Renata Camargo
O deputado Silvio Costa (PMN-PE) mudou de opinião. Ao contrário do que articulou durante toda a semana, ele não irá mais defender que parentes dos parlamentares viajem a Brasília com a cota de passagens aéreas pagas pela Câmara. O peso dessa decisão poderá ser a conquista de uma moralidade na utilização de recursos públicos no vai-e-vem aéreo dos deputados.
Agora, Silvio Costa diz que será um “militante” do presidente Michel Temer (PMDB-SP), em defesa do projeto que determina que somente deputados e assessores a serviço viajem com passagens pagas com dinheiro público. “Conversei com a minha família, minha esposa e filhos, e alguns amigos, e fiz uma reflexão. Não acredito que minha tese se caracteriza em patrimonialismo ou malversação de recurso público. Mas defendi uma tese que não teve consistência na opinião pública, então mudei”, disse em entrevista ao Congresso em Foco.
De sua casa, em Recife, Silvio Costa disse ao site que já está articulando junto aos “companheiros” para que o projeto de resolução, que traz as restrições para o uso de passagem, seja aprovado sem resistência. Nascido em Rio Formoso, no litoral sul de Pernambuco, Silvio Costa começou sua carreira política como vereador. O parlamentar exerce o seu primeiro mandato como deputado federal.
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O senhor mudou de opinião?
É verdade. Eu te afirmo que mudei. Política é representação, não é profissão. Quando o parlamentar sai de seu estado e vai para Brasília, ele viaja em missão oficial. E, em qualquer local, missão oficial pode levar esposa e filhos menores. Minha tese é que se possa levar esposa e filho menor. Mas essa tese ficou muito pequena e a opinião pública não entendeu. Minha tese ficou menor do que a democracia.
O que o fez mudar de idéia?
Conversei com a minha família, minha esposa e filhos, e alguns amigos, e fiz uma reflexão. Não acredito que minha tese se caracteriza em patrimonialismo ou malversação de recurso público. Mas defendi uma tese que não teve consistência na opinião pública, então mudei.
Houve reação do eleitorado?
Percebi a repercussão da opinião pública. Político tem que ter feeling e vi que não se pode criar um hiato com a opinião pública. Na verdade, em dois anos de Brasília, minha esposa só foi comigo uma vez. Defendi a passagem para parente porque sei que tem deputados de 70, 80 anos que precisam que a esposa o acompanhe.
De que maneira o senhor pretende agir agora?
Decidi não tentar ajudar no processo de emenda ao projeto do presidente Temer no plenário. Estou ligando para parlamentares que tenho relacionamento para que votem o PL do presidente na íntegra. Vou passar a ser militante ardoroso dessa nova tese. Podem entender como recuo, mas isso é reflexão. Se a opinião pública não entendeu a minha tese, não tem problema mudar. Vou trabalhar para que não sejam apresentadas emendas na terça-feira.
O senhor irá liderar essa nova articulação?
A imprensa me colocou como líder nesse processo, como se eu estivesse liderança para apresentar emenda ao projeto do presidente Michel Temer e eu apenas fiz expressar minha opinião. Sou um político que não tem vocação para ser cordeiro nem pretensão de ser pastor. Não quero liderar nada. Apenas vou ligar e conversar com meus companheiros.
O pedido do presidente Lula de que Congresso resolva logo a questão das passagens teve influência na sua mudança?
Quero dizer que o posicionamento do presidente Lula me ajudou a refletir. Ele é um dos homens que conheço que tem a maior capacidade de sentir a opinião pública. Sou governista e admirador da história do presidente Lula. Sou um político que tem um lado que fala abertamente.
Como o senhor acha que sua mudança irá repercutir?
Olha, eu vou te dizer que fiquei envergonhado vendo alguns companheiros defendendo essa tese. Da forma como foi feito, me deu até vergonha. E acho até que a Câmara, muitas vezes, erra na comunicação com a sociedade. Não quero ser melhor nem pior. Somos 513 pessoas diferentes e nesses anos muitos foram omissos e coniventes. Eu inclusive. Mas não tenho vergonha de dizer que mudei a minha tese e agora vou ser um militante do presidente Michel Temer.
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