Época
Falta de dinheiro não é problema para eles
Nos próximos dias, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e centenas de políticos deixarão seus cargos públicos em todo o país para disputar as eleições. Até outubro, sob a vigilância da Justiça Eleitoral, essa turma buscará votos para se eleger. Paralelamente, longe dos olhos, aliados de Serra, de Dilma e de todos os políticos se movimentarão de forma discreta em busca de dinheiro para sustentar essa busca por votos. Eles são os responsáveis por captar os recursos necessários para pagar marqueteiros, programas de televisão, cabos eleitorais, carros de som e toda a estrutura necessária das caras campanhas eleitorais brasileiras.
Na semana passada, o custo das campanhas começou a ser questionado com a divulgação dos primeiros gastos do PT para a pré-campanha da ministra Dilma Rousseff. O partido alugou uma casa no Lago Sul, área nobre de Brasília, por R$ 12 mil mensais para Dilma morar. Pagará a ela um salário de R$ 17.800, já que Dilma não receberá mais como ministra. Ela também terá cinco assessores, que receberão R$ 11 mil mensais cada um. O PT fechará um contrato com uma empresa de táxi-aéreo para que Dilma tenha jatinhos a sua disposição 24 horas por dia. O PT também contratou a Blue State Digital, a empresa responsável pela revolucionária estratégia de campanha pela internet do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
A maioria dos políticos e profissionais acredita que a campanha eleitoral deste ano tende a ser a mais cara da história. Os partidos terão cerca de R$ 160 milhões do fundo partidário, formado por recursos públicos que são divididos entre os partidos de acordo com seu tamanho. Mas é pouco para bancar tudo. De acordo com o cientista político Gaudêncio Torquato, que atua também como consultor na área de comunicação, os candidatos poderão gastar até R$ 2 bilhões neste ano (leia o quadro na última página). “Os candidatos vão gastar muito em televisão e na logística”, diz Torquato. As campanhas de Dilma e de Serra não deverão custar menos de R$ 150 milhões cada uma. De acordo com o presidente do PT, José Eduardo Dutra, 80% das despesas da campanha presidencial e das campanhas para governador serão consumidas em propaganda na televisão e no rádio. O segundo item mais caro será o transporte, que inclui aluguel de jatinhos e carros. “A campanha será cara por causa da concorrência por profissionais”, diz Dutra. Para bancar tudo, os partidos terão de ir ao mercado.
Sindicalismo eleitoral
A julgar pelo comportamento dos sindicalistas que controlam as entidades de classe do funcionalismo público paulista, o calendário eleitoral de São Paulo deveria incorporar também uma onda de greves. Isso é o que vem ocorrendo sistematicamente a cada dois anos desde que o tucano Mário Covas (1930-2001) assumiu o governo do Estado, em janeiro de 1995. Agora, com o governador José Serra pronto para deixar o Palácio dos Bandeirantes e entrar na disputa pela Presidência, a onda de greves e protestos volta a se levantar.
Os sindicatos dos servidores de três áreas vitais do governo, Educação, Saúde e Segurança, deflagraram paralisações ou operações-padrão a poucos dias do prazo legal para que Serra deixe o cargo de governador para concorrer ao Palácio do Planalto. Eles reivindicam aumentos salariais, protestam contra o que chamam de “falta de diálogo” por parte do governo tucano e passaram a seguir Serra em eventos públicos, quase sempre inaugurações de obras.
A Suíça deixou de lavar mais branco
A Suíça se notabilizou como um dos mais sofisticados paraísos fiscais do mundo. O pequeno país, localizado no centro da Europa, oferece tributação baixa ou nula, facilidades na abertura de empresas e, principalmente, sigilo da identidade do dono do dinheiro. Com tantas vantagens, os bancos suíços se tornaram um lugar atraente para corruptos, ditadores e milionários interessados em esconder fortunas adquiridas de forma ilícita. De dois anos para cá, as autoridades locais, preocupadas em desfazer a imagem da Suíça como destino de dinheiro sujo, começaram a mudar de comportamento. Investigadores de outros países agora encontram menos obstáculos para obter informações sobre as contas secretas e têm mais chances de repatriar fortunas de origem criminosa.
