Com seu candidato desgastado por denúncias e com o seu companheiro de partido, o governador Luiz Fernando Pezão, atolado em uma das maiores crises financeiras do estado, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) terá dificuldade para fazer sucessor. A avaliação é da própria direção do PMDB fluminense. Mas também é compartilhada por opositores do atual prefeito, que concluirá seu segundo mandato meses após a realização dos Jogos Olímpicos. A fragilidade do partido, no momento, inflacionou o número de pré-candidatos à prefeitura do Rio. Pelo menos oito partidos planejam candidaturas próprias (PRB, PSD, PSDB, Psol, PCdoB, Pros, Rede e PSDC). Outros dois (PSB e PP) ainda avaliam a possibilidade de entrar na disputa.
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Quatro deputados federais – Alessandro Molon (Rede), Jandira Feghali (PCdoB), Índio da Costa (PSD) e Hugo Leal (Pros) –, um estadual, Marcelo Freixo (Psol) – e um senador, Marcelo Crivella (PRB), são dados como nomes certos de seus partidos para tentar interromper os oito anos consecutivos da gestão peemedebista. Embora não tenha anunciado oficialmente, o PSDB terá candidato próprio e está em dúvida entre quatro nomes: o humorista Marcelo Madureira, do Casseta e Planeta, o economista Sérgio Besserman, o deputado estadual Luiz Paulo e o presidente da sigla no Rio, o deputado federal Otávio Leite. A proximidade entre Paes e a presidente Dilma também é atacada por pré-candidatos que se opõem ao prefeito e à presidente.
Lei Maria da Penha
Essa ampla concorrência encontra força no desgaste do pré-candidato escolhido por Paes para buscar a continuidade do PMDB na prefeitura: Pedro Paulo, deputado licenciado e atual secretário municipal de Coordenação de Governo. Contra ele pesam duas denúncias de agressão à ex-mulher, uma registrada em 2008 e outra em 2010. Em depoimento à Polícia Civil, Alexandra Mendes Marcondes relatou que foi agredida com chutes, socos e agarrões no pescoço.
Laudos do Instituto Médico Legal (IML) obtidos pelo jornal O Globo mostram que exames de corpo de delito de Alexandra comprovaram as agressões. No mesmo documento, Pedro alega também ter sido vítima de agressões durante a briga, mas ele nunca prestou depoimento em delegacia. O caso foi encaminhado para o Ministério Público. Em coletiva à imprensa, em novembro, ela disse que perdoou o ex-marido pelo ato de violência. “Eu cometi um erro. Eu traí minha mulher. Você imagina a dificuldade e o calor dessa discussão”, disse Pedro Paulo na mesma entrevista.
PublicidadeO presidente do PMDB no Rio, Jorge Picciani, reconhece que a acusação pela Lei Maria da Penha é o grande desafio que Pedro Paulo terá de encarar. “É algo que não subestimamos e achamos grave. Mas cabe ao Pedro responder a isso, e ele tem vantagem de conseguir perdão público da ex-mulher. Não esperamos flores dos adversários, mas sabemos como a população do Rio é generosa e respeita aquele que tem humildade de pedir perdão”, afirmou.
Saúde e Olimpíada
Acusações à parte, o próprio PMDB enfrenta problemas de popularidade no cenário de crise. O caos na rede pública estadual de saúde abalou a administração do governador Luiz Fernando Pezão e respingou na imagem de Paes, o que também complica ainda mais a situação de Pedro Paulo. Em pesquisa divulgada em dezembro de 2015, o índice de desaprovação do prefeito era de 54,5%, segundo o Instituto Paraná Pesquisas.
Também há expectativa de como as Olimpíadas poderão influenciar na decisão dos eleitores. Um evento sem grandes problemas atuaria a favor dos peemedebistas, mas os adversários devem criticar o legado deixado pelos jogos diante da crise no estado.
“A situação na saúde e o rombo nas contas públicas faz com que a população questione os gastos da prefeitura”, disse Crivella ao Congresso em Foco. O discurso é corroborado pelo deputado Índio da Costa: “Não existe nenhum legado social, pois não se avançou nas áreas de segurança, saúde e formação de uma cultura esportiva”.
