Renata Camargo
O diretor da coordenação da Polícia Judiciária da Câmara, Antônio Carlos Croner de Abreu, disse nesta quinta-feira (25) que deputados podem ter assinado “inadvertidamente” os documentos que possibilitaram as fraudes do golpe da creche e do vale-transporte. Responsável pelas investigações na Câmara, o diretor afirma que materiais dos gabinetes foram encaminhados para o Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal para verificar os autores dos documentos fraudados.
Segundo denúncias do Congresso em Foco, os golpes envolviam servidores da Casa que contratavam funcionários fantasmas, distribuíam falsos benefícios para pessoas carentes e fraudavam benefícios de vales-transporte. As fraudes envolviam funcionários dos gabinetes dos deputados Sandro Mabel (PR-GO), Raymundo Veloso (PMDB-BA) e Enio Tatico (PTB-GO). Mas não há comprovação da participação dos parlamentares nos crimes.
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“Todas as investigações levam a crer, até o momento, que nenhum deputado tinha ciência desse tipo de atitude. Era uma atitude isolada de funcionários que tinham acesso às assinaturas dos deputados”, explica Abreu. “Eu não posso dizer que os deputados assinaram documentos em branco. O servidor pode de algum modo ter inserido documentos e o deputado assinou inadvertidamente. Nos gabinetes, há um acesso muito amplo às assinaturas dos deputados”, considera.
O diretor não descarta a possibilidade de falsificação das assinaturas dos deputados. Os parlamentares precisam assinar todos os documentos de contratação de funcionários, de benefícios e outros serviços do gabinete. Segundo Abreu, materiais dos gabinetes foram enviados para exame grafotécnico, onde será possível descobrir quem preencheu dos documentos fraudados.
“Algumas delas são assinaturas muito fáceis de serem falsificadas. Assinaturas em papel em branco, não podemos afirmar se houve nesse caso”, disse Abreu. “Encaminhamos ao Instituto de Criminalística, não é nem para dizer que não é a assinatura do deputado, mas para saber quem preencheu o formulário”, explicou o diretor.
Abreu enfatizou que, até o momento, não há indícios de envolvimento dos deputados. “Posso afirmar categoricamente que, até o momento, não tem nenhum deputado envolvido. Todos são funcionários dos gabinetes, em alguns casos de confiança, e o deputado ficou chateado e providenciou a exoneração. Essa é uma afirmação categórica, não é nenhum corporativismo”, afirmou.
Segundo o diretor, no ano passado, foram pagos em benefício de vale-transporte de R$ 1,8 milhão. Em janeiro de 2009, a Câmara pagou R$ 138 mil de vale. No mesmo mês neste ano, após iniciadas as investigações sobre o golpe e de enviados a servidores avisos de que apresentar documentos falsos é crime, o valor total pago foi de R$ 60,3 mil. “Só daí deu para ver que havia uma fraude de fato transcorrendo no vale-transporte”, concluiu Abreu.
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