrevista concedida à revista Época, teria custado R$ 10 milhões ao PT, para contar com o nome de José Alencar na legenda.
Dirceu reforçou que "está na hora de se restabelecer a verdade", em um momento em que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe acusações e denúncias de corrupção por todos os lados. "Formamos a base aliada, mas não foi às custas de barganhas que eventualmente, envergonhassem essa Casa", enfatizou.
O deputado do PT admitiu a ocorrência de casos de corrupção na administração pública e declarou que, à frente da Casa Civil, sempre encaminhou todas as denúncias ou pedidos de informação que chegavam até ele no ministério. "Tenho a consciência tranqüila".