O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, tem mesmo todos os motivos para ficar preocupado e buscar saídas na Justiça. A menos que prospere sua tentativa de evitar, com um pedido de liminar impetrado no Superior Tribunal Eleitoral (TSE), a reunião da Executiva do DEM, marcada para a manhã de sexta-feira (11), ele será expulso do partido (a ministra Carmen Lúcia julgará a liminar ainda hoje). O Congresso em Foco apurou que a tendência da ampla maioria dos 41 integrantes – com 45 votos – da executiva é expulsar Arruda da legenda.
A decisão só não foi tomada ainda e só foram concedidos prazos para Arruda se defender justamente com o propósito de tentar evitar que o governador tivesse depois a oportunidade de contestar a expulsão na Justiça, alegando ter sido vítima de alguma arbitrariedade ou atropelo. O empenho agora do DEM é buscar preservar Paulo Octávio, para continuar tendo alguma alternativa para a sucessão no governo do Distrito Federal no ano que vem.
A estratégia já foi traçada pelos líderes do Democratas e todos eles parecem repetir o mesmo discurso. O DEM quer passar à opinião pública uma imagem de que se diferenciou dos principais partidos que, como ele, também foram pegos em casos de corrupção e pagamento de mensalão a aliados.
“Enquanto ninguém fez nada, nós vamos expulsar o único governador do nosso partido”, explica o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA). “A opinião pública perceberá que nós rasgamos nossa própria carne e que, assim, o partido não ficará contaminado pelo escândalo”, completa o líder do partido no Senado, José Agripino Maia (RN).
A ideia, assim, é limitar tudo a Arruda. Vender a ideia de que se tratou de um caso isolado, que não ultrapassou as fronteiras do Distrito Federal, não chegando a outros estados e líderes partidários. “Não existe partido político sem gente. E onde tem gente, tem falha. O que não se pode é nada fazer contra as falhas. Permitir que essas falhas contaminem o partido todo e se tornem sistêmicas”, diz Aleluia.
Ameaças de Arruda de tornar públicas denúncias contra outras pessoas do partido não surtiram efeito sobre a maioria. Não exatamente por não existir risco de aparecerem outras coisas graves. Mas por uma questão de sobrevivência política. Ou o DEM isola Arruda ou pagará o mesmo preço que ele. A avaliação clara dos políticos do DEM é que Brasília já condenou o governador, diante das contundentes imagens em que ele recebe dinheiro de seu ex-secretário de Assuntos Institucionais Durval Barbosa.
Mesmo os mais simpáticos a Arruda reconhecem que a fatura está liquidada. “É um absurdo condenar alguém sem dar direito de defesa, mas o fato é que o julgamento será político. Está todo mundo muito assustado”, comenta o senador Heráclito Fortes (DEM-PI). “Não será unanimidade, mas será uma maioria bem ampla”, prevê Agripino.
O voto na reunião da Executiva será secreto, por imposição regimental. “Isso não deve alterar o quadro”, aposta o senador Demóstenes Torres (GO). O colegiado é pequeno o suficiente para que se suponha com boa dose de certeza como cada um votou, principalmente porque vários dos integrantes da Executiva já manifestaram publicamente a sua posição.
Paulo Octávio
Entregue a cabeça do único governador do partido, o DEM tentará preservar o vice, Paulo Octávio. Sustenta-se no fato de que, contra ele, há apenas o depoimento do acusador, Durval. Paulo Octávio não aparece em nenhum dos vídeos e fotos, nem seu nome consta dos documentos oficiais do inquérito.
Um diretor da construtora do vice-governador, Marcelo Carvalho, aparece em um dos vídeos. Durval afirma que ele é que seria o repassador da propina a Paulo Octávio, que ficaria com 30% de cada bolada passada ao esquema por empresários. Não se trata, porém, de um vídeo tão conclusivo e contundente como os que envolvem Arruda ou seus aliados da Câmara Legislativa. Nele, Carvalho não aparece pegando dinheiro.
Ainda que o DEM saiba que esse argumento tem certa dose de fragilidade e que as investigações até podem no futuro envolver mais o vice-governador (os R$ 400 mil entregues por Durval a Arruda receberam marcas de tinta invisível e estão sendo rastreados), preservá-lo é a tática que resta para não sair definitivamente do quadro político de Brasília e, talvez, da corrida eleitoral no Distrito Federal.
Expulso, Arruda ficará sem partido. Como o prazo de filiação já foi concluído, ele não pode mais entrar em outra legenda. Arruda não poderá concorrer a cargo algum em 2010. Se Arruda permanecer no governo até o final do seu mandato, condenará o DEM a ficar fora da sua sucessão.
O único nome com força eleitoral no partido para poder entrar na disputa seria Paulo Octávio, mas ele só poderia concorrer se Arruda renunciasse ou se fosse deposto por um processo de impeachment. Nesse caso, Octávio, governador, poderia disputar a reeleição. O DEM discute a hipótese de, como passo seguinte à expulsão, fazer uma intervenção no diretório de Brasília para neutralizar a força dos aliados de Arruda e permitir que o processo de impeachment possa acontecer na Câmara Legislativa.
O governador vinha trabalhando a formação de uma aliança ampla no DF, que provavelmente incluiria o PSDB, o PMDB, o PDT e o PPS. Esses partidos já romperam com o governo. Se Arruda permanecer no cargo, não retornarão. Mas, pelo menos alguns deles (com menos probabilidade, o PDT e o PPS), poderiam ainda estabelecer com Paulo Octávio uma aliança.
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