O Conselho de Ética do Senado ouviu ontem testemunhas de defesa do processo de cassação contra o senador Magno Malta (PL-ES), acusado de participação na máfia dos sanguessugas. Mas, para o relator do caso, Demóstenes Torres (PFL-GO), os depoentes conseguiram complicar ainda mais a situação do parlamentar capixaba.
Mesmo sem ter sido convocado, o deputado Lino Rossi (PP-MT) pediu para ser ouvido em uma sessão reservada. Ele depôs por cerca de 50 minutos e saiu sem dar entrevistas. Disse apenas ser o dono do Fiat Ducato comprado pela Planam e usado por Magno para transportar uma banda gospel pelo Espírito Santo.
A outra testemunha foi Ronilson Lins, empresário artístico do senador entre 2002 e 2005. Ele era responsável por agenciar os contatos da banda de Magno para shows no estado. Ronilson depôs em sessão aberta e, logo nos primeiros minutos, contradisse a versão de Rossi. Afirmou que o carro foi oferecido pelo deputado em um jantar com Magno.
Segundo Ronilson, Rossi era apresentador de televisão e pediu que o senador agendasse um encontro dele com pessoas da TV Record. O capixaba marcou um encontro com produtores da emissora em 2003 e conseguiu aproximá-los do deputado. Em seguida, narrou o empresário, os dois saíram para jantar – ocasião em que o parlamentar do PP teria oferecido o veículo.
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"Foi então que o deputado ofereceu o veículo, que era um carro grande e confortável para viajar", explicou Roni Lins, acrescentando que "o senador é muito ético e não pede favor a ninguém". De acordo com o empresário, não se falou em esquemas de ambulâncias nesse dia. Em seu depoimento ontem ao Conselho, Lino Rossi afirmou que foi Magno quem o procurou para solicitar o furgão.
Ronilson confirmou que o senador ficou com o veículo entre 2003 e 2005 e disse que Magno devolveu, "espontaneamente", o Fiat Ducato ao deputado Lino Rossi porque o carro dava muitos problemas de manutenção.
Para Demóstenes, os depoimentos podem piorar a situação do senador. Ele analisou que o empréstimo do carro era aparentemente fácil de ser explicada, mas as contradições, principalmente as de Lino Rossi, têm aumentado as suspeitas.
"O depoimento do deputado foi um poço de contradições. A cada dez segundos ele tinha uma versão sobre a compra e o empréstimo do carro", disse Demóstenes. "O pescoço de Lino Rossi rolará rapidamente na Câmara", emendou. Como os depoimentos não esclareceram a origem do veículo, o Conselho de Ética solicitou a cópia dos cheques que foram usados para a compra do carro para saber quem recebeu o recurso.
De acordo com o relatório parcial da CPI dos Sanguessugas, o senador Magno Malta teria se comprometido a apresentar emenda para o exercício de 2004 no valor de R$ 1 milhão para a aquisição de ambulâncias e, como adiantamento à comissão de 10% do valor da emenda, teria recebido o carro, conforme informações fornecidos por Luiz Antonio Vedoin, um dos sócios da Planam.
No depoimento prestado à Justiça Federal, o pai de Luiz Antonio, Darci Vedoin, afirmou que o veículo ficou em posse do senador durante três anos e foi pego de volta pelo deputado Lino Rossi porque Magno Malta não apresentou as emendas que havia prometido.
O relatório diz, ainda, que o veículo teria sido entregue a Lino Rossi como parte do pagamento das emendas apresentadas por ele para a compra de ambulâncias. O deputado foi apontado como um dos primeiros parlamentares a entrar no esquema. Ele teria sido responsável por apresentar aos sócios da Planam outros parlamentares, que também estão sendo investigados pela CPI.
Relatório sobre Suassuna é adiado para 4 de outubro
Por falta de quorum, o Conselho de Ética do Senado adiou a apresentação do relatório ao processo de cassação contra Ney Suassuna (PMDB-PB), acusado de envolvimento com a máfia das ambulâncias. Sete senadores compareceram à reunião, que poderia ter sido validada caso apenas mais um registrasse presença. A leitura e a votação do texto ficaram para depois das eleições.
