Celso Lungaretti *
Enquanto se discute Dilma x Temer como se a opção fosse entre méritos e deméritos pessoais, a recessão continua se aprofundando e conduzindo o povo brasileiro à penúria e ao desespero.
Eis o que nos informa o Agora:
“No primeiro trimestre deste ano, o número de desempregados atingiu 11,1 milhões, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Segundo Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Renda do IBGE, a alta do desemprego ocorre por conta da manutenção do cenário econômico ruim no país. No período, a taxa de desemprego chegou a 10,9%, a maior desde o início da série histórica, que começou em 2012. O aumento se deve tanto ao fechamento de vagas quanto à entrada de mais pessoas em busca de novos postos de trabalho.” (veja aqui mais sobre o tema)
Então, o que deveríamos estar discutindo é:
. Se a Dilma milagrosamente salvar-se do impeachment no Senado, depois de passar meses afastada da Presidência da República, terá alguma chance de reverter a tendência de piora incessante dos índices econômicos? A resposta, claro, é não. Seu governo está paralisado há 16 meses e assim continuaria na nova fase, pois se criou um abismo entre ele e os oposicionistas. Fazer da política uma guerra tem o inconveniente de impossibilitar que sejam lançadas pontes entre as respectivas trincheiras.
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. Temer tem condições de dar uma guinada na economia? Aparentemente não, mas erram os petistas ao subestimar o poder de fogo do grande capital, que pode injetar grana suficiente no mercado para gerar um milagre brasileiro em miniatura, mais efêmero ainda do que o anterior (aquele durou quatro anos), mas suficiente para influir na decisão do Senado sobre a perda definitiva do mandato de Dilma e na disputa eleitoral de 2018.
. Quais as consequências de cada hipótese? A volta de Dilma ao poder no final do ano levaria a crise econômica aos píncaros, colocando o país sob enorme risco de convulsão social e de soluções de força. A consolidação de Temer no poder teria enorme custo político, econômico e social, pois governaria sob fogo cerrado do PT e de outras forças de esquerda.
Voltamos à pergunta clássica de Lênin: o que fazer?
A melhor opção para o país e para o povo, indiscutivelmente, é a de uma nova eleição presidencial, pois assim o povo escolheria quem julgasse realmente apto para conduzi-lo em circunstâncias tão dramáticas como os atuais (em termos formais, é falso dizer que Temer não teve votos, pois os 54,5 milhões do 2º turno foram para ambos e não apenas para Dilma, mas todos sabemos que o eleitorado só presta atenção em quem encabeça a chapa).
Enfim, o tempo urge e, para que vingue uma proposta de emenda constitucional acrescentando um novo pleito presidencial às eleições municipais de novembro, será necessária uma mobilização imediata e total de quem se opõe a um governo Temer.
E é aí que a porca torce o rabo. O PT pretende esperar que o Senado afaste Dilma no dia 11 de maio, para só então, talvez, começar a fazer campanha pelas novas diretas já.
Enquanto isso, Dilma se propõe a arrastar sua agonia até o mais amargo fim, na esperança de uma (pra lá de improvável) salvação no Senado, depois de passar meses no périplo chororô, percorrendo o mundo para tentar fazer passar por golpe um episódio igualzinho àquele que, em 1992, ficou corretamente conhecido como mero impeachment.
Se o PT fizer, ao mesmo tempo, duas apostas que apontam em direções contrárias (1. salvar o mandato de Dilma; e/ou 2. forçar a realização de nova eleição presidencial), parecerá a todos que quer apenas dar um pulo do gato, prevalecer de um jeito ou de outro. Então, jamais conseguirá mobilizar forças suficientes para alcançar qualquer um dos objetivos.
Como Dilma e o partido já admitiram que o Senado determinará inexoravelmente o afastamento temporário no dia 11, agora é o momento exato para a última iniciativa capaz de ainda alterar o rumo dos acontecimentos: Dilma renunciar e exigir publicamente que Temer faça o mesmo, em nome dos interesses superiores do povo brasileiro, que não aguenta mais os sofrimentos que lhe estão sendo impostos.
Aí, sim, a campanha pelas novas diretas já poderá decolar e fazer a diferença. Caso contrário, Dilma, na verdade, estará agindo exatamente como convém para os planos do Temer.
* Celso Lungaretti é jornalista, escritor e ex-preso político. Edita o blogue Náufrago da Utopia.
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