O empresário Luiz Antonio Trevisan Vedoin, sócio da Planam e apontado como operador da máfia das ambulâncias no Congresso, voltou para a cadeia nessa sexta-feira. Ele foi preso pela Polícia Federal num motel em Cuiabá (MT) e ficará detido por pelo menos um mês. Também foram presos, em São Paulo, Valdebran Padilha, ligado ao diretório do PT em São Paulo, e Gedimar Pereira Passos, ex-agente da PF e advogado do partido.
A Justiça Federal revogou o alvará de soltura do empresário a pedido da PF, que o acusou de ocultar e tentar vender provas do esquema. Luiz Antonio havia sido detido em maio, durante a Operação Sanguessuga, e libertado no mês seguinte após fechar acordo de delação premiada – detalhar o esquema em troca de redução da pena no caso de condenação. Agora, ele pode perder o benefício.
Negócio milionário
Na última quinta-feira, por volta das 23h30, a PF abordou Paulo Roberto Trevisan, primo de Luiz Antonio, no aeroporto de Cuiabá (MT) quando embarcava rumo à capital paulista com uma fita de vídeo, um DVD, uma agenda e várias fotos. Ele foi levado para a sede da PF no Mato Grosso e liberado após prestar depoimento.
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Roberto contou que se encontraria durante a madrugada dessa sexta-feira, em São Paulo, com Valdebran Carlos Padilha, que pagaria R$ 1,9 milhão pelo material. Padilha foi tesoureiro do diretório petista em Mato Grosso e auxilia nas campanhas do partido no estado paulista. Segundo Roberto, essa foi a primeira vez que Luiz Antonio tentou vender provas da máfia das sanguessugas.
Os documentos apreendidos mostram o ex-ministro José Serra (PSDB), quando ainda estava na pasta da Saúde, ao lado de ambulâncias compradas no esquema dos sanguessugas. As imagens teriam sido gravadas em 2001 na sede da Planam, no Mato Grosso. O presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), o ex-governador Dante de Oliveira, e os deputados federais Lino Rossi (PP-MT), Pedro Henry (PP-MT), e Thelma de Oliveira (PSDB-MT), também estariam no material, segundo a PF.
Prisão
A prisão de Luiz Antonio ocorreu por volta das 16h30 da tarde de ontem. No mandado, o juiz César Bearsi sustentou que a medida foi uma forma de "impedir o réu de continuar chantageando pessoas envolvidas vendendo provas". Já Valdebran e Gedimar foram detidos por volta das 18h para prestarem depoimento.
Com os dois, a PF encontrou os R$ 1,9 milhão que seriam repassados ao dono da Planam. No montante, havia R$ 1,16 milhões e US$ 519 mil. "Já sabemos que eles não souberam comprovar a origem lícita desse dinheiro", disse o delegado Geraldo Pereira, responsável pelo caso.
A polícia sustentou que as provas possivelmente seriam usadas na campanha eleitoral. Serra lidera a disputa pelo governo de São Paulo e tem como principal adversário o senador Aloízio Mercadante (PT). "Nós recebemos a informação de que Luiz Antônio estaria negociando provas com a máfia dos sanguessugas. Não sabemos se seriam partidos ou não", afirmou Pereira.
Gota d’água
A tentativa de vender provas do esquema das ambulâncias foi a gota d’água para a prisão de Luiz Antonio Vedoin. Porém, há várias semanas a PF cogitava pedir a revogação do alvará de soltura que o mantinha em liberdade.
O dono da Planam deixou a prisão depois de prestar depoimento por mais de nove dias à Justiça Federal do Mato Grosso. O empresário contou detalhes do fraude, citou nomes de parlamentares envolvidos, apresentou provas e obteve a liberdade como recompensa.
O relato, por muito tempo, foi tido como peça incontestável das investigações e baseou quase todo o trabalho da CPI dos Sanguessugas, que pediu a abertura de processo contra 69 deputados e três senadores nos conselhos de Ética da Câmara e do Senado.
Porém, após repetidas contradições, o empresário foi acusado de liberar provas à conta-gotas, de acordo com sua conveniência, e começou a perder credibilidade. Agora, Luiz Antonio, junto com seu pai, o também dono da Planam Darci José Vedoin, colocou José Serra sob suspeita.
Em entrevista publicada na Istoé deste fim de semana (leia mais) os dois relataram que o esquema dos sanguessugas, iniciado em 1998, funcionava melhor quando o tucano era ministro da Saúde, até o segundo semestre de 2002. A prisão de Vedoin foi anunciada pela PF horas depois de divulgada a reportagem, no meio da tarde desta sexta-feira.