Fake news. Traduzindo para o bom português, notícias falsas. O problema não é novo, é bem verdade, mas nos últimos tempos o assunto dominou os noticiários e a expressão já entrou para o vocabulário brasileiro e até mesmo mundial. Talvez o epicentro dessa nova onda tenha ocorrido durante as últimas eleições americanas, que até hoje seguem sob suspeição de uma suposta interferência externa, grande parte por meio de notícias falsas, boatos, distorções e outras artimanhas. De lá para cá, o tema ganhou cada vez mais relevância.
Recentemente, o presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou planos de uma reforma das leis de imprensa com o objetivo de combater a disseminação de fake news nas redes sociais — que ele considera uma ameaça à democracia. Aqui no Brasil, a direção-geral da Polícia Federal instalou um grupo de trabalho em conjunto com outros órgãos federais para discutir meios de também coibir textos falsos disseminados como notícias verdadeiras em redes sociais e em aplicativos de mensagens durante as eleições deste ano.
O problema é grave. Se desde os mais remotos tempos a mentira é usada como instrumento de poder ou de desestabilização, nos dias atuais ela foi potencializada com a rápida disseminação de informações via web. Adicione a essa equação o anonimato, por meio dos chamados perfis fakes, e temos aí uma combinação explosiva que pode gerar danos irreparáveis para pessoas, empresas, organizações e até mesmo países, além de dificultar a identificação da autoria. Em um ano eleitoral, a probabilidade que grupos organizados utilizem essas táticas com mais intensidade é muito grande e não podemos permitir que isso fique impune.
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É preciso acompanhar com atenção o grupo de trabalho montado pela PF, mas, independentemente dos resultados que forem obtidos, inevitavelmente teremos que avançar ainda mais sobre a questão nos próximos anos, pois o universo online ganha mais espaço a cada dia em nossas vidas. Buscar formas de nos comunicarmos com liberdade sem lançar mão de artifícios para atacar o outro, esse é o desafio. Sempre fui um entusiasta do diálogo franco e aberto, livre de quaisquer amarras ou coerções. Nesse cenário, no entanto, a mentira não tem lugar.
A divergência de opinião, a busca por mais de uma fonte de informação e a pluralidade de pensamento são absolutamente fundamentais em uma democracia. Temos, na condição de cidadão, um papel determinante na melhoria da qualidade do debate, seja ele virtual, seja presencial. Ao recebermos um texto, um link ou até mesmo um vídeo, precisamos sempre ter cautela ao repassar essas informações, buscando averiguar se a fonte é confiável e se não há naquele conteúdo alguma inconsistência. Especialistas dão ainda outras quatro dicas: use o bom senso e seja um pouco cético em relação ao que lê; leia a notícia completa; veja se não é notícia velha; e, por fim, não caia no alarmismo.
O fato é que o problema extrapola a esfera política e alcança todos os setores da sociedade. Pessoas já foram brutalmente assassinadas por conta de boatos espalhados na internet; reputações foram arruinadas por meio de notícias falsas, entre outros graves problemas. Mas como combater esse mal? Obviamente a resposta não é simples. Governos, entidades da sociedade civil organizada, organismos internacionais e as próprias empresas responsáveis por redes sociais terão de trabalhar juntos, debatendo, trocando conhecimentos e disseminando boas práticas, como as agências de checagem de fatos, por exemplo.
O problema é real e está posto o debate. Ainda sobre o pleito deste ano, para além de todas as ações que já estão sendo tomadas por governos e demais atores nesse processo, cada um de nós precisa fazer a sua parte para que tenhamos uma eleição pautada em propostas e não em ataques pessoais e guerra de informação, pois as maiores vítimas desse processo serão a sociedade e a democracia.