Ricardo Ramos
Registros aos quais o Congresso em Foco teve acesso revelam que o atual líder do PP na Câmara, José Janene (PR), telefonou para o celular do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, 15 dias antes do primeiro saque do chefe-de-gabinete do deputado, João Cláudio Genu, na agência do banco Rural, em Brasília. Na época, Janene nem sequer era líder do partido na Casa.
Em 2 de setembro de 2003, Janene conversou com Delúbio e, no dia 17 daquele mês, Genu fez a primeira de sete retiradas de dinheiro na agência do Banco Rural em Brasília, segundo consta da lista de sacadores entregues pelo empresário Marcos Valério à Procuradoria Geral da República. O chefe-de-gabinete do deputado, segundo o documento de Valério, sacou na ocasião R$ 1 milhão.
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Os dados da quebra de sigilo telefônico em poder da CPI dos Correios revelam ainda que José Janene discou 34 vezes para o celular de Delúbio Soares, entre junho de 2003 e setembro de 2004 (veja fatura http://www.congressoemfoco.com.br/old/liga_delubio_arte.htm). Embora a liderança do partido estivesse nas mãos do deputado Pedro Henry (MT), coube a Janene fazer a ponte entre o PT e a bancada progressista na Câmara.
A lista de sacadores de Marcos Valério aponta o então chefe-de-gabinete de Janene como responsável por sete saques no valor total de R$ 4,1 milhões, no período de setembro de 2003 e julho de 2004.
O presidente do PP, deputado Pedro Corrêa (PE), tentou desqualificar as informações encaminhadas por Valério à PGR. Disse que os saques somam apenas R$ 700 mil. “Nenhum outro saque feito por Genu era de conhecimento do partido nem foi autorizado pelo partido”, garantiu, em depoimento à CPI do Mensalão. Segundo ele, Genu sacou R$ 300 mil, no dia 17 de setembro de 2003, outros R$ 300 mil, no dia 24 do mesmo mês, e, em janeiro de 2004, recebeu cerca de R$ 100 mil das mãos da diretora-financeira da SMP&B, Simone Vasconcelos.
O pernambucano frisou que o dinheiro foi usado para pagar os honorários de Paulo Goyaz, advogado de defesa do deputado Ronivon Santiago (AC), cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder econômico nas eleições de 2002. Quatro dias depois, em depoimento à CPI, Genu sustentou a mesma versão de Corrêa – a quarta apresentada pelo partido desde a eclosão da crise.
Delúbio em Brasília
A 15 dias do primeiro saque de Genu no Banco Rural, o então tesoureiro petista recebeu um telefonema de Janene em seu celular com prefixo de São Paulo. Porém, Delúbio estava longe da capital paulista. Faturas de empresas aéreas e de hotéis obtidas pelo Congresso em Foco mostram que nos dias 2 e 17 de setembro de 2003, quando ocorreram as ligações e os saques, o dirigente do PT hospedou-se no cinco estrelas Blue Tree Park, que fica a poucos metros do Palácio da Alvorada, em Brasília. Delúbio gastou mais de R$ 2 mil na viagem, tudo bancado com recursos do Fundo Partidário.
O cruzamento entre os saques feitos pelo chefe-de-gabinete de Janene e os telefonemas trocados entre o deputado do PP e o então tesoureiro do PT apontam para dois períodos de retiradas. Antes do telefonema de 2 de setembro de 2003, Janene havia discado outras 16 vezes para Delúbio. As ligações começaram há três meses. Além do saque de R$ 1 milhão, Genu fez outras três retiradas que somam R$ 600 mil até o dia 20 de janeiro de 2004.
Após o telefonema do dia 2 de setembro, Janene só voltou a discar para Delúbio cinco meses depois, no dia 17 de fevereiro de 2004. No dia 25 do mês seguinte, o chefe-de-gabinete de Janene voltou a fazer saques nas contas de Marcos Valério. Naquele dia, Genu retirou R$ 300 mil. Posteriormente o assessor do PP sacou outros R$ 2,2 milhões, em outras duas ocasiões: uma de R$ 1,2 milhão na Bônus-Banval e a segunda, de R$ 1 milhão, na agência do Banco Rural. Nesse segundo período, Janene também disparou 17 telefonemas para o ex-tesoureiro do PT.
A quebra de sigilo de Delúbio Soares mostra que o então tesoureiro do PT só retornou às ligações de Janene antes desses dois grandes períodos de saques: no dia 2 de setembro de 2003 e em 17 de fevereiro de 2004.