Um dos melhores exemplos dos novos tempos aconteceu na semana passada. Uma ação do governo da Suíça bloqueou US$ 3 milhões de uma conta aberta em nome da Lithia, típica empresa de fachada aberta em paraíso fiscal. Pela conta transitaram cerca de US$ 13 milhões. Nos registros bancários, segundo os investigadores, a única pessoa autorizada a fazer movimentações é Fernando Macieira Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O bloqueio, de acordo com a notícia revelada pelo jornal Folha de S. Paulo, ocorreu quando Fernando tentava transferir recursos para o principado de Liechtenstein, outro paraíso fiscal, localizado entre a Áustria e a Suíça. O Ministério da Justiça confirmou a localização e o bloqueio do dinheiro.
Veja
O kit da candidata e um luxo
A petista Dilma Rousseff sairá a pé do Palácio do Planalto nesta quarta-feira para percorrer a jornada eleitoral que, daqui a nove meses, poderá conduzi-la de volta ao poder pelo elevador privativo que leva ao gabinete do presidente da República. Dilma deixará o cargo de ministra da Casa Civil para se consagrar exclusivamente à pré-campanha, que dura até o fim de junho, quando a lei eleitoral estabelece o início oficial do pleito presidencial. O PT montou uma estrutura de primeira linha para a ministra. Ela receberá salário, contará com cinco assessores, voará de jatinho e vai se hospedar em uma confortável casa em Brasília (veja o quadro). Quem fechará esses contratos e pagará todas as despesas? Ele, o novo e já notório tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, o homem que, segundo depoimentos em poder da Procuradoria-Geral da República colhidos durante o mensalão, cobrava propina de quem quisesse fechar negócios com os fundos de pensão das estatais – e que, de acordo com o promotor José Carlos Blat, participou dos desvios na Bancoop, a Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo. À frente dos gastos com a pré-campanha petista, Vaccari por enquanto é o Delúbio Soares de Dilma. Pelo menos na prática.
É assim que começa
Em julho de 2007, Joaquim Roriz renunciou ao mandato de senador para evitar a cassação e não perder os direitos políticos até 2022. Flagrado pela polícia numa conversa telefônica negociando a partilha de 2,2 milhões de reais de origem supostamente ilícita, o ex-quatro vezes governador do Distrito Federal também é padrinho, mentor e beneficiário do esquema de propinas que soterrou José Roberto Arruda, deputados e empresários da capital do país. Ex-petista e ex-peemedebista, Roriz é um espécime clássico do político-problema, de quem se deveria manter distância asséptica em ano eleitoral. Certo? Errado. Na segunda-feira passada, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu em São Paulo o coronel candango, que, por incrível que pareça, lidera as pesquisas de intenção de voto para o governo do Distrito Federal. A aproximação faz parte de uma ofensiva destinada a convencer o partido de Roriz, o PSC, a apoiar formalmente a campanha do governador José Serra ao Palácio do Planalto. Apesar de a negociação entre as legendas estar em curso, a revelação do encontro causou um aparente mal-estar entre os tucanos. “Em Brasília, o melhor a fazer é apoiar um nome acima de qualquer suspeita, suprapartidário”, ponderou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra.
