Fábio Góis
Em sua primeira visita ao Congresso, Francisco Everardo Oliveira Silva usa terno novo, comprado “na semana passada”, como disse aos solavancos à reportagem. Rodeado de repórteres, cinegrafistas e uma equipe-muro de seguranças legislativos, Francisco mal conseguia se deslocar, e dizia frases com, no máximo, três ou quatro palavras.
“Obrigado, tô muito feliz”, limitava-se a responder o deputado eleito mais votado do país, dono de 1,3 milhão de votos, que foi impedido pelos seguranças de responder onde havia comprado o conjunto de paletó e gravata escuros. Vez ou outra o deputado do PR paulista advertia as pessoas em seu redor, quando uma escada ou pilastra se apresentavam pelo caminho. Antes, recebeu um abraço de uma senhora servidora da Câmara, ao deixar a liderança do PR na Casa.
Acompanhado do líder do PR na Câmara, Sandro Mabel (GO), Tiririca visitou dependências de Câmara e Senado, arrastando um séquito de curiosos por onde passava. Aglomerações em portas de gabinete, “congestionamento” de pessoas em corredores curtos, enfim, o transtorno causado pela presença do “palhaço mais conhecido do Brasil” mudou a quarta-feira de um Congresso que aumentava seus rendimentos. A confusão se assemelhava aos grandes protestos de entidades de classe em busca da aprovação de projetos.
Sobre o reajuste, Tiririca disse que se sentia “com sorte” por chegar ao Parlamento no dia em que foi acertado, pelos próprios parlamentares, um subsídio mensal que será de R$ 26,7 mil a partir de 1º de janeiro. Mas disse que a repercussão negativa da notícia não lhe incomodava, até porque deputados da atual legislatura é que teriam decidido pela aprovação do projeto de decreto legislativo. “Não é problema meu”, disse.
Tiririca recebia explicações de Sandro Mabel quando falou à reportagem sobre como se sentia diante de tanta mobilização – principalmente do departamento de segurança legislativa – no Congresso. “Pô, é bacana, né? É o carinho das pessoas pelos corredores. Não esperava”, declarou Tiririca, sem parar de andar, acrescentando estar “preparado” para assumir.
Mas o reajuste parece não ter muita importância para Tiririca. Dizendo ter mais quatro anos de contrato com a TV Record, ele garantiu que continuará como comediante, atividade que lhe assegura rendimentos muito mais altos. Mas enquanto estiver no exercício do mandato, disse Tiririca, terá atuação voltada para projetos na área de educação.
Encaminhando-se ao gabinete do presidente do seu partido, Alfredo Nascimento (PR-AM), no corredor repleto de imagens históricas conhecido como “túnel do tempo”, Tiririca disse que o fato de o reajuste ter sido aprovado “é bom”. Mas não soube dizer quanto receberá como deputado (fora as verbas de gabinete e demais penduricalhos). “Ainda não sei. Tô chegando agora…” E tirou uma repórter do sério, mas arrancando-lhe risos, quando devolveu a pergunta sobre se o valor está bom: “O que você acha?”, quis saber Tiririca. “Estou perguntando para o senhor”, retrucou a profissional de imprensa. “E eu estou perguntando para a senhora”, treplicou o deputado, para quem o Congresso, “pior que está, não fica”.
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