O delegado da Polícia Federal (PF) do Mato Grosso Diógenes Curado, responsável pelas investigações sobre a compra de um dossiê contra o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), disse ontem (19) a integrantes da CPI dos Sanguessugas que o dinheiro que seria usado para comprar o material não saiu dos cofres do PT.
"Ele deixou claro que o dinheiro, no entender dele, não é do PT. É um dinheiro transportado, de responsabilidade, conduzido por petistas. Isso não quer dizer que lá adiante ele não chegue a essa conclusão. Mas que agora não há por que afirmar isso", ressaltou o vice-presidente da comissão, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), integrante da oposição.
Sobre as informações de que parte do dinheiro apreendido teria vindo de casas de jogo do bicho, como antecipou há uma semana o Congresso em Foco (leia mais), o delegado afirmou que não há mais dúvidas sobre o assunto.
"Ele disse que tem dinheiro que vem do jogo do bicho, entretanto, afirmou que para o bom andamento dos trabalhos não vai dizer o valor, para qual bicheiro e de onde veio o dinheiro. Mas confirmou que não restam dúvidas de que parte do dinheiro veio do jogo do bicho", esclareceu Jungmann.
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O restante do valor, segundo o delegado disse à CPI, "veio de corretoras e de saques que foram tirados abaixo do limite que chamaria atenção do Coaf, de várias agências bancárias, para dificultar ao máximo o rastreamento".
Parte do dinheiro veio do bicho, diz PF
Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, a Polícia Federal descobriu que pelo menos R$ 5 mil dos R$ 1,1 milhão que seriam usados por emissários petistas para comprar o dossiê contra tucanos passaram por bancas de jogo do bicho no Rio de Janeiro. O dinheiro, de acordo com a PF, teria transitado por bancas ligadas a Antonio Petrus Kalil, conhecido como Turcão, na Baixada Fluminense (RJ).
A PF chegou ao nome de Turcão por meio do trabalho de informantes, diz a matéria de Andréa Michael. De acordo com a Folha, a PF investiga se parte ou mesmo a integralidade do dinheiro que seria usado na compra do dossiê teve origem no jogo de bicho. É que Turcão atuaria como "uma espécie de ressegurador de bancas menores a fim de garantir o pagamento de eventuais ganhadores". Por isso, a PF ainda não sabe se foi ele mesmo o fornecedor dos R$ 5 mil.
A polícia chegou até o nome do bicheiro depois de identificar pedaços de fitas de calculadora em meio ao dinheiro apreendido num hotel em São Paulo no dia 15 de setembro. Uma das fitas tinha a inscrição "Caxias 118", referência a uma banca de jogo. Os papéis também tinham um carimbo em comum.
"A PF agora tenta apurar de qual banca teria saído o dinheiro – se de alguma de Turcão ou de outra que tenha se valido de seus serviços como garantidor de pagamento de prêmios", diz a Folha.
Na terça-feira passada, a PF cumpriu ações de busca e apreensão de documentos em um escritório que centraliza a arrecadação de bancas do bicho na Baixada Fluminense. Os policiais apreenderam calculadoras. Agora vão fazer perícias para ver se as fitas e os tipos dos números são os mesmos encontrados com o dinheiro suspeito. Hoje a PF pedirá à Justiça Federal em Mato Grosso mais tempo para investigar o caso e também apresentará um relatório parcial da investigação, que completa 34 dias.
Dossiê: PF investiga ligação de pessoa "importante"
A Polícia Federal começou a investigar dois telefonemas trocados por um dos envolvidos no episódio da compra do dossiê contra tucanos e uma pessoa "conhecida e importante", nas palavras dos agentes. As ligações ocorreram próximo de 15 de setembro, quando Valdebran Padilha e Gedimar Passos foram presos na capital paulista com R$ 1,7 milhão que seriam usados para comprar os documentos.
O superintendente da PF em Cuiabá, Daniel Lorenz de Azevedo, não divulgou nomes, mas revelou que os telefonemas chamaram a atenção porque fogem ao padrão identificado em outras ligações feitas por envolvidos no episódio. Segundo Lorenz, o interlocutor identificado na conversa recebeu apenas uma ligação desta pessoa "importante".
