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“Fui delineado como o vilão que tanto combati”, discursou o senador, acusando imprensa e autoridades competentes de julgá-lo antes do Supremo Tribunal Federal (STF), onde responde a processo pelo suposto envolvimento com o esquema de Cachoeira.
Apenas cinco dos 81 senadores em exercício assistiram ao discurso de Demóstenes, que saiu do plenário sem dar declarações pelo elevador privativo do cafezinho: Paulo Paim (PT-RS), que presidia a sessão não deliberativa, Pedro Taques (PDT-MT), Rodrigo Rollemberg (PDT-DF), Ana Amélia (PP-RS) e Aníbal Diniz (PT-AC). Pouco antes do pronunciamento, senadores como o líder do governo no Congresso, José Pimentel (PT-CE); o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), João Durval (PDT-BA) e Cyro Miranda (PSDB-GO) haviam feito discursos da tribuna, mas não permaneceram em plenário para ouvir Demóstenes.
Para Demóstenes, os meses de noticiário negativo foram orquestrados pela Polícia Federal, com o apoio de setores da imprensa e de membros do Ministério Público Federal. “A campanha é recorde em seu tamanho e incalculável em seu volume. É difícil mensurar e impossível descrever a dor que esses ataques provocam em mim e o estrago no meu prestígio, na minha honradez. A tática dos detratores é implodir vagarosamente o edifício da probidade erguido ao longo de décadas de trabalho, esforço e dedicação. Tem sido uma destruição tijolo a tijolo, no ardil de vazar em pílulas, para ter continuamente assunto que aniquile a minha imagem”, discursou Demóstenes, em oratória orientada pelo tom emotivo e pelo apelo à família. “Não há situação mais angustiante do que olhar nos olhos dos filhos e, em vez do brilho habitual, ver nesse olhar a pergunta: ‘Quando essa atribulação vai acabar?’”
Diante de um plenário vazio, Demóstenes usou o aparato de comunicação do Senado para negar, mais uma vez, envolvimento com o crime em Goiás, núcleo de atuação da contravenção operada por Cachoeira. “Fui amigo de Carlinhos Cachoeira, e falava frequentemente por telefone, mas jamais tive envolvimento com suas atividades”, disse, voltando a negar que colocou seu mandato a serviço do contraventor, “mas [a serviço] das forças produtivas de meu estado e do Brasil”. “Nunca pedi nada de ilegal a nenhum deles [integrantes da quadrilha], e a ninguém.” Ele contestou ainda pontos da representação apresentada pelo senador Humberto Costa (PT-PE), relator do processo por quebra de decoro instalado em 8 de maio.
Depois do discurso, Demóstenes pediu desculpas a todos os 44 senadores que, em 6 de março, fizeram apartes de apoio quando ele falou sobre as denúncias pela primeira vez. Ele leu cada um dos nomes dos aparteantes. “Aproveito para me desculpar com as senhoras senadoras e senhores senadores que, de alguma forma, tenham se decepcionado comigo”, apelou Demóstenes.
Culpa da imprensa
Sobraram críticas para a imprensa, que teria lançado mão de uma massiva “campanha” que prima pela “eficiência do estratagema da difamação incessante”. “São 125 dias de demolição sem sossego, sem paz. No âmbito jurídico, sequer fui acusado, mas, no tribunal das manchetes, já fui julgado e condenado, esmagado pela infâmia ao extremo, sem poder nem reagir. Nas revistas, era capa toda semana. Assim, de vazamento em vazamento, de grão e grão, foi moída a história de uma vida honrada”, emendou Demóstenes, apontando violações aos autos do inquérito e até adulteração de áudios capturados por meio de escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal. “Cada linha do inquérito virou milhares de textos. Cada palavra pronunciada nas gravações se transmutou em sentença condenatória.”
Segundo o senador, houve uma exploração orientada de informações dos autos das operações Vegas e Monte Carlo, há pelo menos três anos executadas pela Polícia Federal, que consistia de “edição, montagem e interpretação dos diálogos” captados. Para Demóstenes, a “campanha de difamação” está em curso em TV, rádio, jornais e redes sociais. “Onde couber um adjetivo pejorativo, ali estará meu nome.”
Discursos diários
A estratégia de Demóstenes é fazer discursos entre hoje (segunda, 2) e 11 de julho, quando será julgado em plenário, em votação secreta que pode salvar ou sepultar seu mandato. “Falarei com o plenário repleto ou com o plenário vazio”, avisou o senador. Segundo sua defesa, Demóstenes vai insistir na tese de que não mentiu ao negar envolvimento com Cachoeira, e pedirá aos colegas para ser julgado não pelo que falou em grampos com o contraventor, mas pelos seus atos como senador reeleito por Goiás, em 2010, com mais de dois milhões de votos.
O senador disse ainda que, na quarta-feira da próxima semana (11 de julho), disporá apenas de 20 minutos, prorrogáveis por mais dez, para se defender em plenário, antes da votação secreta que decidirá seu futuro. “Então, terei pouquíssimo tempo para me justificar”, alegou. “Em decorrência disso, também, não concederei apartes.”
Estratégia
Depois de que vieram à tona notícias de seu envolvimento com a quadrilha de Cachoeira, Demóstenes só havia discursado duas vezes: no mesmo plenário, em 6 de março, quando admitiu amizade com Cachoeira e negou envolvimento em crimes; e em 29 de maio, no Conselho de Ética, quando recorreu à fé e até a menções sambistas para tentar convencer seus pares no Conselho de Ética do Senado.
Na prática, Demóstenes já não exerce o mandato
Desde as primeiras denúncias (leia mais aqui), Demóstenes sequer ia ao plenário – e, quando fazia, logo saía pelo elevador privativo. Ao resolver quebrar o silêncio, lança suas últimas cartas na tentativa de reverter a situação entre os colegas de Congresso – ele que, mesmo depois de ter mantido a linha de defesa no Conselho de Ética, teve seu pedido de cassação aprovada pelos membros do colegiado, no último dia 25, por unanimidade.
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