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Para Leréia, o jogo é amplamente explorado no país e está presente em todos os estados da federação. “Eu respeito a opinião de todos. É difícil a cidade deste país que você chegue e não tenha uma banquinha de jogo. É raro. Às vezes, pode não ter jogo do bicho, mas de baralho tem. […] Ele não é permitido ser explorado pela iniciativa privada, mas a própria Caixa [Econômica] explora alguns tipos de jogos.”, disse.
Segundo o deputado, o país perde muito ao não legalizar a exploração do jogo porque deixa de angariar impostos que, segundo ele, poderiam ser diretamente investidos em saúde e educação ou até mesmo na recuperação de pessoas viciadas em jogo. “O jogo dá tanto dinheiro que ninguém mexe com drogas. A maquininha, você pode fazer a concessão como se faz em TV a cabo. Temos de ter uma maquinha em cada esquina organizadamente, alguma coisa tem de ser feita”, disse.
O deputado também ressaltou que, por ser ilegal, não existe fiscalização sobre as máquinas de jogo, o que faz com que as pessoas sejam mais exploradas. “Em outros países em que o jogo é legalizado, o governo fiscaliza e as pessoas ganham de fato. Aqui só serve para explorar os coitados”, disse.
No entanto, para o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), o que a comissão investiga é uma organização criminosa que detinha o monopólio da exploração do jogo do bicho em Goiás e, para tal, cometia vários outros crimes. “A questão central é que, neste caso, é uma organização que controlava a força policial que deixava abertas só as máquinas ligadas ao Cachoeira. […] A sociedade é tolerante com o jogo, mas estamos falando aqui de corrupção policial, formação de quadrilha e outras contravenções”, disse.
PublicidadeDesde que o seu nome apareceu ligado ao caso, Leréia admite que é amigo de Cachoeira. “Mesmo que ele tenha cometido erros, eu não vou deixar de ser amigo dele. Eu não faço isso. Seria muita hipocrisia da minha parte dizer que não conhecia”, disse aos parlamentares da comissão. Ele afirmou ainda que, desde que o caso veio à tona, tinha certeza que seu nome apareceria porque sempre conversou com Cachoeira.
Diante da reclamação de Leréia de que há “muita coisa fora de contexto” nos telefonemas entre membros da quadrilha, Odair disse que a contextualização de todas as interceptações telefônicas é pertinente. Foi então que o relator passou a questionar Leréia sobre empréstimos pedidos pelo deputado ao bicheiro.
Segundo investigações da CPI, interceptações telefônicas revelaram que Leréia teria recebido cerca de R$ 85 mil. O deputado explicou que o montante, na verdade, é referente a empréstimo que ele própria havia feito com o contraventor.
“Eu fiz um financiamento rural no ano de 2011, e teve uma ação movida pelo ex-governador de Goiás, e uma decisão do juiz de Goiás mandou bloquear meu dinheiro. Pedi para Carlinhos me socorrer e até hoje estou devendo a ele. E vou pagar quando ele sair da prisão. Eu estou devendo a ele R$ 120 mil”, afirmou.
Sobre um aparelho Nextel, Leréia explicou que o rádio também foi emprestado pelo contraventor quando ele viajou para os Estados Unidos com a família. “Eu tinha três aparelhos e precisei de mais um para a viagem. Por isso precisei de mais um para a minha filha mais velha”, explicou. Para ele, o rádio Nextel funciona como um “walk-talk” e por isso era bom para economizar. Leréia afirmou que devolveu o aparelho dois meses depois de voltar da viagem.
Leréia disse ainda que Cachoeira “nunca” lhe pediu nada, mas que solicitações de favores como “estágio”, com baixa remuneração, são normais. “Para políticos, as pessoas pedem favores pra gente, pedem estágio. É normal”, disse Leréia, arrancando risadas da comissão quando citou um senhor que conseguiu, por meio do deputado, um emprego em um dos laboratórios de Cachoeira, ao salário de “mil reais”. “Ele teve um câncer de próstata, e me pediu aumento. Até hoje ele não conseguiu”.