“Externei ontem que não ia esperar a conclusão do primeiro mandato para iniciar todas as ações, no sentido de transformar e melhorar o crescimento da nossa economia. Eu vou abrir o diálogo com todos os segmentos; quero dialogar com setores empresariais, financeiro, com o mercado, dentro e fora do mercado, para discutir quais são os caminhos do Brasil. Pretendo colocar de forma muito clara as medidas que vou tomar. Agora, não é hoje. Antes do final do ano, vou fazer [as mudanças] neste mês que se inicia na próxima semana”, declarou a petista, que concedeu a entrevista direto de Brasília.
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Mais cedo, em entrevista gravada à TV Record (leia mais baixo), a petista disse que não seria o momento de abordar nomes para uma eventual reforma ministerial. Evitando também as especulações sobre o próximo ministro da Fazenda (durante a campanha, ela anunciou a saída de Guido Mantega), Dilma também não respondeu ao colega de bancada de Patrícia, William Bonner, quando – e como – fará a reforma tributária.
“Se tem uma coisa que eu procurei fazer, foi a reforma tributária”, lamentou a presidenta, acrescentando ter feito, por meio da base aliada, avanços no Congresso sobre a legislação referente ao ICMS (Imposto sobre Mercadorias e Serviço). “Fomos até muito criticados. Fizemos tributação sobre folha de pagamento, tentamos fazer uma discussão sobre PIS/Cofins, fizemos uma reforma tributária sobre Supersimples.”
Passos e pontes
Bonner também fez referência à “campanha agressiva” deste ano, e perguntou a Dilma que “passos” ela daria no sentido de “reconciliar a nação”. A presidenta iniciou a resposta com elogios ao sistema democrático e ao próprio povo brasileiro.
“Mesmo com visões e posições contraditórias, havia algo em comum nas pessoas: a busca por um futuro melhor para o Brasil”, discursou, alegando que união não significa, necessariamente, “unidade de ideias ou ação monolítica conjunta”. “Significa muito mais abertura, disposição para dialogar, para construir pontes, para que nós possamos garantir, de fato, o que uma eleição sempre exige na democracia: mudança. Nós temos de ser capazes de garantir as mudanças de que o Brasil precisa e exige”, completou, dizendo estar atenta aos “clamores da população”.
Dilma voltou a falar de reforma política, um dos destaques de seu discurso da vitória. “Muitos setores têm como base a proibição da contribuição de empresas para campanhas eleitorais. A partir da reforma, só seriam possíveis contribuições privadas individuais, não seria possível [doação] empresarial. Tem várias propostas na mesa – a oposição fala em fim da reeleição. Enfim, tudo isso tem de ser avaliado pela população”, observou, acrescentando que o Congresso terá a percepção de que o clamor pela reforma é “uma onda que avança”.
Patrícia Poeta lembrou das dificuldades e críticas que Dilma enfrentou, depois dos protestos de 2013, de juristas, parlamentares e demais setores sociais contrários ao plebiscito por uma Constituinte exclusiva para a reforma. Dilma mencionou que teve de entidades como CNBB e OAB, além do “grande clamor da juventude.
Dilma também respondeu à indagação de Bonner quanto às denúncias contra aliados no Parlamento, o que poderia provocar “instabilidade política”, segundo o jornalista.
“Não concordo que isso leva a crise. Não acredito em instabilidade política por se prender corruptos e corruptores”, disse Dilma, lembrando a “sistemática impunidade” do país. Em seguida, ela explicou como agirá em relação a denúncias. “Isso significa: doa a quem doer, que se faça justiça. Se alguém errou, tem que ser punido. Esse fator não deve gerar instabilidade política; o que deve gerar instabilidade política é a impunidade. “Não vou deixar pedra sobre pedra.”
Íntegra da entrevista ao Jornal Nacional degravada
Assista ao vídeo da entrevista
Record
Ao contrário de Bonner e Patrícia Poeta, a jornalista Adriana Araújo, da TV Record, foi entrevistar Dilma no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República.
Um dos temas postos em pauta foi o possível ajuste econômico, com possível arrocho nos gastos do governo, diante da ameaça da inflação. A jornalista quis saber se os atuais níveis de consumo da classe média podem significar desequilíbrio econômico. “Adriana, você me desculpe, mas eu não vou falar para o brasileiro diminuir seu consumo. Ele está empregado e ganhando seu salários. Ele teve, inclusive, ganhos reais de salário”, resumiu Dilma.
A exemplo do que fez na Globo, ela evitou o assunto troca de ministros. Adriana Araújo especulou sobre o “perfil” do próximo ministro da Fazenda, exemplificando como “nome de mercado” o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, mencionado hoje (segunda, 27) pelo jornal Folha de S.Paulo como uma das alternativas. Foi interrompida. “Você está lançando um nome, Adriana?”, questionou Dilma. “Eu, não. A imprensa hoje lançou, presidente”, retrucou a jornalista. “Você não é da imprensa?”, ironizou Dilma, sorridentemente. “Ela está lançando um nome, telespectador”.
Depois das devidas explicações, em tom de descontração, Dilma retomou o raciocínio. “Eu gosto muito do Trabuco. Mas você me desculpe, Adriana, mas eu não acho que seja o momento nem a hora de discutir nomes do próximo governo. No tempo exato eu farei o nome e o perfil de todos os meus [próximos] ministros. Eu não vou só discutir um ministro. Eu vou discutir o meu ministério”, avisou a presidenta, diante da insistência da jornalista. “Eu entendo que a imprensa tenha curiosidade, mas está cedo ainda.”
Por fim, Dilma respondeu se teme que seu segundo mandato vire uma espécie de “segundo turno”, depois da eleição “muito acirrada” e dos casos de corrupção, com a oposição “caçando escândalos”, segundo Adriana Araújo. “Não acredito. Por que, quem tentar um terceiro turno vai prestar um desserviço ao Brasil”, disse Dilma, lembrando que conquistou “a maioria” do povo.
“Vou me empenhar, doa a quem doer, não vai ficar pedra sobre pedra. Quero todas as investigações sobre corrupção às claras”, disse Dilma, fazendo menção indireta à revista Veja ao se dizer indignada “com o que aconteceu nesta semana”. Adiantada em dois dias, a publicação da reportagem de capa, normalmente estampada nas bancas aos sábados, mostrava já na quinta-feira (23), pela internet, a denúncia de que o ex-presidente Lula e Dilma “sabiam” do esquema de corrupção na Petrobras.
Íntegra degravada da entrevista à TV Record