O vice-presidente do Conselho, Demóstenes Torres (PFL-GO), ficou indignado com o adiamento da votação do relatório para o próximo dia 4. "Faltou um senador para completar o quorum. Isso foi terrível", reclamou Demóstenes. "Tinha que ter achado um senador nem que fosse no laço", brincou o pefelista. Para o senador, a ausência dos parlamentares caracteriza uma omissão dos partidos "tanto de esquerda, quanto de direita".
O relator do caso, Jefferson Peres (PDT-AM), não quis adiantar o resultado do parecer, mas sinalizou que deve mesmo pedir a cassação do peemedebista. Os parlamentares afirmaram, no entanto, que será mais difícil condenar Suassuna após as eleições porque aliados dele podem colaborar para a absolvição.
Compareceram à sessão os senadores Paulo Octávio (PFL-DF), João Alberto (PMDB-PI), Luiz Otavio (PMDB-PA), Sibá Machado (PT-AC), Jefferson Peres (PDT-AM) e César Borges (PFL-BA). O pefelista Romeu Tuma (SP) também esteve na reunião, mas sua presença não conta para efeito de quorum, já que ele é o corregedor da Casa.
Jefferson Péres ressaltou que poderia fazer a leitura do relatório apesar da ausência dos parlamentares, mas afirmou que preferia apresentar o texto com número significativo de integrantes do conselho no plenário.
Ex-assessor de Serys ligava para Vedoin, diz ex-secretária
A ex-secretária da Planam Maria Estela da Silva revelou ontem que João Policena Neto, ex-assessor orçamentário da senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), telefonava para o celular pessoal de Darci Vedoin, um dos donos da empresa e apontado como operador da fraude no Congresso.
Estela depôs a portas fechadas, porque disse que queria preservar sua família. Ela explicou que costumava ficar com o telefone pessoal de Darci quando o empresário estava em reuniões. A ex-secretária contou que atendeu diversas ligações de Policena. Maria Estela foi demitida da Planam e entrou na Justiça contra a empresa para receber débitos trabalhistas.
Policena depôs ontem também no Conselho e disse que já esteve na sede da empresa em 2003. Porém, negou que isso tenha influenciado a senadora a fazer emendas para a compra de ambulâncias em 2003 e 2004. "As emendas eram do tipo guarda-chuva, genéricas, para atender a todos os municípios", justificou. Ele autorizou, durante a audiência, a quebra de seus sigilos bancário e telefônico.
O ex-assessor disse ainda que Serys nunca recebeu os Vedoins em seu gabinete. Afirmou que se encontrou uma vez com Luiz Antonio Vedoin, também sócio da Planam, no fim de 2004 ou no início de 2005, no Congresso e contou que ele comentara sobre dificuldades para liberar as emendas da senadora. "Eu respondi: e daí?", narrou o depoente.
Os Vedoins, segundo Policena, estiveram apenas uma vez no gabinete, para uma visita de cortesia no dia da posse, em 2003. Ele contou ainda que, nos três anos em que trabalhou com a petista, viu Paulo Roberto Ribeiro, genro da parlamentar, três vezes no Congresso. "Ele não influencia na atividade parlamentar da senadora". Ribeiro foi acusado pelos Vedoin de ser a ponte com Serys para a compra de emendas.
O relator do processo contra a petista, senador Paulo Octávio (PFL-DF), declarou que nenhum dos depoentes mencionou diretamente o nome dela. Ele não quis informar para que rumo caminha seu parecer e assegurou que "está em busca da verdade".
O Conselho ouviu ontem também Sérgio Henrique Rebelo Dias, que trabalhou com a parlamentar entre julho de 2005 e agosto passado. Ele foi demitido depois de ter seu nome envolvido com a família Vedoin. O depoente negou ter apresentado Paulo Roberto a Luiz Antonio na sede da Planam, conforme disse o empresário ao Conselho. Segundo Paulo Octávio, a afirmação fortalece a versão do genro de Serys. "Ele (Sérgio) não teria porque mentir."