Reportagem do jornal O Globo desta quinta-feira revela que as malas de dinheiro que simbolizam os escândalos de corrupção circularam a todo vapor no Congresso Nacional no auge do esquema dos sanguessugas. Segundo relato do empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin à Justiça Federal, pelo menos R$ 1 milhão, em dinheiro vivo foram pagos de propina aos parlamentares cooptados pela quadrilha.
Grande parte desses valores, de acordo com o relato de Vedoin em seu depoimento de 150 páginas, foi entregue em mãos aos congressistas, quase sempre nos seus gabinetes deles na Câmara. Pelo menos nove deputados receberam dinheiro em seus gabinetes, de acordo com o relato de Vedoin.
Ma matéria de Alan Gripp e Maria Lima, a mala mais recheada a entrar no Congresso, segundo o depoimento, teve como destino o gabinete do deputado Isaías Silvestre (PSB-MG), que teria recebido, em uma só tacada, R$ 82 mil. O deputado Maurício Rabelo (PL-TO) teria recebido parte da comissão de R$ 80 mil em seu gabinete, mas ainda foi à sede da Planam, em Brasília, buscar dinheiro, segundo Vedoin.
Deputado do Rio levou R$ 300 mil
A maior propina em dinheiro vivo, relatou o empresário, foi paga ao deputado Fernando Gonçalves (PTB-RJ), mas o pagamento não foi realizado diretamente no Congresso. Dos R$ 300 mil que o chefe da máfia dos sanguessugas diz ter repassado ao parlamentar, R$ 150 mil teriam sido pagos em espécie, em três parcelas de R$ 50 mil. A primeira delas Vedoin diz ter entregue em abril de 2002 pessoalmente a Gonçalves, em Brasília (ele especificou o local). Já a segunda teria sido paga no mesmo mês, mas em Cuiabá e a um assessor do deputado: Lélio Penacho. E a última parcela também foi repassada, segundo Vedoin, ao parlamentar.
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Além dos gabinetes, a quadrilha costuma usar hotéis para pagar propina aos deputados. Segundo Vedoin, no Meliá, em Brasília, a máfia teria repassado R$ 50 mil ao deputado Nilton Capixaba (PTB-RO) e R$ 42 mil ao deputado João Magalhães (PMDB-MG). Já o deputado Paulo Baltazar (PSB-RJ) escolheu o Aeroporto do Galeão, no Rio, para receber um pagamento de R$ 50 mil por ter apresentado de emendas ao orçamento no valor de mais de R$ 1 milhão. As emendas, segundo Vedoin, destinavam recursos para ONGs fluminenses.
O deputado João Caldas (PL-AL), que se licenciou da Mesa Diretora da Câmara após a inclusão de seu nome na lista dos suspeitos, recebeu R$ 50 mil em dinheiro vivo, de acordo com o depoimento do empresário. O dinheiro teria sido entregue a ele pelo pai de Luiz Antônio Vedoin, Darci Vedoin, também dono da Planam. O empresário fez ainda outra acusação ao parlamentar: contou que Caldas passou a destinar emendas parlamentares para o município de Ibateguara (AL), depois que sua mulher, Eudócia Caldas (PL), assumiu a prefeitura.
Vedoin disse ainda que a quadrilha entregou em gabinetes da Câmara R$ 12 mil para Marcos de Jesus (PFL-PE); R$ 32 mil para Carlos Nader (PL-RJ); R$ 82 mil para Isaías Silvestre (PSB-MG); R$ 15 mil para Benjamim Maranhão (PMDB-PB); R$ 15 mil para Robério Nunes (PFL-BA); R$ 40 mil para Edna Macedo (PTB-SP); R$ 26 mil para José Divino (PRB-RJ); R$ 20 mil para Jorge Pinheiro (PL-DF) – todos já na lista de suspeitos da CPI.
Os integrantes da CPI dos Sanguessugas disseram durante a semana que será mais difícil punir os parlamentares que receberam dinheiro vivo da quadrilha porque pode não haver provas materiais contra eles.