Fábio Góis
O acirramento da crise no Senado tem provocado uma série de dissidências partidárias. Depois da notícia de desfiliação de Marina Silva (PT-AC) e Flávio Arns (PT-PR), e da entrega do cargo de líder de bancada por Aloizio Mercadante (PT-SP), o senador Mão Santa (PMDB-PI) anunciou que também sairá do partido. Com pretensões eleitorais nas eleições majoritárias do próximo, Mão Santa se diz desprestigiado dentro da sigla, que estaria se submetendo ao domínio petista no Piauí.
“Minha candidatura corre perigo, mas jamais vou entregar a minha cabeça àqueles energúmenos que dominam o PMDB estadual, e que só pensam em interesses pessoais”, disse Mão Santa, que alega divergências com a cúpula regional para trocar de legenda – as conversas já estariam avançadas com o PPS. “Estou me sentindo capado.”
Dizendo que o PMDB de seu estado foi “cooptado” pelo PT, o senador piauiense disse que não vai se precipitar: antes de uma eventual desfiliação, vai consultar o Tribunal Superior Eleitoral para saber se pode mudar de legenda até o dia 3 de outubro, prazo-limite para a troca de partido. Com a cautela, Mão Santa pretende evitar que a Justiça Eleitoral alegue infidelidade partidária para devolver seu mandato ao PMDB.
Mão Santa é um dos mais assíduos senadores em atividade, presente a sessões deliberativas e não deliberativas inclusive nas segundas e sextas-feiras. Médico por formação (o apelido é fruto de cirurgias “santas”), Mão Santa disse ao Congresso em Foco, há cerca de duas semanas, que “política é imagem”. Com um exemplar antigo de A terceira onda (Alvin Toffler) sobre a mesa do gabinete, o senador disse que, se tivesse a máquina de marketing e assessoria de que dispõe o presidente Lula (a quem chama de Luis Inácio), por exemplo, galgaria na política espaços muito maiores do que os que tem ocupado atualmente.
“Eu me garanto no discurso”, disse Mão Santa, que fez em abril o milésimo pronunciamento na tribuna do plenário desde que assumiu o mandato, em 2003. Confiando nas performances sob os holofotes da TV Senado e demais veículos de comunicação que cobrem a Casa, Mão Santa carrega no sotaque nordestino e nas referências literárias e, todas vez que cita o nome de seu estado, enfatiza a pronúncia. Pausadamente, acentua cada uma das sílabas e desfere o termo que já se tornou sua marca registrada: “PI-AU-Í”.
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