Eduardo Militão
Expulso do PT por participar do esquema conhecido com “mensalão”, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares distribuiu ontem aos parlamentares petistas uma revista com textos e mensagens de personalidades que defendem sua volta aos quadros da legenda do presidente Lula. A edição de “Companheiro Delúbio” teve 10 mil exemplares impressos por amigos do partido, segundo diz a publicação de 116 páginas em papel couché, com capa e contracapa coloridas.
Além de uma coletânea de textos e discursos, a revista possui uma galeria de fotos intitulada “Companheiros do Delúbio Soares”, onde se destacam alguns dos 39 acusados, como o próprio ex-tesoureiro, no processo criminal em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF): o ex-ministro José Dirceu e os deputados José Genoino (PT-SP), Paulo Rocha (PT-PA) e João Paulo Cunha (PT-SP).
Há também o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), o ex-ministro da Fazenda e hoje deputado Antônio Pallocci (SP), o presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Arthur Henrique, o ex-líder do PT na Câmara Luiz Sérgio (RJ).
Ontem, Delúbio circulou com as revistas em mãos pelos gabinetes da Câmara. Num deles foi recebido assim: “Meu tesoureiro!”. Foi ao Senado também, onde conversou com Suplicy, que ficou de reencontrá-lo à noite.
Comissão de Ética
O PT expulsou Delúbio em outubro de 2005 depois que a Comissão de Ética do partido o considerou culpado pela movimentação financeira feita por meio de caixa dois. Em março deste ano, ele pediu para filiar-se novamente à legenda. Fez um discurso em maio, mas acabou retirando o pedido por não encontrar apoio no Diretório Nacional.
Agora, Delúbio faz o corpo a corpo para garantir os votos necessários para retornar ao PT. Colegas do partido dizem que sua intenção é sair candidato a deputado federal por Goiás, seu estado natal, no ano que vem.
O deputado Carlos Abicalil (PT-MT), listado como um dos “companheiros do Delúbio Soares”, defende uma oportunidade para que o ex-tesoureiro tenha seu caso analisado.
“No momento, nós devemos ver as circunstâncias”, disse o deputado. “Em ano eleitoral, tem que ver se ele é candidato ou não.” Abicalil afirma que o partido deve dialogar com Delúbio.
Punição eterna
Suplicy diz que a responsabilidade do que se noticiou no mensalão não foi exclusiva de Delúbio, mas também do PT. “Eu sempre acho que as pessoas se transformam e se superam. A punição não precisa ser eterna”, afirma o senador.
Ele disse que apoia a volta de Delúbio caso o partido tome a decisão firme de não mais fazer caixa dois e publicar todas as suas despesas e receitas em tempo real na internet. Para Suplicy, o próprio Delúbio poderia se comprometer com essas medidas.
O senador diz que iria questioná-lo se ele aceitaria voltar ao partido e participar das mudanças pela transparência nas finanças do PT.
A reportagem procurou Delúbio ontem, mas não conseguiu localizar seus contatos na Direção Nacional do partido. O advogado dele, Arnaldo Malheiros, não retornou os contatos do Congresso em Foco. O escritório não tinha permissão para fornecer os telefones do ex-petista.