As inacreditáveis decisões da suprema Corte desnorteiam os mais experientes juristas, advogados, e, até mesmo, psicólogos, psiquiatras e curiosos do comportamento humano. Se, por um lado, a Corte é constituída por escolhidos dentre amigos ou apadrinhados políticos inoculados pela preferência pessoal do presidente da República; por outro, os réus são defendidos por luminares deste nosso confuso processo judicial.
O resultado dos julgamentos, quase sempre tomados liminarmente, é o que chega à população com o desconforto sobre o que é certo ou errado. O que resta é o deserto de personagens que possam, com clareza, indicar o porto seguro no mar revolto e de lama em que nos meteram.
Ao mencionar deserto, vale relatar que estive no Atacama, Chile; lá, milhares de turistas percorrem o chão duro, montanhas e cavernas em busca de respostas para o inusitado local. Uns querem purificar suas vidas nas águas frias ou quentes que brotam misteriosamente da terra salgada. Outros, poeticamente, querem ouvir estrelas espalhadas no céu espetacularmente azul.
Naquela imensidão silenciosa é possível comparar o nosso deserto de lideranças com a crueza da natureza e dos movimentos políticos que sufocam muitos dos nossos vizinhos.
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Farsantes disfarçados de democratas mudam as regras políticas e se perpetuam no poder, maltratando seu povo e envidando esforços para transformar o continente em repúblicas bolivarianas voltadas para encher bolsos de dinheiro público, prender e matar a população indefesa.
Neste tempo árido e inóspito que nos encobre é necessária redobrada atenção para não nos deixar cair no canto da sereia das soluções imediatistas para acabar com a praga da corrupção, da desfaçatez, do foro privilegiado, da sempre esperada prescrição, e, finalmente, dos malabarismos jurídicos que fazem tremer nos túmulos nossos respeitáveis juristas que já partiram para o mundo do silêncio e da vida eterna.
Imaginemos os ministros que passaram pelos tribunais superiores que, por resistência à disfarçada ditadura, foram aposentados por atos de exceção, como hoje se faz na Venezuela, assomarem a sagrada tribuna da Corte Suprema para defender réus prepotentes, desrespeitosos e condenados a penas fundamentadas em provas inequívocas que saem às ruas para provocar, com suas milícias, a população.
Os movimentos sociais estão sendo organizados para demonstrar a desconfiança dos brasileiros nas decisões que poderão, num passe de mágica, libertar os líderes da quadrilha que arrasou nossas finanças públicas.
Nessas manifestações voltarão os confrontos entre baderneiros e forças da segurança. Será terreno fértil para insuflar violência e depredação. Os milicianos, a serviço dos excluídos pela Justiça e dos seus cargos regiamente abastecidos por contabilidades forjadas, se esforçarão para conseguir um novo cadáver e distribuir imagens pelas redes sociais.
Não nos deixemos enganar pelo fogo amigo e certeiro que não atingiu nenhuma parte vital do moderno cavalo de Tróia que tenta entrar em nossas cidades, levando em seu ventre os maléficos efeitos de um líder sem caráter e condenado pela Justiça. Cadeia neles é o que, definitivamente, é esperado.
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