Relatório da Polícia Federal aponta o deputado federal Júlio César Gomes dos Santos (PMDB-MG), o Cabo Júlio, como o chefe do esquema de compra irregular de ambulâncias para os municípios mineiros. Os jornais Correio Braziliense e Estado de Minas tiveram acesso ao relatório da Polícia que indica que o deputado teria recebido propina da Planam em troca da liberação de R$ 5 milhões em emendas para a compra de ambulâncias de 20 prefeituras de Minas Gerais, entre 2001 e 2005.
A matéria, assinada por Alessandra Mello, do Estado de Minas, e Amaury Ribeiro Jr., do Correio Braziliense, diz que a quadrilha atuava em 185 dos 853 municípios do estado de Minas Gerais. Entre as cidades com atuação da Planam, estão Delta, Coluna, Tombos, Leopoldina, Além Paraíba, Morro da Garça, Itamabacuri, Mar de Espanha, Cordisburgo. Simonésia, Funilândia e União de Minas.
De acordo com a reportagem, o nome de Cabo Júlio aparece no caixa dois das empresas Delta e Leal Máquinas (Lealmaq), ligadas ao empresário Darci José Vedoin , um dos donos da Planam, preso pela Polícia Federal durante a Operação Sanguessuga.
Rodrigo Mendes de Oliveira, funcionário da Delta (antiga Rondon Minas), que funciona em Governador Valadares, também foi preso durante a operação, assim como Aristóteles Gomes Leal Filho, proprietário da Lealmaq, com sede em Contagem. De acordo com o documento, Cabo Júlio receberia cerca de R$ 10 mil por cada ambulância vendida para as prefeituras pelas duas empresas.
Os preços variavam de R$ 66 mil a R$ 120 mil. Levantamento feito pelo Correio e pelo Estado de Minas em 12 cidades mineiras indica que, em sete delas, as emendas que garantiram a compra dos veículos foram apresentadas por Cabo Júlio. Na maioria dessas cidades, a Planam e a Lealmaq venceram as licitações dos veículos, muitas feitas por meio da modalidade carta-convite, em que os participantes são escolhidos pela própria prefeitura.
Segundo as investigações, Cabo Júlio, que liderou a greve de policiais militares mineiros em 1997, atuaria nas duas pontas do esquema: apresentava as emendas que garantiam verbas para compra das ambulâncias e, em seguida, indicava a Planam ou a Lealmaq para as prefeituras.
Policiais
De acordo com a reportagem, o possível elo entre o deputado e a Planam já havia sido denunciado no depoimento à PF de Maria da Penha Lino, ex-servidora do Ministério da Saúde acusada de fazer parte da quadrilha. Em troca da delação premiada, que proporciona redução da pena em troca da colaboração, a funcionária apontou o nome de Cabo Júlio como um dos deputados que seriam ligados ao esquema.
Segundo o relatório reservado da Polícia Federal, o deputado agia principalmente em municípios nos quais havia policiais disputando vagas nas câmaras municipais ou comandando o Executivo. A PF suspeita que os policiais eram encarregados de fazer a ponte entre o deputado e as prefeituras. Em Leopoldina, a prefeitura conseguiu , em 2004, quatro ambulâncias por intermédio do vereador Cabo Lúcio (PSC). Segundo ele, o município, com cerca de 50 mil habitantes, tem 20 ambulâncias. “Investimos muito em saúde”, justificou. A emenda era do deputado Cabo Júlio.
O vereador não soube dizer o nome da empresa vencedora da licitação, informou apenas que ela ficava em Contagem. A cidade tem três convênios com o Fundo Nacional de Saúde para a compra de ambulâncias, no valor total de R$ 218.194,92,.
Em Morro da Garça, na região central, o prefeito José Maria (PT), é policial militar reformado. A cidade, com cerca de 3 mil habitantes, firmou nove convênios com o Ministério da Saúde, três deles para a compra de ambulâncias, no valor total de R$ 185 mil. Todas as licitações foram vencidas pela Planam. O preço médio de uma ambulância indicada para município de pequeno porte é de R$ 40 mil.
Deputado nega
O deputado Cabo Júlio negou qualquer envolvimento com a máfia que fraudava licitações para a compra de ambulâncias para prefeituras por meio de emendas parlamentares. O deputado acredita estar sendo investigado pela Polícia Federal por causa do elevado número de emendas apresentadas por ele nesta área.
Segundo o relatório da Polícia Federal, o deputado teria liberado, somente em 2004, R$ 2,5 milhões em emendas de ambulâncias. O parlamentar confirma que 90% de todas as suas emendas são mesmo para ambulância. “Devo ser o rei das ambulâncias em Minas”.
O parlamentar garante que não há superfaturamento em nenhuma das licitações vencidas pela Planam ou por empresas ligadas à máfia em municípios que receberam emendas de sua autoria. O que pode haver, de acordo com ele, é um cartel de empresas. Segundo ele, se for feito um levantamento em todos os municípios mineiros, a PF verá que sempre ganham as mesmas empresas.
“A Planam certamente ganhava no Brasil inteiro”. Cabo Júlio negou que tenha indicado a Planam para participar de licitações. Além de Cabo Júlio, outros seis deputados de Minas estão o sendo investigados, entre eles os parlamentares Isaías Silvestre (PSB) e João Magalhães (PMDB). O nome dos outros três estão sendo mantidos em sigilo.
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