Mário Coelho
O deputado distrital Leonardo Prudente (sem partido), protocolou há pouco na Mesa Diretora a carta de renúncia ao mandato. Porém, a saída dele da Câmara Legislativa só será efetivada na próxima terça-feira (2), quando o documento será lido em sessão plenária. A decisão de renunciar ocorreu após a Comissão de Ética da Casa aprovar o processo de investigação por quebra de decoro parlamentar. Caso considerado culpado, ele perderia o mandato e os direitos políticos por oito anos. No documento, ele justifica a decisão para que “as prerrogativas do cargo não interfiram nas investigações e as apurações sejam feitas com isenção”.
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O parlamentar foi um dos três flagrados em gravações de vídeo recebendo dinheiro de propina das mãos do ex-secretário de Relações Institucionais do governo do Distrito Federal, Durval Barbosa. A imagem de Prudente ficou atrelada a dois vídeos. No primeiro, ele aparece colocando a quantia recebida nas meias. No outro, junto com Durval e com o distrital Junior Brunelli (PSC), que também pode renunciar a qualquer momento, aparece numa oração agradecendo o recebimento da propina e pela vida do ex-secretário de Relações Institucionais.
A carta de Prudente foi entregue diretamente no protocolo da Casa. Com duas páginas, fez inicialmente um balanço do mandato, dizendo que exerceu “importantes funções” na Câmara Legislativa. Foi líder de governo, presidiu a Comissão de Orçamento até chegar à presidência do poder Legislativo em 2009. Porém, com a divulgação do conteúdo do inquérito 650DF, que originou a Operação Caixa de Pandora, Prudente não resistiu à pressão. Primeiro, se licenciou da presidência e deixou o vice-presidente Cabo Patrício (PT) conduzir o início das investigações sobre o escândalo, inicialmente fadadas ao fracasso.
Assim como na carta enviada aos eleitores, Prudente afirma na renúncia que a repetição dos vídeos prejudicou a sua imagem. “Os vídeos repetidamente apresentados são maldosos, visam confundir o telespectador, gerar comoção, indignação e liquidar meu mandato, minha honra e meu futuro político”, disparou. No texto, ele diz que as duas gravações ocorreram em momentos distintos e e em contexto “totalmente diverso”. Ele reconheceu que o vídeo onde aparece colocando dinheiro na meia tratou-se de doação de “campanha não contabilizada”.
Veja o vídeo em que Prudente bota dinheiro na meia:
Nessa linha, chegou a criticar o “modelo autofágico” do sistema eleitoral brasileiro. Segundo ele, prevalece a hipocrisia nas regras para doação e prestação de contas. “Os candidatos muitas vezes deixam de declarar o recebimento de recursos financeiros, para a campanha a pedido do próprio doador, que não deseja ver seu CPF ou CNPJ divulgados na internet e vinculados a um candidato ou partido”, afirmou.
Na carta, ele chega a citar o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como chefe da quadrilha do mensalão, para defender que seu crime foi apenas o caixa 2. “Mensalão, atividade da qual nunca tomei parte, é corrupção sim e financiar campanha com caixa 2 é ilegal”, disse. Ele comentou que espera que sua situação sirva de exemplo aos candidatos que irão concorrer às próximas eleições.
Além de Prudente, também respondem a processo por quebra de decoro parlamentar os distritais Júnior Brunelli (PSC) e Eurides Brito (PMDB). Até o momento, nenhum dos dois foi notificado da decisão da Comissão de Ética. Dos dois, é esperada a renúncia de Brunelli. Já Eurides promete enfrentar o processo até o fim. Desde a fundação da Câmara Legislativa, em 1990, somente um parlamentar foi cassado por quebra de decoro. Em 2004, Carlos Xavier (PMDB) foi acusado de ser o mandante do assassinato de um jovem de 16 anos, que teria sido amante de sua ex-mulher. Apesar de negar a acusação, acabou cassado com o voto de 13 dos 24 parlamentares.