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Em entrevista à colunista Natuza Nery, da Folha, Delcídio se apresentou como o “profeta do caos”. “Eu não sou vilão. Eu não sou bandido. Eu sou um profeta do caos”, disse o senador. A jornalista lembra que, no filme “Batman, o Cavaleiro das Trevas”, o personagem Coringa dialoga com um rival e diz: “Introduza um pouco de anarquia. Perturbe a ordem estabelecida e você cria o caos. Eu sou o agente do caos”.
O ex-líder do governo, que se desfiliou ontem do PT, ironizou a versão de Mercadante de que procurou o assessor de Delcídio, o jornalista Eduardo Marzagão, por “solidariedade” e não para evitar que o parlamentar fizesse acusações contra o governo. “Amigo? Ele é amigo da onça! Onde ele era meu amigo? Minha história toda no Senado é de briga com ele. Todo mundo sabe disso”, contestou.
Delcídio promete voltar ao Senado na próxima semana, quatro meses após ter sido preso acusado de tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato. Alvo de processo de cassação no Conselho de Ética, o senador diz não saber como será recebido pelos colegas. “É uma incógnita, claro. Por isso que a gente tem que avaliar bem. Tem que deixar maturar um pouco. Acho que é melhor. Acho que vem tanta coisa aí, tanta confusão. Daqui a pouco já vem outra agenda…não dá tempo para respirar”, respondeu ao repórter Fausto Macedo, do Estadão.
Em sua delação premiada, Delcídio acusa a presidente Dilma e o ex-presidente Lula de tentarem interferir nas investigações da Lava Jato e de terem conhecimento de irregularidades na Petrobras. Diz, ainda, que a campanha de Dilma recebeu dinheiro desviado das obras da usina de Belo Monte. Cita vários políticos, como o vice-presidente Michel Temer (PMDB), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), entre os beneficiários de esquema de corrupção em órgãos públicos.
Todas as denúncias, segundo ele, poderão ser comprovadas no decorrer das investigações. “É preciso dizer que a minha colaboração é uma colaboração de político, não é uma colaboração de lobista, de executivo, de empresário. É uma colaboração de político. Agora, o que atesta as coisas todas que eu digo são as agendas, as viagens, é a precisão dos acontecimentos. É como eu registro no meu dia a dia. Outras situações que já fazem parte dessa investigação (da Lava Jato) vêm comprovar tudo mesmo. Como toda agenda de político eu registro tudo, datas, horários. Não tenho dúvida de que em função das agendas, dos indícios, o que é afirmado vai ser comprovado”, disse ao Estadão.
De acordo com o senador, parte dos episódios citados por ele já foi confirmada por outros delatores e sua delação foi estruturada de “maneira sistêmica”. “Ela junta as pontas e aí complementa com as outras informações. Vai ficar fácil para os investigadores trabalharem com outras informações já existentes. Uma coisa fecha com outra. As evidências todas casam com as histórias, casa tudo, horário, data e tal.”
O ex-petista diz que não tem medo de morrer, mas teme pela segurança de seus familiares. “É um negócio complicadíssimo. Eu lhe confesso que estou muito preocupado. Tanto é que isso vou conversar com os meus advogados para a gente tomar todas as precauções. Não dá para brincar, tem que tomar todas as cautelas”, afirmou.
Preso acusado de oferecer mesada de R$ 50 mil e rota de fuga ao ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró para que não fizesse delação premiada, Delcídio diz que nenhuma acusação contra ele “fica de pé”. “O processo inteiro eu não tenho nada de corrupção, nada que ficou caracterizado como um caso de corrupção na minha conduta. Isso aí para mim é muito importante. Eu aproveitei na colaboração para responder a todas as acusações que existiam contra mim. O que ficou lá foi esse negócio de caixa 2 que acabou caducando por causa dos oito anos já transcorridos. Não tem corrupção, na verdade minha colaboração é mais para testemunha. Os caras confundem, dizem que delator tem que assumir culpa. Mas, no meu caso, eu sou praticamente uma testemunha.”