Faz 30 anos. Parece que foi ontem. Em 15 de março de 1985 seria o coroamento de uma longa caminhada com a posse de Tancredo Neves na Presidência da República. Após a longa noite do autoritarismo, o Brasil respirava novamente o clima da liberdade e da esperança. Desde 1976, quando as últimas mortes ocorreram nos porões da tortura, iniciamos nossa caminhada rumo à democracia. Os primeiros passos foram lentos. O regime militar percebeu a erosão de sua base social de sustentação e iniciou a tentativa de uma transição controlada, a abertura lenta, gradual e segura. Do outro lado, o MDB, frente democrática unificada, os movimentos sociais, as organizações da sociedade civil, como a OAB e a CNBB, lutavam pelo alargamento dos horizontes e defendiam a plataforma democrática. A síntese de nossos sonhos passava por uma anistia ampla, pela Constituinte livre e soberana e pelas eleições diretas. A inquietação nas ruas se agravava.
Conquistamos a anistia. Promovemos o maior movimento social que se tem notícia na história brasileira em torno da bandeira das Diretas Já. O Brasil se reencontrava com os brasileiros. A emenda Dante de Oliveira foi derrotada no Congresso Nacional. Mas a marcha da história era inexorável. Lançamos Tancredo Neves como candidato no Colégio Eleitoral. Tancredo, com sua sagacidade, experiência e habilidade, teceu uma sólida frente política em favor da redemocratização. Com apoio maciço da opinião pública, derrotou Paulo Maluf. Chegava ao fim o ciclo autoritário. A Constituinte e as eleições diretas para Presidente seriam consequências naturais. Registre-se que o PT se omitiu no Colégio Eleitoral e lavou as mãos em relação ao futuro do país.
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A noite de 14 de março de 1985 foi dramática. Lembro bem que comemorávamos, em Juiz de Fora, o aniversário de dois grandes amigos. De repente, a notícia aterradora caiu como bomba em nossa festa. Tancredo havia se internado na véspera de sua posse. Entrou em campo outra grande figura, Ulysses Guimarães, e diante do risco de um retrocesso, garantiu a posse do vice-presidente José Sarney.
No dia 21 de abril, data cara aos mineiros, símbolo do sonho libertário dos Inconfidentes, Tancredo Neves nos deixou, como verdadeiro mártir da redemocratização.
De lá até aqui, vivemos o maior ciclo democrático da história brasileira. Avançamos. As instituições democráticas e republicanas se fortaleceram. Nunca houve tamanha liberdade no Brasil. A cidadania foi promovida e a economia, modernizada.
Essas conquistas estão ameaçadas. O Brasil vive gravíssima crise, e um impasse se avizinha. Os valores democráticos e republicanos correm risco. Contra a corrupção institucionalizada e em defesa da democracia é que a sociedade foi às ruas ontem, como verdadeira homenagem a Tancredo, Ulysses, aos brasileiros das Diretas Já, que há 30 anos nos entregaram a liberdade como valor permanente e universal.