A PF prometeu entregar hoje à Justiça Federal um relatório parcial das investigações sobre a compra do dossiê e pediu mais um mês para concluir o inquérito. Os agentes asseguraram, porém, que vão divulgar a origem dos R$ 1,7 milhão antes do segundo turno das eleições, marcado para o dia 29 deste mês.
Justiça autoriza quebra de sigilos de Freud e Lacerda
A Justiça Federal de Mato Grosso autorizou ontem a quebra de sigilo bancário do ex-assessor da Presidência da República Freud Godoy e de Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo. Ambos são acusados de participação na tentativa de compra do dossiê contra políticos do PSDB.
O pedido, que havia sido feito pelo procurador da República Mário Lúcio Avelar, também incluía a quebra dos sigilos da mulher de Freud, Simone Messeguer Godoy, e da empresa dela, Caso Sistemas de Segurança. Mas a Justiça negou os pedidos.
Freud teve seu nome envolvido no episódio da tentativa de compra de um dossiê contra o então candidato ao governo de São Paulo, José Serra (PSDB), por Gedimar Passos, preso com o dinheiro junto com o petista Valdebran Padilha.
Freud deixou o cargo na Presidência tão logo seu nome foi envolvido no caso. Os advogados de Gedimar informaram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que ele apontou o nome de Freud em seu primeiro depoimento à PF porque foi coagido.
A PF suspeita que Lacerda tenha levado, numa mala, o dinheiro que seria usado na compra do dossiê. É que Lacerda foi filmado pelas câmeras do circuito interno do hotel em que estavam Gedimar e Valdebran.
PF diz que Lorenzetti pode ter recebido dólares
A CPI dos Sanguessugas recebeu informações de que parte dos US$ 248 mil que seriam usados na compra de um dossiê contra candidatos do PSDB pode ter chegado ao petista Jorge Lorenzetti por uma corretora de câmbio de Florianópolis (SC), onde ele mora.
Segundo o vice-presidente da comissão, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), a corretora Centauros teria recebido US$ 150 mil da corretora Action, que negociou o montante original de dólares com o banco Sofisa, de São Paulo. O parlamentar afirmou, porém, que a PF ainda não tem elementos para confirmar a informação.
"O delegado [Diógenes Curado] me disse que não poderia afirmar nem negar porque, no momento da investigação, isso seria passar informações que não são convenientes para o andamento da investigação", afirmou o deputado.
Os US$ 248 mil fazem parte dos R$ 1,7 milhão apreendidos com o petista Valdebran Padilha e com o ex-agente da PF Gedimar Passos em um hotel na capital paulista no dia 15 de setembro. Ontem, a PF afirmou que parte dos recursos pode ter saído de bancas do jogo do bicho.
Bastos: "Acusações da oposição são eleitoreiras"
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, criticou ontem (19) as declarações da oposição de que estaria atuando como advogado do governo no escândalo da compra de um dossiê contra o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB). Ele atribuiu as ações dos adversários políticos do presidente Lula ao calor do momento eleitoral.
"São fantasias, porque ninguém aponta nenhum fato, nenhum ato ou atitude ou posição que eu tenha tomado que indique isso. Não deixei, em nenhum momento, que a minha lealdade ao presidente impedisse a minha lealdade às instituições. Sou ministro da Justiça, não sou político", disse.
De acordo com Bastos, as investigações da Polícia Federal (PF) sobre a origem do R$ 1,7 milhão que seria usado para comprar o material estão caminhando num ritmo normal.
"A demora da apuração é uma frase absolutamente destituída de sentido. A apuração está sendo feita rapidamente. Isso aconteceu há 30 dias e já se descobriu toda a cadeia causal. Mas como ninguém confessou, tem que ir pela prova técnica", defendeu o ministro.
Por fim, ele disse que "não se pode esperar demais da natureza humana e achar que chefes políticos da oposição queiram se comportar de uma maneira objetiva e republicana numa eleição que está chegando à última semana".