A expectativa entre os pré-candidatos é que os Jogos Olímpicos impulsionem o turismo na capital fluminense, o que reforçaria a economia da cidade e os cofres da prefeitura.
Segundo turno
Entre os principais rivais do governo na disputa, tanto Crivella quanto Índio e Freixo reconhecem que a vulnerabilidade do PMDB aumenta o interesse nas eleições deste ano em relação a de 2012. Na época, Paes não deu chance aos adversários e se reelegeu com folga no primeiro turno.
Desta vez, Jorge Picciani reconhece que o objetivo inicial é chegar ao segundo turno. “Nenhum entre os principais candidatos tem força para vencer no primeiro turno. Não temos dúvida de que será uma eleição dura”, analisou.
Efeito PT
A oposição ainda acredita em aumentar o desgaste de Pedro Paulo devido à rejeição dos cariocas ao PT, que agora é aliado do governo no Rio. Segundo a mesma pesquisa do Instituto Paraná, um anúncio de apoio da presidente Dilma Rousseff diminuiria em 58,1% a vontade dos eleitores em votar no candidato.
Candidato a vice-presidente na chapa de José Serra (PSDB) na eleição presidencial de 2010 pelo DEM, Índio da Costa disse ao Congresso em Foco que se apresentará como um opositor ao governo federal para aproveitar a crise do PT, pois o partido da presidente Dilma tem conexões políticas com a maioria dos rivais, principalmente com o PMDB carioca. “Muitos candidatos têm a mesma linha ideológica e vão dividir votos. Sou o único que não tem ligação com o PT e, inclusive, defendo o impeachment. Se o quadro for esse, eu ganho”, garantiu o deputado.
Índio, porém, não será o único de oposição na disputa pela prefeitura. “A ideia é trabalhar uma aliança em contraposição ao Paes, que é o aliado mais entusiasmado da Dilma. O PMDB do Rio é o mais vinculado ao PT, e esse eixo que queremos derrotar”, comentou o deputado Otávio Leite, que tenta ser o candidato do PSDB.
Picciani apostará na mesma fórmula que levou outro novato do PMDB em eleições do Executivo à vitória. A estratégia é fazer com que o eleitor conheça Pedro Paulo, da mesma forma que, em 2014, o partido emplacou Pezão como governador do Rio. O atual governador, porém, já era conhecido como vice e braço direito de seu antecessor, Sérgio Cabral. Apesar da crise do PT, o presidente estadual do PMDB também confia que a aliança pode ajudar a aumentar a militância na campanha.
Desconforto
Enquanto isso, Freixo trabalha para evoluir sua base de eleitores. Deputado estadual mais bem votado no Brasil em 2014, ele acredita que são grandes as chances de a disputa ser decidida apenas no segundo, o que explica, em boa parte, a pulverização de candidaturas à esquerda e à direita. “Não é uma reeleição, o que seria mais fácil. A candidatura do PMDB enfrenta uma rejeição muito forte por causa da acusação de agressões, ainda mais contra uma mulher. Isso provoca desconforto em alguns setores que poderiam estar com os peemedebistas, e por isso toda essa divisão”, opinou.
Apesar da empolgação dos rivais, o tempo em 2016 para convencer os eleitores será menor. Os candidatos serão oficializados só em 15 de agosto, não mais em julho, o que garante um tempo de apenas 45 dias para a campanha. No rádio e na TV, são 35 dias de propagandas, mas as inserções comerciais terão tempo maior. Além disso, começa a valer este ano a regra que veta financiamento empresarial das campanhas.
Na pesquisa de intenção de voto feita pelo Instituto Paraná no Rio de Janeiro, Crivella aparece como líder com 33,7%, seguido por Romário (21,1%) e Freixo (9,7%). Pedro Paulo aparece apenas em quinto lugar, com 3,9%. A chave para mudar o resultado pode estar nos indecisos, já que 7,1% dos entrevistados não souberam, e 8,5% não quiseram escolher nenhuma das opções. Romário sinaliza que não vai disputar a eleição, como pretendia, mas priorizar o seu mandato no Senado. O nome dele perdeu força após denúncias de que tinha dinheiro não declarado no exterior e de homicídio contra um de seus assessores (leia mais sobre Romário).