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Com o maior índice de desaprovação popular desde o ex-presidente Fernando Collor, em 1992, segundo o Datafolha, e ameaças de pedido de cassação, Dilma afirmou que não se amedronta com o atual cenário político nem com as tentativas de quem quer tomar o seu mandato.
“Eu não vou terminar por quê? Para tirar um presidente da República, tem que explicar por que vai tirar. Confundiram seus desejos com a realidade, ou tem uma base real? Não acredito que tenha uma base real.”
Na entrevista, Dilma evitou atrito com o ex-presidente Lula, que, segundo ela, tem direito de falar o que quiser. Mas, ao contrário de seu antecessor, disse não se achar no “volume morto” por causa da crise política e econômica. “Respeito muito o presidente Lula. Ele tem todo o direito de dizer onde ele está e onde acha que eu estou. Mas não me sinto no volume morto não. Estou lutando incansavelmente para superar um momento bastante difícil na vida do país”.
A petista também fez afagos no PMDB, partido que, no comando da Câmara e do Senado, tem imposto sucessivas derrotas ao governo no Congresso. “Quem quer me tirar não é o PMDB. Nã-nã-nã-não! De jeito nenhum. Eu acho que o PMDB é ótimo. As derrotas que tivemos podem ser revertidas. Aqui tudo vira crise.”
A presidente também se defendeu em relação ao processo do Tribunal de Contas da União (TCU) que apura sua responsabilidade em manobras fiscais realizadas pelo governo para ter suas contas fechadas e aprovadas. Ela afirmou que não fez nada que já não tivesse sido feito pelos governos que a antecederam. “Eu não acho que houve o que nos acusam”, disse a respeito das chamadas pedaladas fiscais. O tribunal deu prazo para Dilma se manifestar sob risco de rejeitar suas contas.
A presidente ainda fez críticas à forma com que a Operação Lava Jato tem sido conduzida pelo juiz federal Sérgio Moro. Ela disse estranhar os fundamentos usados para a prisão preventiva de “pessoas conhecidas”, como os empresários Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo, presidentes da Odebrecht e da Andrade Gutierrez.
“Não gostei daquela parte [da decisão do juiz Sergio Moro] que dizia que eles deveriam ser presos porque iriam participar no futuro do programa de investimento e logística e, portanto, iriam praticar crime continuado. Ora, o programa não tinha licitação. Não tinha nada”, criticou.
A presidente voltou a criticar o instrumento da delação premiada, que prevê a redução da pena do acusado em troca de sua colaboração com as investigações. Assim como fizera na semana passada, em visita aos Estados Unidos, a petista fez paralelo entre os delatores de um esquema de corrupção com os delatores da ditadura militar.
“Eu conheço interrogatórios. Sei do que se trata. Eu acreditava no que estava fazendo e vi muita gente falar coisa que não queria nem devia. Não gosto de delatores”, afirmou. “Não gosto desse tipo de prática. Não gosto. Acho que a pessoa, quando faz, faz fragilizadíssima. Eu vi gente muito fragilizada [falar]. Eu não sei qual é a reação de uma pessoa que fica presa, longe dos seus, e o que ela fala. E como ela fala. Todos nós temos limites”, acrescentou.
Para ela, há dois pesos e duas medidas na interpretação do teor dos depoimentos dos delatores. Ela fez referência ao caso de Ricardo Pessoa, ex-presidente da UTC Engenharia, que diz que repassou para a campanha de Dilma R$ 7,5 milhões desviados do esquema de corrupção na Petrobras. “Meu querido, é uma coisa estranha. Porque, para mim, no mesmo dia em que eu recebo doação, em quase igual valor o candidato adversário recebe também. O meu é propina e o dele não? Não sei o que perguntam.”
Veja a entrevista concedida por Dilma na Folha a Maria Cristina Frias, Valdo Cruz e Natuza Nery
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