Dois dias depois das manifestações que levaram milhares de pessoas às ruas no domingo, o tema continua em debate no Plenário da Câmara. O clima esquentou depois que o líder do PSDB, deputado Carlos Sampaio (SP), disse que o “PT faz mal ao País” e levantou a bandeira do impeachment. Sampaio acusou o governo de ser corrupto, apontando culpa diretamente à presidente Dilma Rousseff. “A beneficiária final da corrupção era a campanha da presidente Dilma, do ex-presidente Lula”, afirmou.
Sampaio disse ainda que o “PT se tornou um partido corrupto”. “A presidente Dilma Rousseff foi à televisão dizer que a corrupção é uma senhora idosa, pois eu quero dizer a ela que esta senhora engordou no mínimo 50 quilos no governo do PT se alimentando do dinheiro do povo brasileiro”, ressaltou.
A fala causou indignação de governistas. O líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE), disse que os tucanos não têm “autoridade moral ou política” para acusar Lula ou Dilma. Guimarães disse ainda que os governos estaduais de São Paulo e Minas Gerais foram “quebrados” por administrações do PSDB e acusou o partido de ser corrupto.
“Quem tem telhado de vidro não joga pedra no telhado dos outros. Por que não cuidar dos roubos que vocês fizeram no metrô de São Paulo, do governo do Paraná, em vez de enlamear o nome das pessoas?”, questionou o líder governista, que chegou a falar para os tucanos “calarem a boca”.
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O líder do PT, deputado Sibá Machado (AC), também exigiu respeito e denunciou a tentativa de recriar um terceiro turno. “O líder do PSDB não pode vir aqui cuspindo ódio no microfone, isso é um desrespeito. Alguns setores da oposição não estão fazendo oposição, mas estão tentando destruir um resultado eleitoral”, acusou.
Demandas das ruas
O líder da Minoria, deputado Bruno Araújo (PE), criticou a demora na resposta do governo às demandas das ruas. Segundo ele, as propostas prometidas não vieram, e as entrevistas dos ministros não satisfizeram aos anseios dos manifestantes. “Nós ficamos todos assustados quando o governo, logo em seguida, mostrou ao Brasil que não entendeu o que está acontecendo”, disse.
Araújo ironizou a fala do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, que classificou os manifestantes como eleitores do senador Aécio Neves (PSDB-MG), derrotado nas urnas em 2014.
Já o líder do DEM, deputado Mendonça Filho (PE), ressaltou que os manifestantes do domingo estão preocupados com a economia e se sentiram prejudicados por mudanças de rumo no governo entre a eleição e o início do mandato. “O povo está sentindo na pele a crise, por conta da inflação alta, fora de controle, girando na casa dos 8% ao ano; aumento de energia à base de 40% ou 50%; aumento de combustíveis que pesa no bolso de todos e atinge inclusive o preço da passagem dos serviços públicos de transporte público”, disse.
Golpismo
Para a líder do PCdoB, deputada Jandira Feghali (RJ), chamou atenção o fato de as manifestações de domingo terem reivindicações como a intervenção militar. Segundo ela, essa é a diferença entre as manifestações dos trabalhadores, da última sexta-feira, e o movimento de domingo. “Há algo que nos diferencia, que é ir para a rua, fazer apologia à ruptura democrática, ruptura do Estado democrático de direito e tentar chamar isso de movimento espontâneo”, avaliou Jandira, para quem a marcha de domingo foi coordenada e não espontânea.
Feghali disse ainda que a busca do combate à corrupção é uma bandeira de todos, que não pode ficar atrelada ao grupo que saiu de casa no domingo. “Essa bandeira e essa luta não é monopólio de nenhum grupo, muito menos de grupo que se posiciona contra o governo“, disse.
A guinada conservadora também foi destacada pelo líder do Psol, deputado Chico Alencar (RJ), que fez menção a faixas criticando até o método de ensino do pedagogo Paulo Freire, o patrono da educação brasileira. “No domingo, tivemos muita gente honesta, com sincero desejo de combater a corrupção, mas é gravíssimo que não tenham se insurgido e incomodado com faixas pedindo intervenção militar, “Fora Paulo Freire”. Esse viés reacionário é um direito de quem quiser pensar assim, mas não atende a uma demanda nacional de mais democracia”, avaliou.