Uma decisão antecipada do Federal Reserve (ou FED, o banco central norte-americano) provocou turbulências hoje (17) em bolsas de valores de todo o mundo. Dois dias antes da reunião para reavaliar a taxa básica de juros dos Estados Unidos, o FED anunciou uma redução de 0,25 ponto percentual na taxa de redesconto – juros cobrados entre bancos em operações de empréstimo –, deixando-a em 3,25% ao ano.
A essência da atual crise econômica nos EUA – o envolvimento dos bancos nos créditos imobiliários de alto risco, o chamado subprime – aumentou a tensão latente instalada há meses nos mercados mundo afora. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) abriu o dia em forte baixa (chegou à queda de 4% pela manhã). Principal índice da Bovespa, o Ibovespa registrou perdas de 3,5%, caindo a 59.810 pontos. O dólar tem ligeira valorização no dia (0,81%), cotado para a venda a R$ 1,72.
Contudo, o ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que o país está preparado para enfrentar o desfavorável contexto econômico internacional. "O país está sólido", acredita. Sobre as comparações entre a turbulência atual e a crise de 1929, que abalou profundamente a ordem econômica dos EUA na primeira metade do século passado, Mantega disse que, hoje, "instrumentos econômicos" permitem "neutralizar" os demais prejuízos.
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O principal fator do nervosismo desencadeado hoje foi a venda do banco Bear Stearns (quinto maior dos EUA) ao JP Morgan. À beira da falência, o banco foi vendido por apenas 10% de seu valor de mercado. O mercado internacional teme que a crise de crédito seja estendida a outros bancos.
Reações
Pegos de surpresa com a medida do FED, investidores consideram que o fato de ela ter sido anunciada dois dias antes da reunião, neste domingo (16), reforça a tese de que a situação econômica dos EUA é ainda mais preocupante. O FED alegou que a redução da taxa facilitaria o financiamento de instituições com escassez de recursos.
Além do anúncio de redução, o que ajudou a impulsionar o nervosismo dos mercados foram declarações do presidente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn, numa conferência em Paris. Para ele, a crise financeira terá graves conseqüências e ainda deve durar um bom tempo.
As expectativas dos analistas e investidores agora estão centradas na reunião de amanhã (18) do FED. Espera-se que o banco norte-americano corte em 0,75% ponto percentual a taxa básica de juros. (Fábio Góis)