A cerca de duas semanas do encerramento, integrantes oposicionistas da CPI Mista dos Cartões Corporativos seguem buscando avanço nas investigações. Hoje (23), o deputado Índio da Costa (DEM-RJ) divulgou novos gastos dos chamados ecônomos do governo Lula com cartão corporativo. De acordo com Índio, que é sub-relator de fiscalização de gastos da CPI, alguns gastos foram maquiados para não especificar o produtos e/ou serviços adquiridos – caso do ex-governador do Rio Grande do Sul Olívio Dutra (PT).
Dutra fez três compras consideradas por Índio como “estranhas” em uma padaria de um bairro nobre de Brasília. A primeira, em outubro de 2004, foi de R$ 450. A segunda, em junho do ano seguinte, foi de R$ 240. E a terceira, em março de 2005, de R$ 280. O deputado informou que, ao invés de solicitar um cupom fiscal – que detalha preços, produtos e modo de pagamento –, o portador do cartão pediu ao estabelecimento uma nota sem descrição dos itens. Contudo, um funcionário de Dutra (Enio Taniguti) teria feito as compras, o que poderia justificar os gastos como preparação para algum evento oficial.
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Apesar de não apresentar despesas necessariamente comprometedoras para o Planalto, alguns dados – pinçados de documentos que foram enviados à CPI – podem causar constrangimento devido ao seu caráter de pessoalidade. A primeira-dama Marisa Letícia entra nessa lista. Consta dos documentos à disposição dos sub-relatores notas fiscais informando compras no valor de R$ 156,90, em nome de Marisa, em novembro de 2004. No descritivo, revistas destinadas ao público feminino, como Caras, Nova, Cláudia e Saúde.
Também o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu teve gastos “frugais” – como qualificou o deputado – registrados pelos auditores do Tribunal de Contas da União (TCU). Um portador do cartão em nome de Dirceu fez compras “para a geladeira” do escritório do ex-ministro que reuniu itens como banana, mamão, pão de forma, queijo e leite desnatado, entre outros. Entretanto, o valor das compras não foi registrado nos documentos em posse da comissão.
Gastos não sigilosos
Ao Congresso em Foco, Índio da Costa disse que há uma grande diferença entre a divulgação de gastos do governo Lula, como está sendo feito agora pela oposição na CPI, e a compilação de informações, referentes ao governo FHC, que resultou no dossiê supostamente elaborado pela Casa Civil com o objetivo de chantagear a oposição no colegiado.
“Era um dossiê para pressionar a oposição a não investigar o atual governo, e os dados que foram divulgados pela Casa Civil – e não sei de que maneira aquilo aconteceu, porque não ficou claro ainda – eram sigilosos. Os dados que eu estou divulgando são todos os dados que estão na prestação de contas como não sigilosos”, argumentou o deputado, acrescentando que o objetivo de estar divulgando os dados é “mostrar para a população que estão rasgando o dinheiro dela”.
Índio voltou a dizer que não considera sigilosos os dados em posse do TCU referentes aos gastos da Presidência da República – sob o argumento de que as informações são concernentes à segurança nacional. “Como as informações que ali estão não me parecem, de forma alguma, sigilosas, acho que o presidente não corre risco nenhum”, analisou Índio, para quem o governo desgasta a própria imagem ao não revelar os dados.
“Pelo contrário, o governo se desgastou em ter tratado esses dados como sigilosos, na medida em que eles deveriam ser amplamente divulgados e abertos, transparentes, para que a população soubesse onde o dinheiro está sendo gasto”, concluiu. (Fábio Góis)