No final de sua entrevista coletiva concedida para comentar sobre o processo que conduziu à sua cassação, o ex-deputado José Dirceu (PT-SP) assumiu que não agiu de forma correta com a imprensa quando era ministro chefe da Casa Civil, mas negou ter cometido erros nesta área quando era presidente do PT. “Reconheço que errei com a imprensa quando estava na Casa Civil. Quando estava na presidência do PT, acho que não errei. E admito que o atual governo não tem uma relação boa com a imprensa. Mas não sou o responsável pela crise política”, declarou Dirceu.
Depois, endureceu o discurso e afirmou que a imprensa está tomando partido na crise, fazendo denúncias vazias. Como exemplo, citou o episódio envolvendo o seu assessor informal, Roberto Marques, acusado de ter recebido dinheiro da conta no Banco Rural da agência DNA, do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. “A revista Veja publicou uma reportagem sem provas do que afirmava”, acusou. “Se é para defender ponto de vista, acho ótimo que o façam nos editoriais. O que não dá é para fazer noticiário dirigido”, disse o ex-ministro, ressalvando a possibilidade de criar um site pessoal. “Podem publicar o que quiserem sobre mim. Só preciso ter assegurado o direito de resposta”.
Leia também
Sobre a composição partidária para as eleições de 2006, Dirceu disse não ter segurança para fazer previsões, sobretudo se for derrubada a verticalização partidária, permitindo aos partidos maior liberdade na negociação de alianças nas esferas estaduais e federais. “Se cair a verticalização, o resultado disso será a ingovernabilidade”, advertiu. “O país precisa da Reforma Política, mas o Congresso não pretende votá-la”, observou. Ele acredita que no caso do PT, a tendência natural é manter as alianças com o PSB e o PCdoB. “Não posso arriscar os rumos que tomarão PTB, PL e PMDB”, concluiu.
José Dirceu destacou que ouviu, de alguns deputados, manifestações sobre a indisposição em julgarem os próprios pares, e que muitos preferiam se livrar da atribuição. O deputado cassado ponderou que um caminho alternativo seria delegar ao Poder Judiciário a função de conduzir julgamentos políticos. “Eu sou contra a Câmara e o Senado poderem julgar os próprios parlamentares. Uma solução seria a Justiça, que primeiro, avaliaria a suspensão do mandato enquanto durasse o julgamento. No final, ou restituía o mandato ao parlamentar processado, ou então, definia o prazo de suspensão dos direitos políticos”, sugeriu.
Uma visita inesperada animou o término da entrevista coletiva de Dirceu. Ontem, logo depois que foi divulgado em toda a imprensa que o escritor Yves Hublet atingiu Dirceu com duas bengaladas, o aposentado Hindemburgo Flores desafiou Hublet para um duelo de bengalas. Hoje, o próprio Hindemburgo apareceu no final da entrevista coletiva para cumprimentar o seu protegido. Constrangido pela lembrança do episódio da agressão, o ex-ministrou agradeceu discretamente a presença do defensor e aproveitou para encerrar a coletiva.