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Parlamentares contrários à realização do referendo que pode proibir o comércio legal de armas de fogo no país acusam entidades favoráveis ao Estatuto do Desarmamento de defenderem interesses econômicos de outros países, especialmente os europeus. Os deputados Luiz Antonio Fleury Filho (PTB-SP), Alberto Fraga (sem partido-DF), Pompeo de Mattos (PDT-RS) e Alceu Collares (PDT-RS) sustentam que a organização não-governamental (ONG) Viva Rio – uma das maiores defensoras do referendo no país – pressiona a favor da consulta, por ser bancada, em parte, com capital estrangeiro. “Ela (a Viva Rio) é financiada por entidades estrangeiras e governos europeus interessados em importar armas para o Brasil depois que as indústrias nacionais acabarem ou se mudarem do país com a aprovação do referendo que vai proibir o comércio de armas no país”, sustenta o deputado Luiz Antonio Fleury Filho (PTB-SP). Leia também “Não é questão de criminalidade ou de diminuir a violência no país”, acrescenta Fraga. “O que está em jogo é muito mais um interesse econômico fortíssimo”, aponta. De acordo com o site da entidade, a Viva Rio tem entre seus principais financiadores entidades estrangeiras. A maior fonte de arrecadação da organização não-governamental é o Department for International Development (DFID), um órgão de desenvolvimento internacional da Grã-Bretanha, responsável por custear 19,58% dos gastos da entidade no ano passado, ou R$ 3,84 milhões. No total, a Viva Rio arrecadou cerca de R$ 19,5 milhões em 2004 (veja a relação completa dos financiadores da entidade). Na relação, há contribuições da Comunidade Européia, responsável por 2,86% das receitas de 2004, da The Ford Foundation (0,73%), do Ministério das Relações Exteriores da Holanda (0,73%), entre outros. O coordenador do Programa de Controle de Armas do Viva Rio, Antonio Rangel, rebate a acusação feita pela chamada bancada da bala. “Eles sabem o que nós recebemos, porque somos uma ONG transparente”, afirma. “Mas não é verdade (essa ilação), até porque a legislação dos países financiadores proíbe o financiamento de políticas internas e campanhas no Brasil”, afirmou. Segundo Rangel, a entidade é contra o uso de armas independentemente do país de origem. “O que irrita os deputados contrários ao referendo é que, como eles recebem grana do lobby, eles acreditam que o Viva Rio é contra a indústria brasileira”, contra-ataca. Levantamento feito pela ONG sobre a procedência de 250 mil armas apreendidas no Rio de Janeiro indica que 76% delas são de fabricação brasileira. De acordo com Rangel, cerca de 80% do material pesquisado são de revólveres e pistolas, e 56% deles são das marcas nacionais Taurus e Rossi. “Somos contra as armas que matam os brasileiros, só que 80% delas são brasileiras”, esclarece o coordenador do Viva Rio, que também é cientista político. O dinheiro recebido das entidades estrangeiras é usado em pesquisas, reforma e treinamento de polícia, afirma Rangel. “Não temos um tostão para campanha (do referendo)”, afirma. Segundo ele, as campanhas favoráveis ao desarmamento veiculadas nos meios de comunicação contam apenas com ajuda voluntária. |