Na ocasião em que a propina foi paga, Camargo atuava na Petrobras como executivo da Toyo Setal. Ele relatou que a propina foi cobrada sobre um contrato de R$ 2,4 bilhões entre a petrolífera e a Toyo, para fornecimento de coque e ácido sulfúrico para a Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no município paranaense de Araucária. Ele disse ainda que a praxe, ou a “regra”, era o pagamento de propina no valor de 1% sobre os contratos para que o negócio fosse fechado.
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“Tinha como regra 1%, mas isso aí era muito flexível, e muitas vezes [o valor] era negociado. No meu caso, sempre negociei para menor [valor], nuca para maior”, disse Camargo, ao explicar que fechou o negócio com Duque e Barusco em 0,4% do valor dos contratos com a Toyo Setal.
No depoimento, Moro e os procuradores quiserem saber o papel das três empresas de Camargo que prestavam serviço para corporações com contratos com a Petrobras. “Havia uma regra do jogo: se o senhor não pagasse propina à área de Engenharia e de Abastecimento, o senhor não teria sucesso ou não obteria seus contratos na Petrobras”, explicou o consultor, que admitiu ter atuado na intermediação de dois grandes empreendimentos da Petrobras – o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, em Itaboraí, e a Repar, mencionada acima.
Confira o depoimento em vídeo:
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Segundo Camargo, os repasses eram feitos tanto no Brasil quanto no exterior, para evitar rastreamento. As declarações do consultor foram gravadas em vídeo e adicionados a um dos inquéritos da Lava Jato, uma vez que não estão sob segredo de Justiça. Antes dele, depôs às autoridades da operação o executivo da Setal Engenharia Augusto Mendonça.
Na mesma linha de Camargo, Mendonça disse que Renato Duque recebia propinas sem que houvesse um intermediador entre ele e as empreiteiras corruptoras. O executivo da Setal disse ainda que Duque ou Barusco indicavam pessoalmente as contas a receber os depósitos de propina. Ao todo, cinco testemunhas de acusação serão ouvidas nesta terça-feira (3) em um dos processos da Lava Jato, entre elas a ex-gerente executiva Venina Velosa da Fonseca, que em dezembro revelou ter alertado a cúpula sobre esquemas de corrupção em curso na petrolífera.