O último a saber
O deputado federal Ciro Gomes é um político transparente, que não costuma esconder de ninguém suas convicções. Ciro já acreditou que poderia ser o candidato do presidente Lula nas eleições de outubro – e anunciou isso em alto e bom som. Depois, convencido pelo presidente de que talvez fosse melhor disputar o governo de São Paulo, topou o papel de títere e transferiu seu domicílio eleitoral do Ceará para a capital paulista. Agora, Ciro se diz novamente convencido de que será candidato à Presidência, mesmo sem o apoio do PT. “Tenho 99,47% de chance de ser candidato”, diz. “Só quem pode me tirar da disputa é o PSB, que é o meu partido, e mamãe.” Dona Maria José não faria uma maldade dessas. Já o PSB… Ciro ainda não sabe, mas, ao contrário do que imagina, há, sim, uma probabilidade realmente quase absoluta, mas de ele não ser candidato a nada. Avalizado pelo governo, o partido já decidiu que não dará a legenda ao deputado – discute tão somente a hora apropriada e a melhor maneira de lhe dar a notícia.
Istoé
Procurados pelo mundo
No mundo globalizado, a cooperação entre as polícias internacionais tornou-se uma das armas mais letais de combate ao crime, e a Interpol se sofistica nessa direção. A organização hoje conta com 188 países-membros, dentre os quais o Brasil, e tem uma rede de troca de informações conhecida pelo código I-24/7 (Interpol – 24 horas/7 dias por semana), que se ramifica em difusões. Ao todo são cinco, cada qual de uma cor em razão do tipo de informação que dissemina. A estrela da companhia é a Difusão Vermelha, que prevê a prisão de foragido internacional para fins de extradição e cuja lista integra 98 mil nomes. Desses, 325 são procurados pela Justiça brasileira. Alguns famosos, como o deputado Paulo Maluf (PPSP) e seu filho Flávio, as mais novas aquisições da vertente tupiniquim na Difusão Vermelha, ou o banqueiro Salvatore Cacciola, que foi capturado em 2005 graças a esse recurso.
A hora da faxina
Sete meses depois de ser entregue ao presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), o projeto de iniciativa popular que veta a participação de políticos fichas-sujas nas eleições – já a partir deste ano – está na agenda da Casa para ser votado no dia 7 de abril. É um prazo curto diante da morosidade de muitos temas que, às vezes, chegam a tramitar anos no Legislativo. Essa rapidez pode até dar a impressão de que o artigo 14, inciso 3º, foi incluído na Constituição para, realmente, fazer valer a soberania popular. Mas, a julgar pela movimentação dos parlamentares nos bastidores, este é mais um artigo incluído na Carta Magna pelos constituintes para dar-lhe um caráter de cidadã, mas, na prática política, é difícil de ele sair do papel. A partir do momento em que Temer resolveu colocar o assunto em votação, na terça-feira 23, deputados de todos os partidos desencadearam uma articulação conjunta na tentativa de desfigurar o texto do projeto.
O sonho de Lula
A nove meses de deixar o Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva movimenta- se em duas frentes. No Brasil, a meta é eleger a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, sua sucessora. No Exterior, o candidato é ele mesmo. Lula acelerou, nos últimos meses, a estratégia para tornar-se secretário-geral das Nações Unidas, posto máximo na burocracia internacional, hoje ocupado pelo sul-coreano Ban Ki-moon. A tática dos assessores encarregados da campanha lá fora é associar a imagem de Lula à resolução de conflitos internacionais. Por isso, as viagens protocolares estão sendo substituídas por ações cirúrgicas em regiões de desastres e áreas de notório impasse político. É a chamada “agenda de crise”, na definição dos diplomatas. Mesmo sem assumir ostensivamente sua ambição, Lula age como candidato e não poupa caneladas à gestão de Ban Ki-moon, cujo mandato termina no ano que vem. Foi o que o presidente fez há duas semanas, quando desembarcou em Israel pregando o diálogo entre israelenses e palestinos. “A ONU é que poderia estabelecer o processo de paz. À medida que não cumpre esse papel, existe um vácuo”, disse Lula. Em fevereiro, ele já havia acusado a ONU de inação na questão da soberania argentina sobre as ilhas Malvinas.
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