A recente declaração do pastor evangélico Silas Malafaia, na qual afirma que o eleitorado evangélico não vota nem em Lula nem em Sergio Moro para Presidente da República, contradiz sua posição assumida em 2006, quando apoiou ativamente a reeleição do petista. A amarga relação entre Malafaia e o PT é, na realidade, fruto de um jogo constante de casamentos – tanto com a direita quanto com a esquerda, e divórcios políticos em busca de maior autoridade, que marcam um longo jogo eleitoral praticado pelo pastor em busca de poder.
O casamento de Malafaia com o PT não começou em 2006, mas em 2002, quando o partido procurou articular com lideranças evangélicas para conseguir apoio em sua campanha. Silas Malafaia se tornou ávido defensor do governo Lula, sendo recompensado em 2003 com um posto no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, junto ao pastor Nilson Fanini.
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Malafaia permaneceu ao lado do PT até 2010, quando passou a apoiar a candidatura de José Serra (PSDB-SP). Segundo o pastor, o divórcio com a esquerda, seguido de novo casamento político com o tucano, se deu pelo fato do (até então) governador de São Paulo ter posição contrária ao projeto de lei de criminalização da homofobia, em debate no Senado.
Nos bastidores, porém, o motivo do rompimento era mais profundo: em um e-mail encaminhado à liderança do PT, Malafaia destacou que, desde o final de 2009, percebia a perda do apoio do partido em suas pautas dentro do poder Legislativo. Seu rompimento se deu por acreditar que a legenda estava deixando de lado os interesses de líderes evangélicos no Congresso Nacional.
O apoio ao PSDB , iniciado em 2010, durou até a campanha presidencial de 2014, quando o líder neopentecostal brevemente rompeu com a legenda para apoiar a candidatura de Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente de Lula e que concorria pelo PSB. Marina Silva se declara evangélica, fato muito explorado pelo pastor para pressionar a candidata em suas posições sobre pautas relacionadas à liberdade sexual e afetiva.
A participação do pastor na campanha de Marina Silva resultou em alterações constantes no discurso, por conta das divergências entre Malafaia e a ala progressista do PSB com relação aos direitos da comunidade LGBT+ e ao aborto. As constantes mudanças de opinião ajudaram a minar a popularidade da candidata, que não chegou ao segundo turno. A partir de então, Malafaia passou a apoiar o tucano Aécio Neves (PSDB-MG). “Sou Aécio desde criancinha”, declarou, à época, o volúvel líder evangélico.
Apesar de estar ao lado dos tucanos no segundo turno da corrida presidencial e se posicionar contrário desde o início à campanha de Dilma Rousseff, Malafaia não deixou de articular ao lado do PT nas eleições estaduais. No mesmo ano, apoiou a candidatura do petista Lindbergh Farias ao governo do Rio de Janeiro. O apoio não surtiu resultado, e o candidato foi derrotado nas urnas.
A influência sobre Bolsonaro
Em 2018, Malafaia rompeu de vez com o PSDB. Seu novo candidato, desta vez pelo PSL, foi Jair Bolsonaro, assíduo apoiador de pautas ultraconservadoras. O quinto casamento político do pastor se mostra muito mais estável, com suas pautas constantemente alinhadas e demonstrações de apoio mútuo, muitas vezes incondicional.
O governo de Jair Bolsonaro marca o auge da autoridade política de Silas Malafaia. Durante a CPI da Covid, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) chegou a declarar que o pastor seria um dos principais conselheiros do presidente. “Ele fala quase diariamente com o presidente, e influencia o presidente”, apontou. O nome do pastor, que tem trânsito livre no Palácio do Planalto, chegou a ser cogitado na lista de pedidos de indiciamento do relatório da CPI, por suspeitas do líder religioso fazer parte do Gabinete do Ódio.
Foi no governo Bolsonaro que Malafaia também conseguiu autoridade para apontar um ministro ao Supremo Tribunal Federal. André Mendonça, ministro indicado em 2021, foi recomendado pelo pastor por conta de sua fé “terrivelmente evangélica”. A relação entre o líder religioso e o jurista, por sinal, não passou despercebida pelo Senado Federal, tendo sido um fator de peso na demora para que fosse realizada sua sabatina.
Para 2022, o pastor acena que os laços de poder com Bolsonaro seguem firmes. Não apenas Malafaia se mostra confiante no eleitorado bolsonarista, alegando que “Ciro, Lula e Moro vão quebrar a cara com evangélicos”, como, pela primeira vez, o líder religioso conta com um presidente que não questiona sua autoridade, mantendo-o sempre próximo ao poder e defendendo incondicionalmente suas pautas.
Ao todo, Malafaia colecionou cinco casamentos políticos ao longo de 20 anos. Apenas um, com o PT, o permitiu obter participação direta na gestão pública. Outros dois: Marina Silva e Jair Bolsonaro, já deram indiretamente espaço para determinar ou influenciar pautas eleitorais. Apenas o último, porém, presta apoio incondicional ao líder religioso, tendência essa que tende a prevalecer.
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