O nascimento ou a morte da CPI mista do Corinthians deve acontecer até a meia-noite de hoje (8). E quem deve bater o martelo é a Câmara, onde continua a pressão para que deputados retirem as assinaturas do requerimento de criação da comissão. No Senado, a margem para o início das investigações é tranqüila.
De acordo com o deputado Sílvio Torres (PSDB-SP), um dos autores do requerimento de criação da CPI, até a tarde de ontem havia 188 assinaturas na Câmara, pouco mais que as 171 exigidas regimentalmente. Entre os senadores, havia 43 apoios formalizados – o mínimo necessário é de 27.
Apesar disso, Torres não era dos mais otimistas. Ele prevê que mais deputados retirem suas assinaturas por pressão dos governadores e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Ao lado do petista Dr. Rosinha (PR), o tucano chegou a recolher 263 assinaturas para iniciar as investigações. Porém, mais de 70 deputados recuaram na semana passada, como mostrou o Congresso em Foco (veja a lista).
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Entre os governadores que mais pressionaram os parlamentares, estão o de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), e o do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM). Alguns congressistas “arrependidos” admitiram aos autores do requerimento ter recebido telefonemas de seus estados com apelos para que retirassem seus nomes da lista. (leia mais).
O argumento é o mesmo propagado pela CBF: as investigações no Congresso poderiam levar a Fifa a voltar atrás em sua decisão e tirar do país a condição de sede da Copa de 2014. A vinculação entre as duas coisas, no entanto, foi descartada pelo próprio presidente da entidade máxima do futebol, o suíço Joseph Blatter.
A expectativa é de que haja o número mínimo de assinaturas na leitura do ato de criação da CPI, previsto para as 12h, quando deputados e senadores se reunirão em sessão conjunta do Congresso Nacional. Mas os parlamentares têm até meia-noite para retirarem o apoio às investigações.
“Está nesse processo de tira e põe”, admitiu ontem à tarde Torres, que ainda tentava conseguir mais apoios. Ele ainda tentava reconquistar alguns dos 75 que desistiram, semana passada, de assinar o requerimento de criação da CPI. “Sílvio, ganhei duas camisas da CBF [Confederação Brasileira de Futebol] hoje. Vou retirar minha assinatura”, brincou o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), no plenário.
Brincadeiras à parte, o deputado Dr. Rosinha se diz “pessimista”. “Mesmo que tenhamos número suficiente, a inibição de qualquer investigação vai ser presente com essa disputa pré-CPI. Será uma CPI travada”, avaliou ele.
Sem apoio suficiente na Câmara, mas com certa margem de folga no Senado, o plano “B” é criar uma comissão apenas entre os senadores. O autor da idéia é Alvaro Dias (PSDB-PR), responsável pelo recolhimento das assinaturas entre os senadores. Caso a comissão do Congresso seja enterrada por causa do recuo dos deputados, o tucano admite levantar novamente as 27 assinaturas necessárias para a instalação da CPI apenas no Senado.
Transferências de jogadores
A CPI pretende investigar evasão de divisas, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal nas transferências milionárias de jogadores do Brasil para o exterior. A investigação tem como base a parceria entre o Corinthians e o fundo de investimentos Media Sport Investiment (MSI), representado pelo iraniano Kia Joorabchian. Em 2005, o clube paulista conseguiu trazer para a equipe astros argentinos, como Carlitos Tevez e Mascherano, e faturou o campeonato brasileiro daquele ano.
Em setembro, a Polícia Federal deflagrou a Operação Perestroika, que investiga as relações entre o clube brasileiro, a MSI e o russo Boris Berezovski, sócio da MSI e apontado como financiador da parceria. Mas a intenção dos defensores da CPI é ir mais fundo e apurar crimes contra o sistema financeiro e a ordem tributária praticados por todos os clubes.
Segundo Álvaro Dias – que presidiu a CPI do Futebol em 2000 e 2001 –, os delitos são os mesmos investigados anos atrás. Porém, a partir de fatos novos. “Não vamos mexer lá atrás. Nosso objetivo é ver de 2002 para frente. Há a repetição dos crimes. Os clubes não aprenderam. A impunidade estimulou [a repetição]”, comentou o senador.
Ele ressalvou que houve algumas condenações judiciais em decorrência da CPI do Futebol, mas destacou que uma ação contra o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, foi trancada pela Justiça Federal do Rio de Janeiro. Na opinião de Álvaro, houve favorecimento ao cartola por causa de suas relações com o Judiciário e o Executivo.
Investigação sobreposta
Contrário à CPI do Corinthians, o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) afirma que o Congresso Nacional não deve se meter no assunto. “Não há dinheiro público. A Polícia Federal e a Receita são os órgãos competentes e estão investigando. Por que uma CPI aqui para investigar o Corinthians?”, diz Perondi.
Ele acredita que a tendência é a CPI mista não ser aprovada pelos congressistas. Apesar de ser apontado como um dos operadores do “abafa” à criação da comissão, Perondi diz desconhecer qualquer movimento desse tipo. Na campanha eleitoral do ano passado, ele recebeu R$ 100 mil da CBF para financiar seus gastos à reeleição na Câmara.
Além dele, a Confederação doou R$ 100 mil para a líder do governo no Congresso, senadora Roseana Sarney (PMDB-MA). Para os senadores Marconi Perillo (PSDB-GO) e Leomar Quintanilha (PMDB-TO) e para o deputado José Rocha (PR-BA), foram R$ 50 mil cada. A reportagem não conseguiu falar com a assessoria da CBF.