Fábio Góis
A ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, e o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, foram convidados pela quarta vez – agora na Comissão de Ciência e Tecnologia – a explicar no Senado as causas do apagão da semana passada. Desta vez, porém, a oposição resolveu incluir no convite, além dos técnicos do setor, uma entidade nada técnica, a esotérica Fundação Cacique Cobra Coral. Definida em sua página principal na internet como a “luz que ilumina os fracos e confunde os poderosos”, a Fundação Cacique Cobra Coral diz ser capaz de prever, a partir de seus contatos espirituais, tragédias relacionadas a fenômenos meteorológicos.
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Além de Dilma, Lobão e o Cacique Cobra Coral, os oposicionistas querem ouvir 18 convidados, entre eles o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Ubiratan Aguiar, e o diretor-geral brasileiro de Itaipu Binacional, Jorge Miguel Samek.
O convite inusitado à fundação esotérica veio do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), para quem a atribuição dos problemas do setor elétrico aos fenômenos meteorológicos requer uma comprovação de “especialistas”. “Se houve problema meteorológico, como dizem, vamos ouvir a fundação”, disse o tucano, ressalvando que sua intenção não é desrespeitar os que seguem o Espiritismo. A idéia causou revolta entre os membros governistas, que acusaram a oposição de fazer escárnio com assunto sério.
“Se a oposição já está apelando para a Fundação Cobra Coral é porque, realmente, não tem mais opção”, criticou Wellington Salgado (PMDB-MG) ao Congresso em Foco. “Seria importante ela fazer consulta à fundação para saber se o José Serra vem candidato mesmo [à sucessão presidencial pelo PSDB] ou se vai ficar no governo de São Paulo. Essa é a grande dúvida que tenho hoje.”
O requerimento que convida os ministros a esclarecer as causas do blecaute generalizado foi apresentado pelo senador Roberto Cavalcanti (PRB-PB), e aprovado depois de mais de uma hora de discussões. Além da CCT, três comissões aprovaram requerimentos de convite a Dilma e Lobão para falar sobre o sistema de energia elétrica brasileiro: Infra-Estrutura (CI), Assuntos Econômicos (CAE) e Relações Exteriores (CRE). A audiência seria conjunta com os membros da CI e CAE.
Às vésperas das eleições de 2010, a oposição nega que esteja usando o episódio para enfraquecer a pré-candidata oficial à sucessão de Lula, atribuindo-lhe a culpa pelas mazelas do sistema – Dilma foi ministra de Minas e Energia entre 2003 e 2005, tendo sido responsável pela reformulação do marco regulatório do setor. Segundo Virgílio, o convite esotérico “foi um protesto diante de um governo que ora diz, através do ministro [Lobão], que foi um raio que causou o apagão, ora diz, através de não sei de quem mais, que foram as chuvas”.
“O sistema é frágil, é inconsistente, e o Brasil está inseguro. Eles fazem tudo isso para esconder a ministra Dilma da opinião pública e do debate com o Congresso”, disse Virgílio, para quem a recusa ao comparecimento é falta de decoro. “Na gestão dela [na pasta de Minas e Energia], ela viu os investimentos caírem de 20 bilhões de reais/ano para 6 bilhões de reais/ano. A produção de megawatts também caiu. Aí eu pergunto: será possível a ministra não aparecer. Será que não está aí a falta de decoro, a falta de respeito à opinião pública?”, completou o tucano.
Enquanto a oposição dá demonstrações de que quer manter acesso o debate sobre o apagão, os membros da base preparam estratégias para minimizar eventuais desgastes no embate dos ministros como os oposicionistas, nas audiências no Congresso.
“Eu respeito a contribuição da oposição”, ironizou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). “Já está cheio de cobra por aqui”, alfinetou Wellington.
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