Desde então, outros bancos de investimento de Wall Street foram varridos do mapa ou mudaram de ramo. Outras companhias financeiras que pareciam inabaláveis, como a seguradora AIG e o Citibank, só se salvaram após a intervenção do governo. Assim como as montadoras GM, Ford e Chrysler. A crise corroeu metade do valor de mercado das bolsas no mundo. A taxa de desemprego americana chegou a 6,7%, a maior desde outubro de 1993. Não é a primeira vez que a economia mundial salta diretamente da euforia para a depressão.
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Crises são freqüentes, resultado da combinação entre ganância, irracionalidade, desconhecimento de muitos, esperteza de poucos. Esta crise, como outras, resultou da falta de segurança nas regras do jogo. A confiança necessária entre emprestadores e tomadores de empréstimo descambou para o descontrole. Dívidas foram travestidas de crédito. Crédito foi dado a quem não podia pagar.
A ministra com costas quentes
Aparentemente, a idéia era encontrar gastos igualmente pouco republicanos do ex-primeiro casal Fernando Henrique Cardoso e, assim, constranger a oposição. Sendo a Casa Civil o domínio da ministra e estando sua principal assessora diretamente envolvida no imbróglio, era de esperar que sobrasse para ela. Tudo se resolveu milagrosamente, porém, quando uma sindicância interna – da Casa Civil – concluiu que o dossiê não era dossiê e, sim, um "banco de dados", embora ninguém tenha entendido que diferença isso faz.
No mês em que o escândalo do dossiê – quer dizer, do banco de dados – estourou, um levantamento do Datafolha apontou que Dilma tinha míseros 4% de intenção de votos. No início de dezembro, uma nova pesquisa feita pelo mesmo instituto mostrou um crescimento de 8 pontos em torno do seu nome. O PAC pode ter terminado o ano cambaleante. Mas Dilma Rousseff, essa sim, acelerou e cresceu, no melhor cenário.
O bicho-papão mais feio que pode emergir dela é a possibilidade legal de permitir uma terceira eleição consecutiva a Lula ou até mesmo de prorrogar sua permanência no Palácio do Planalto. Esse golpe branco é aventado com mais intensidade sempre que é anunciado um pico de aprovação do presidente. Nessas horas, surgem petistas e aliados do governo que tentam vender gato por lebre. Ou seja, popularidade por legitimidade para esculhambar as instituições. O deputado Carlos Willian de Souza, do PTC de Minas Gerais, disciplinado soldado da tropa de choque oficial, é uma das vozes do casuísmo mais estridentes. Ele anunciou que, em fevereiro próximo, tão logo sejam reabertos os trabalhos legislativos, vai materializar a proposta de re-reeleição de Lula. "Há vários deputados que, apesar de se dizerem contrários em público, no momento propício votarão pela possibilidade de mais um mandato do presidente", anima-se Willian.
Lula figura em 18º lugar na lista das 50 personalidades mais poderosas do mundo feita pela revista americana Newsweek. Ficou na frente de Bill Gates (fundador da Microso ), de Oprah Winfrey (a mais famosa apresentadora de tevê dos EUA) e de Rupert Murdoch (magnata das comunicações). Lula é elogiado por ter colocado o Brasil entre as "economias emergentes mais saudáveis do mundo". No topo da lista está Barack Obama.
Brasil confidencial
Sou filho de branco com preto. Nasci em 20 de maio de 1959, em Salvador. Meu pai era da Marinha de Guerra, ex-combatente da Primeira Guerra Mundial. Aos meus três meses, foi para o Rio, participar de uma intervenção. Era o almirante Protógenes Guimarães. Por isso meu nome. Minha mãe embarcou num avião da FAB, eu e meus outros nove irmãos. Primeiro fui morar num bairro de Niterói, Barreto, num sobrado de frente pra praia.
Não, eu tinha consciência do que era certo, errado, meu pai era um crítico do regime.
Ele homem do regime, mas crítico. Dizia que depois de Castelo Branco [chefe do primeiro governo militar, 1964-1966] não existia um governo militar que prestasse, que estavam cometendo muito excesso.
No colégio, jogava futebol escondido, meu pai dizia que era coisa de vagabundo.
Bem. Meu apelido no Niteroiense era Ferretão: magro, comprido. Um meio-campo avançado. E no colégio Hélder Câmara me desperta a atenção um professor de geografia chamado Milton, usava bolsa de couro, barbichinha. Um contestador. Falei “o canal é esse, área humana”. Montamos um minigrêmio. E, numa feira de ciências, a professora Marlene ficou orgulhosa, era a empreendedora, chamou autoridades, inauguração de novas salas, e destinou uma para o nosso trabalho. De madrugada, pichamos o muro: Terrorismo é ditadura que mata e tortura. Já causou um estrago danado. Aí tá lá o senador Saturnino Braga, o prefeito, comandante do Exército, da Polícia Militar, Marinha. E chega na nossa sala, trancada. Quando ela pediu para abrir, era uma sala de tortura. Tinha pau-de-arara com boneco, boneco com fio na cabeça. A professora “ah, meu Deus! Desculpe! Fecha tudo isso aí”. E minha turma espalhando jornalzinho, o Alerta Geral.
Pedíamos eleição direta, perguntávamos por que presidente general, pedíamos a melhoria do ensino, que tinha que ser público. E todo o mundo se mandou, a polícia atrás. Chegou a professora Marlene, meu pai falou “menino, você tá louco, os professores vão ser presos, cadê o jornal que você fez?”. Deu quase expulsão.
É, 1976.
Exatamente. Vou estudar na Faculdade Brasileira de Ciências Jurídicas, particular. Meu pai acreditando que tava fazendo engenharia. Tinha uma intervenção no diretório, comecei a contestar. Ouvi colegas dizer “você vai encontrar espaço para discutir no Centro Acadêmico da Nacional”.
Um lixo a escola pública paulista: uma escola estadual (Amadeu Amaral) foi inteiramente depredada em meados de novembro último na cidade de São Paulo e não se viu a cara nem se ouviu a voz de nenhum professor do estabelecimento. Também não se ouviu a direção, não se sabe o que pensa o corpo docente, o que vive, o que experimenta dentro daqueles muros de degradação. Já ouvi instituições de respeito afirmar que o governo Serra amordaça professores e funcionários, proibindo-os de dar entrevistas ou de se manifestar sem autorização sobre qualquer situação que envolva a escola e a educação. O governo Serra ameaçaria professores, diretores e demais funcionários com a aplicação da lei do funcionalismo público, que proíbe o servidor de se pronunciar com críticas ao órgão em que trabalha.
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