Algum dia saberemos exatamente o que as Organizações Globo esperavam obter participando da tosca tramoia para a derrubada do presidente Michael Temer. Desde o primeiro momento, macaco velho do jornalismo que sou, percebi e escrevi que se tratava de uma ação concertada entre o procurador-geral Rodrigo Janot, o Grupo JBS e a Globo.
Não excluo a possibilidade de envolvimento de ministro(s) do Supremo Tribunal Federal (STF). Acho, contudo, mais plausível que o inexperiente da turma tenha servido de inocente útil e não sido um cúmplice; e que a contemporização de outros com suas decisões juridicamente indefensáveis se explique pelo espírito de corpo e por relutância em navegarem contra a corrente da opinião pública.
Sete meses depois, muita coisa mudou.
A tramoia fracassou, principalmente, porque os donos do PIB avaliaram bem os cenários que adviriam caso ela tivesse êxito e concluíram: ruim com Temer, pior sem ele. Estenderam-lhe, então, a mão forte de que necessitava para dar a volta por cima.
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As várias forças políticas constataram que o cidadão comum não se empolgava com a perspectiva de um novo processo de impeachment, que paralisaria muita coisa no país durante vários meses e depois levaria à escolha de um presidente-tampão para governar por um semestre ou pouco mais. Ademais, nomes e mais nomes foram cogitados para a cadeira presidencial, sem que nenhum deles decolasse. Então, os grandes partidos lavaram as mãos, não se empenhando pra valer em defenestrar o Temer.
Nem mesmo os ditos progressistas, que usam e abusam da rejeição à reforma da Previdência como trunfo propagandístico, mas secretamente torcem para Temer torná-la fato consumado, descascando tal abacaxi antes de 1º de janeiro de 2019, quando esperam reassumir a presidência da República.
Pois até as pedras das ruas sabem que, na ponta do lápis, não há como manter a Previdência nos moldes atuais, se continuarmos seguindo as regras do jogo capitalista: as receitas jamais empatarão com as despesas e, mais dia menos dia, a casa vai cair.
A verdadeira alternativa é a superação do capitalismo e a fixação do atendimento das necessidades humanas como prioridade máxima da sociedade; aí sim o direito dos idosos a um final de vida digno independerá de cálculos mesquinhos.
Mas, infelizmente, a força hegemônica da esquerda hoje foge da revolução como o diabo da cruz. Então, a reforma selvagem da Providência acabará mesmo nos sendo imposta pelo poder econômico, enquanto os crocodilos de uma esquerda desvirtuada derramarão copiosas lágrimas retóricas.
De resto, a delação premiada do Grupo JBS fez água por todos os lados, evidenciando-se, ela própria, como um caso de polícia. Ficou constrangedor para a Globo ter tentado vender peixe tão podre aos videotas.
E a subsequente revelação do seu envolvimento com maracutaias do esporte veio ao encontro da velha pérola da sabedoria popular: macaco, olha o teu rabo!
À Globo só restou a opção de, capitulando, salvar do desastre o que desse; menos a dignidade, claro, porque esta era o preço que teria de pagar por sua trapalhada golpista, se não quisesse ser privada do$ benefício$ de um bom relacionamento com o governo federal.
Eis, então, que acabam de vir a público os entendimentos sigilosos entre a Globo e Temer para restabelecimento do status quo ante. Tratava-se da caçapa mais cantada da face da Terra. Quem há meio século se coloca sempre ao lado do governo, qualquer que seja ele, parecia ter endoidado ao hostilizar um presidente… de direita! Agora as coisas farão sentido de novo.
Segundo a Folha de S. Paulo, Temer comemorou a vitória contando a três aliados o que rolara no “encontro reservado no início de outubro em São Paulo com João Roberto Marinho, do Grupo Globo, para discutir a cobertura de seu governo pelos veículos da empresa, além de pedir apoio para a reforma da Previdência”. Ou seja, fez questão de que algum grande veículo noticiasse a reunião mas, noblesse oblige, fingiu que o vazamento não se deu por vontade dele. Acredite quem quiser.
Pelo que a Folha diz que os três patetas disseram, Temer “reclamou da cobertura do caso JBS pelos veículos do grupo, que tinha, segundo o político, o objetivo de derrubá-lo” e bateu pesado no editorial de O Globo de 19 de maio, intitulado (e sugerindo) “A renúncia do presidente“.
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Por mais que não gostemos do Temer, lava nossa alma saber que a Vênus platinada desceu do seu pedestal e foi humildemente pedir-lhe desculpas, como qualquer criança que faz traquinagem e recebe um puxão de orelha. O Brizola adoraria saber disto.
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